terça-feira, 30 de agosto de 2011


FRUTOS PROIBIDOS


Dois frutos maduros, suculentos e apetitosos
Balouçam impelidos pelo arfar do colo sedutor,
Como se duas maçãs balouçassem no galho frondoso
À espera da boca atrevida do audaz galanteador.

Pássaros multicoloridos esvoaçam entorno dos frutos
Na esperança ferrenha de por eles ser eleitos à mesa farta.
Assim como eles os meus lábios também dardejam
Entorno dos frutos alvos e trêmulos - ânforas tumefactas


Possuí-los é o mesmo que possuir tesouros inauditos;
É o mesmo que possuir os astros do universo sidéreo;
É o mesmo que possuir a alma em seu obscuro mistério.


Sei que nunca os terei à mesa, pois, são frutos proibidos,
E, como tais, pertencem, sim, aos reis, imperadores e príncipes.
Frutos proibidos – seios almejados... objetos da minha estulticie.


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RODA-GIGANTE



Roda gigante que roda imitando doidos ébrios
Impelida pelos eflúvios que exalam das bocas
Que se beijam ávidas por beijos nas carícias loucas
Dadas pelos amantes sob o manto do negrume sidéreo.

Balouçam pelos ares almas e corações apaixonados
Desprendidos do perigo que paira na altura estonteante.
Oh!, criaturas, que desdenham a cautela e excitantes
Pendem para os lados e frente e explodem em doces afagos.


Bancos outrora frios e agora cálidos e aconchegantes,
Abrigam casais repletos de alegria, amor e desejos,
De um porvir risonho inundado por um oceano de beijos.


Roda-gigante que roda a despeito do meu olhar suplicante
De girar, girar e girar pelo espaço e noite do meu querer.
Roda-gigante – peço-te: gire, e não se importe como meu sofrer.




terça-feira, 23 de agosto de 2011

UMA CARÍCIA DESMEDIDA



Meus olhos a fitá-la imploravam.
Imploravam o que não sei descrever.
Só sei que tanto os meus olhos quanto o meu corpo
Imploravam.
De tanto implorar eu tinha os membros e entranhas doídos.
Doídos de uma dor que não sei descrever.
Uma dor desmedida.
A alma também implorava.
E, como toda alma, implorava, sem sentir dor.
Mas, a dor que sentíamos era envolvente e tomava conta de tudo.
Tomava conta do espaço; da noite; do dia; do vento; do silêncio e dos meus gritos.
Os meus olhos a fitá-la perdiam vida e sem vida não tinham viço.
Sem viço permaneciam vítreos e embaçados... duas miçangas sem valor.
Valor não se mede com alegria mas, sim, com dor,
Portanto, meus olhos, ou as miçangas passam a ter valor.
Sofro por implorar aquilo que talvez ela não queira me dar.
Por que temos que implorar o impossível?
É bem mais fácil almejarmos o exequível... sofremos menos.
Porém, por um século os meus olhos ao fitá-la vêm implorando num arroubo desmedido.
Implorando o que?
O que eles imploram com perseverança e magnitude ela bem o sabe.
Ela sabe dos meus anseios; dos meus desejos; das minhas aspirações... ela sabe tudo.
Os meus olhos a fitá-la imploram,
Imploram tão somente UMA CARÍCIA DESMEDIDA.

domingo, 21 de agosto de 2011

ENFIM, VOU ME CASAR!

Enfim, vou me casar!
Dia 02 de setembro às 10hs casarei. A minha consorte? Claro que é a Edna. Após um relacionamento de tantos anos, com muitas idas e vindas; com muitos amores e paixão; com momentos inolvidáveis de carinho, ternura e sedução, contrairei núpcias. Se me perguntarem se estou nervoso, respondo que não. É evidente que nesta idade ( 66 anos) se torna uma aventura ( no bom sentido) e como tal devo vivê-la em toda a sua plenitude. Sei que serei feliz e farei feliz a Edna. Após o casamento no cartório iremos para Penedo onde ficaremos até o domingo. Na segunda-feira voaremos para Buenos Aires e lá permaneceremos até o dia 09. Certamente passaremos uma Lua de Mel fantástica. Passeios nos lugares turísticos; casas de tango; vinhos e carne macia. Isto sem falar no clima ameno que tanto adoro. O Hotel em que ficaremos é maravilhoso : BISONTE PALACE HOTEL, que fica a mais ou menos 800 metros do obelisco.
Enfim, temos tudo para sermos felizes... e, merecemos!

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

PLANTIO DE ÁRVORES

Diz a boca geral do povo deste remotas eras de que um homem para ser completo; para não passar em brancas nuvens neste planeta deve fazer três coisas: Ter filhos; plantar uma árvore e escrever um livro.
FILHOS os tenho em número de 3: ALDO JR., ALEXANDRE E ANALISA.
LIVROS: tenho 11 livros editados e mais 5 para editar;
ÀRVORE: ATÉ O PRESENTE MOMENTO DEVO TER PLANTADO EM MEU MARAVILHOSO SÍTIO PELO MENOS UMA CENTENA DE ÁRVORES.
Ontem tive o privilégio de plantar mais 16 árvores; sendo 10 nativas e 6 frutíferas. Já plantei 90 mudas de ameixa. Estão uma maravilha.
No meu sítio existe uma mata nativa de mais ou menos 1 alqueire com uma variedade enorme de espécies tanto animais quanto vegetais.
Creio que posso me sentir realizado. Já fiz as três coisas que se espera de um mortal... Ah, me esqueci de que não sou mortal, pois, tenho a honra de pertencer à Academia Taubateana de Letras... portanto, sou IMORTAL.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

SOB O RITMO DE UM CORAÇÃO



Sob o ritmo de um coração
Dancei uma noite ou um século;
Quem sabe uma eternidade.
Dancei ritmos que nunca havia dançado.
Deslizei pelo salão embalado pelo som
Que se desprendia de um coração.
Às vezes eu rodopiava no êxtase de um bolero;
Ou então no ritmo frenético de um flamengo.
Não importava a melodia;
Não importava o ritmo;
Não importava a letra da música que saía de um peito.
Importava sim, bailar e bailar, até a exaustão.
A noite parecia não ter fim
E um coração pulsava freneticamente impondo o seu ritmo.
Um suor pegajoso grudava a camisa em meu corpo, porém,
Os pés teimavam em não se desprender do piso escorregadio.
Bailava subjugado pelo ritmo ininterrupto de uma orquestra
De um instrumento só... Um coração ávido e romanesco.
A madrugada silente chegou e enciumada se fez verdugo;
Verdugo de minha alma; de meus sonhos; de meus desejos.
Madrugada-verdugo que de mim não se apieda;
Amante-verdugo que de mim não tem compaixão.
Rompe a aurora e o ritmo impregna cada vez mais o salão:
Acordes maviosos se confundem com o ribombar de tambores;
Sons de violinos se evolam em espirais de misticismo;
Notas estridentes partem das trombetas douradas;
Um pulsar fremente faz arfar o busto da bela mulher.
Sob o ritmo de um coração
Vivi uma noite de excelso romantismo.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O TROPEÇO DO BEATO J. PALHARES.


J.Palhares teve uma vida normal, isto é, dentro do que se pode chamar de normalidade quando se trata de um jovem no auge dos seus dezesseis anos. Como qualquer outro adolescente de sua idade viveu o que tinha de ser vivido. Nem mais, nem menos. Frequentou os grupos de amigos e junto deles desenvolveu as suas aptidões as que não eram poucas. Ora era um excelente arqueiro debaixo dos três paus; ora era um exímio caçador de preás; às vezes desempenhava o papel de mocinho nas brincadeiras de esconde-esconde; ou então se mostrava um aventureiro pertinaz quando se tratava de roubar frutas na chácara do italiano Mussolini. De aventura em aventura foi levando sua vida até os dezoito anos quando aconteceu o fato inusitado que o fez mudar bruscamente de vida, ou seja, de costumes, modos e comportamento emocional. Até então, além de dado a molequices era um habitual namorador. Tinha se lambuzado de mel nos lábios das mais belas morenas e loiras de Pedralva. Para muitas ele era um excelente partido, embora ainda estivesse na puberdade, mas, antes cedo do que tarde. Era o pensamento das moçoilas casadoiras e sonhadoras. Tudo caminhava às mil maravilhas para Palhares. Trabalhava de ajudante na loja de armarinhos do seu tio G. Palhares. Não ganhava muito, mas, o que recebia dava e de sobra para o seu sustento e para as matinês de domingo no cine Majestic quando enchia o bolso de caramelos: mimos que dava para a namorada do momento.
Como eu disse anteriormente, tudo caminhava bem, até o dia em que conheceu Lindalva. (cont.)

domingo, 7 de agosto de 2011

UM OLHAR ATÔNITO

Quando chegou a hora de nos despedirmos eu pensei que não ia suportar tamanha dor. Tínhamos brigado e decididos que a continuidade no relacionamento era insuportável. Há muito nossas vidas tinham degringolado; caído no lugar comum. Não que eu tivesse toda a culpa. Ela também ajudou e muito a chegarmos onde chegamos. Tudo começou quando ela foi notificada pelo seu ginecologista de que não podia ter filhos. Foi uma catástrofe. Como uma lesma ela se enfurnou no silêncio carregando sobre sí uma concha que me impedia de adentrar em seu âmago. À bem da verdade eu não me importei muito com a notícia. Achei e ainda acho que o nosso relacionamento não poderia sofrer interrupção; que deveríamos nos continuar amando e tocar a vida; que a vida em comum poderia ser enriquecida com muito amor, carinho e compreensão. Mas, nada disto funcionou. A partir de então os dias e noites se tornaram um martírio. Por incontáveis vezes tentei fazê-la compreender de que o amor supera todos os incovenientes que a vida nos prepara; que o destino de nossas vidas já está traçado por "Mãos" superiores e, que devemos aceitá-lo; não com resignação, mas com bom senso. De nada adianta nos revoltarmos pois " O QUE TEM QUE SER, SERÁ!".
Era uma tarde outonal quando ela sentou-se ao meu lado no sofá e disse que precisava ter uma conversa séria comigo. A princípio pensei tratar-se de mais uma longa conversa que não nos conduziria a lugar nenhum. Me enganei. Ela estava mais determinada do que o costume e sem maiores preâmbulos me disse: " Quero ir embora para sempre! Chega! Não aguento mais viver com você sob o mesmo teto!"
Estupefato pelo vigor e rancor contido na voz e pelo estilo peremptório com que a mim se dirigiu a única reação que tive no momento foi gaguejar algumas palavras sem nexo e permanecer boquiaberto. ( Sinceramente não esperava que a decisão de romper o nosso relacionamento fosse tão rápido assim. Apenas dois meses depois da notícia de seu médico.)
Num gesto rápido ela se levantou do sofá, pegou seu bolsa e se dirigiu à porta, deixando-me prostrado; sem ação alguma.
Quando escutei o som da porta ao se fechar, levantei-me do sofá e caminhei alguns passos trôpegos pela sala. Sem destino algum fui parar frente ao aparador que ficava num canto do aposento. Lá fiquei por alguns segundos petrificado e só o que pude vizualizar de mim no reluzente espelho foi o olhar... UM OLHAR ATÔNITO.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

UM OLHAR FUGAZ

Estava eu, como sempre o fazia, às 11 horas da manhã sentado no banco da praça ao lado do coreto, frente à Matriz de São Judas, quando vi dois caminhões enfeitados adentrarem na rua principal que ladeia a citada praça. Em Platina, pequena cidade, a rua principal se inicia ao lado da praça, corta-a e sai em direção ao campo de futebol no outro extremo do município. Não possue em extensão mais de que 500 metros. Dos dois lados da via principal situam-se os comércios e os casarões; remanescentes do Brasil colonial. Em tempos idos, Platina se projetou como a capital do café. Sediou Barões, Viscondes e Duques, sem falar nos coronéis que mandavam e desmandavam nos pacatos munícipes. Hoje, sua vida é marcada pela rotina de alguns comércios de secos& molhados e de hortifrutogranjeiros. A vida social é praticamente insignificante: possui um clube que vive mais fechado do que aberto. O que realmente anima os Platinenses são as festas religiosas e as gincanas promovidas pelo Grupo Escolar "Professor Rochinha Matos".Bom, mas vamos ao que me chamou a atenção nesta manhã encalorada: os dois caminhões enfeitados que cruzaram a Av. Dr. Mariozinho Serafim Leite. Eram veículos já um pouco gastos com suas lataria amassadas; porém, traziam letreiros pintados com cores esfuziantes o que os faziam serem notados sem a mínima dificuldade. Em um deles pude ler: " CIRCO IRMÃOS BELIZÁRIOS" " A DIVERSÃO PARA TODOS" ' LEÕES, TRAPEZISTAS, EQUILIBRISTAS E O PALHAÇO JANJÃO PATOLA." Em pouco tempo a garotada fazia procissão atrás dos caminhões. Na carroceria do primeiro, sobre a jaula de um leão esquálido um palhaço arremessava ingressos para a criançada. Entre o buzinaço e o ribombar de um surdo o desfile prosseguiu até o campo de futebol. Mais tarde ficou-se sabendo que o "grandioso" circo se instalaria em Platina e aí permaneceria por 10 dias. Não deixa de ser um bem para a cidade, pensei com os meus botões, a vida vai ficar mais animada com esta atração, arrematei em meus pensamentos de admirador das artes circences. Ao me levantar para me recolher em meus aposentos caiu dos meu colo um ingresso para a noite de estréia. Bom, já era um excelente sinal de que o circo me queria como espectador.
A folhinha com a estampa de São Jorge atacando o dragão, oferta da Farmácia "Zéquinha Pedroso" marcava em vermelho( feriado) o sábado de inauguração do circo: 7 de setembro. O ano era o de hum mil, novecentos e cinquenta e oito. Eu fazia aniversário e, como presente ganhei mais quatro ingressos. Fui ao primeiro espetáculo circence do circo "IRMÃOS BELIZÁRIOS". Como era noite de inauguração o recinto estava lotado. Muitos moleques ainda tentavam entrar por debaixo da lona, mas eram rispidamente enxotados pelos seguranças. Antes do espetáculo circulavam dentre os espectadores bonitas jovens vendendo pirulito, amendoins torrados, algodão doce, dropes e balas e tantas outras guluseimas. Era noite de festa.
No picadeiro uma banda formada por 4 músicos entoavam alguns dobrados. Era uma estratégia para manter o público em paz e gastando até que o verdadeiro "espetáculo" começasse. Às nove horas em ponto soaram duas trombetas e os artistas entraram no palco, Foi um delírio geral. Palmas e assiovios estrondaram no aconhego das lonas esticadas. Durante duas horas todos ficamos absorvidos pelos números apresentados. De que eu mais gostei foi a apresentação dos trapezistas e, fiquei embevecido pela destreza e beleza da artista que liderava os outros dois. Além de linda; de um corpo prefeito, não tinha medo de voar pelos ares. Durante a apresentação não desgrudei os olhos dela e, durante os dias que antecederam o próximo espetáculo só tive pensamentos para ela. Cumpre registrar que eu tinha acabado de completar dezoito anos, portanto, estava no auge de minhas emoções, além do que era um sonhador contumaz.
Chegou o tão esperado segundo dia de apresentação. Creio que eu fui o primeiro a adentrar no recinto e ocupar a cadeira bem próxima do picadeiro. Com o coração galopante esperei o início do espetáculo. Não tive olhos para os números do palhaço, do leão e de outras apresentações. Fiquei sim, em êxtase quando o locutor anunciou o número dos trapezistas. Com o peito empolado e a voz grave vociferou: " Agora, teremos a apresentação dos irmãos Belizários... os ases do trapézio." As luzes se apagaram e quando se acenderam novamente os três artistas estavam frente à frente com o delirante público. Ela estava vestida de um maiô azul colante no corpo e trazia uma capa de veludo, também azul jogada nas costas. Em um relance ela tirou a capa e desfilou só de maiô em torno do picadeiro. Ao passar por mim pude notar com maior clareza o quanto ela era bela. Neste instante me vi terrivelmente apaixonado pela sensual e intrépida trapezista. Delirei em suas idas e vindas pelo espaço. Aplaudi como um louco às suas revoluções e senti o coração agoniado quando ela se joagava no espaço em busca das mãos seguras de seus companheiros.
Assim, por quinze noites vivi tresloucado amor. Amava a bela trapezista, embora em momento algum tenha trocado uma palavra sequer com ela. Quando voltava para casa após o término do espetáculo varava a noite e a madrugada a pensar nela. Sonhava e sonhava. Me vi várias vezes ao seu lado desfrutando de seus abraços e beijos. Muitas vezes tive polução noturna. O que fazer? Era o clamor do sexo no auge da minha idade.
Foi na última noite de espetáculo que tudo aconteceu. Estava como sempre sentado na primeira fileira quando os irmãos trapezistas se fizeram aparecer no picadeiro. Num ímpeto incontrolável me levantei da cadeira e gritei o seu nome ( já tinha perguntado para um trabalhador braçal do circo o seu nome): "ADELITA!!!!!! Quando ela ia se dirigindo para a escada que a conduziria no píncaro do circo, ela se voltou e me lançou um olhar e continuou sua trajetória. Um olhar apenas e que bastou para me fazer feliz pelo resto da noite. No dia seguinte o circo desmontou suas lonas, carregou os caminhões e partiu para sempre de Platina.
Hoje, passados cincoenta e três anos e eu completando setenta e hum anos ainda não me esqueço daquela bela trapezista e do olhar que me lançou. Estou sentado à mesa de um barzinho na bucólica Platina tomando uma cerveja e rememorando o passado, Neste mesmo lugar ficava o picadeiro do circo "IRMÃOS BELIZÁRIOS". Neste mesmo lugar em uma noite distante o primeiro e inesquecível amor de minha vida me lançou um olhar... Ainda que tenha sido um OLHAR FUGAZ.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

UM FINO GESTO

Não durou mais de que alguns segundos, mas, sem dúvida alguma foi um fino gesto. Eu estava sentado no banco do jardim da estação ferroviária de Maracatinga fazendo minha religiosa sesta após o almoço e sentado sobre as raízes tabulares de uma secular figueira remoendo dentre os molares um apetitoso pedaço de cocada quando ela passou por mim como sempre o fazia àquela hora do dia. Invariavelmente, todo dia, no mesmo horário, tanto eu quanto ela, desfrutávamos da mesma sombra da benfazeja árvore. Eu por mais tempo; ela, pelo tempo apenas de passar; de ensejar alguns passos macios e chamativos. Muitas vezes eu a comparei como uma gazela que desfila suavemente e graciosamente por dentre a vegetação verdejante da campina. Assim era ela. Porém, nesta tarde especial, aconteceu o inusitado. Estava eu absorto com os meus sonhos e pensamentos mais burlescos quando a vi caminhando em minha direção. Imediatamente refiz-me do salutar deleite e me pús de sobreaviso. (Acredito que neste momento me tornei um felino a sondar a presa.) Nada mais do que alguns segundos se passaram e ela estava à minha frente. Num relance pude notar que ela se vestia com simplicidade: um vestido de chita azul e branco cobria o corpo e um par de alparcatas calçava os pés diminutos e belos. Somente os cabelos negros e compridos dançavam impelidos pela suave aragem da tarde primaveril. Desperto da magia que a graciosa imagem após se incrustar em meus olhos tinha feito, balbuciei algumas palavras sem nexo ( acho que lhe ofereci um pedaço da cocada) e permaneci pelo tempo que durou (segundos) extasiado ou mesmo petrificado.Foi então que ela num arroubo de sensualidade, embora, carregado de timidez, levou as mãos á boca carnosa e emitiu um acanhado sorriso para em seguida assoprar-me dentre os dedos um beijo. Um beijo que chegou até mim embalado pelo sopro das asas de uma multicolorida borboleta. Fechei os olhos tendo o coração célere de emoção e, quando pude abrí-los, constatei que ela já estava distante de mim.
Sem dúvida alguma, dela, partiu um FINO GESTO.