segunda-feira, 30 de março de 2015

O RATO !


O rato surgiu do nada e nada lhe era dado; ao contrário, tudo lhe era tirado.
Ficou por mais tempo do esperado e, nunca se importunou se era ou não, benquisto.
De imediato apossou-se da cozinha e fez dela a sua morada; o seu reduto do mal(ou do bem).
Para ele, era insignificante saber da repulsa que causou no primeiro momento, na velha.
A velha que morava sozinha se viu sem mais nem menos convivendo com um rato(que odiou).
Ambos, aliás, se odiavam: o rato pelos venenos depositados nos pires; sem falar das ratoeiras;
A velha, pelo nojo que tinha das fezes pequenas e pretas depositadas nos utensílios da cozinha.
Odiando-se e desejando cada um a morte do outro, conviveram por algumas semanas, não anos.
Das seis horas da manhã até às seis horas da tarde a velha exultava com a ausência do rato.
Das seis horas da tarde até a manhã seguinte o rato exultava em saber do temor da velha para com ele.
Eram, digamos assim, como o Sol e a Lua: dois seres antagônicos vivendo a desejar a morte um do outro.
As semanas se passaram e, os dois, aprenderam a ter uma relação mais amigável; não tanto odiosa.
A velha, à noite, quando ligava a TV para assistir novelas, não se incomodava com os guinchos na cozinha.
O rato, quando se punha a roer um pedaço de queijo(derrubado por querer pela velha) não mostrava medo algum.
Uma tarde apareceu no Apê da velha um desratizador mandado pelo seu filho, Nenca, o qual foi recusado.
Uma noite, o rato se aventurou na sala e lá ficou por horas, até que a velha se levantou e foi para o quarto.
Uma manhã a velha se aventurou pela cozinha e tendo o rato como companhia, fez o seu almoço e derrubou migalhas.
O rato sem maiores delongas devorou as suculentas migalhas de frango acompanhadas de várias côdeas de pão.
Era um dia bem cinzento e frio e a velha se ajoelhou na cozinha e deixou uma manta com alguns pedaços de queijo.
Era uma noite de tempestade, trovoadas e raios e o rato se colocou aos pés da velha e lhe fez companhia.
Agora, tanto o rato quanto a velha se suportavam, a ponto de fazerem companhia um para o outro.
Uma noite a velha teve um AVC e tombou no chão e teve vário acessos de convulsão e gemeu baixinho.
Nesta noite, o rato, imediatamente se postou ao lado da velha e a lambeu, tentando lhe dar alento.
A velha, estrebuchou e revirou os olhos e viu no movimento das cortinas a morte com sua alfanje lhe fitar.
O rato, guinchou e guinchou (chorou) e desesperado foi à cozinha e embaixo do armário rasgou o envelope de veneno.
A velha, já nos últimos estertores da agonia, suplicava aos céus a morte; que não sofresse indefinidamente.
O rato, num gesto altruísta, encheu a boca de veneno e pouco a pouco foi depositando na boca da velha.
Em instantes a velha tendo a boca inundada de veneno e espuma, sucumbiu e assim, escapou da vida vegetativa.
O rato tendo constatado a morte da velha(agora,sua amiga), deglutiu com afã sementes de girassol repletas de veneno.
Era madrugada quando os dois: a velha e o rato, prostrados no chão, se tornaram cadáveres.
O filho arrobou a porta após passados alguns dias da tragédia e empalideceu pela visão fantasmagórica:
A velha e o rato; o rato e a velha unidos pela morte em um corpo só... um dia, inimigos, hoje, amigos eternos.
O rato foi jogado sem piedade no bueiro da rua suja e escura... para ele nem uma flor foi depositada.
A velha, foi sepultada num jazigo comum com flores e muito choro.
Quando todos se retiraram d cemitério só eu pude constatar o inimaginável:
A velha tinha um sorriso de felicidade quando sentiu sobre seu corpo frio um rato passear e guinchar feliz.






sexta-feira, 27 de março de 2015

ACENDER UMA VELA PRA DEUS E OUTRA PRO DIABO!



A Cultura popular é sábia em seus dizeres. Há muito tempo que ouço a expressão: Acender uma vela pra Deus e outra pro Diabo. É evidente que não é possível conseguir agradar aos dois ao mesmo tempo. Um sempre sairá prejudicado. Por exemplo: o indivíduo assume compromisso com dois políticos de partidos diferentes. Por um tempo ele vai conseguir levar os dois no papo, mas, vai chegar um momento que a máscara cai, daí... as coisas complicam para ele. E, tudo na vida é assim. Melhor é ser fiel a um compromisso; a um partido, a um senhor, do que viver andando sobre o fio de uma navalha. Nesse mundaréu de Deus tudo é descoberto. Basta ter paciência que um dia o encoberto se torna descoberto; daí, vem os arrependimentos; os choros e, muitas vezes o infortúnio por ter cometido um ato não condizente com o que se esperava de tal indivíduo. Assim é na política, na crença espiritual, na amizade, no amor, e, sobretudo, no caráter. Muitos políticos corruptos adotam este lema; muitos traidores adotam este lema... e, o que se espera deles? O abandono por aqueles que não comungam com mais esta Lei de Gerson: Tirar proveito de todas as situações.
Para não se cometer tal atrocidade é melhor descartar as velas e só usar lâmpadas. RSRSRSRSRSRS.

domingo, 22 de março de 2015

A ENCARDIDA!


Sob nós incidia a luz fria e bruxuleante da lamparina
Banhando com timidez o aposento morno e escuro
Onde num canto qualquer sobressaía um móvel nu, sem adorno:
O leito dos embates sexuais da mulher "ENCARDIDA".

Imóvel no cento do quarto e até onde a visão descortina
Pude notar finas rendas jogadas a esmo no chão sem ladrilhos
E, aos pés do leito, amarrotado jazia um lençol de linho,
Cobertura tênue da mulher-objeto: a bela "ENCARDIDA".

A paisagem podia ser pintada como se a insaciável Messalina
Estivesse repousando após um combate feroz com seu novo amante;
Ou, então, a corça presa, ferida, gemendo e exangue,
Ou, simplesmente o motivo dos meus desejos reprimidos: a "ENCARDIDA".

Num ato repentino, despido da lucidez, me atirei numa investida
Sem pedir, sem negacear, sem medir as consequências futuras,
Sobre o corpo escaldante, voluptuoso e tomado de frenética luxúria.
E, me enrosquei e me grudei na pele de cor "sui-gêneris" da "ENCARDIDA".


Era madrugada alta quando a lua projetou a sua luz prateada e fria
Atravessando as gretas da parede de barro incidindo em nossos corpos:
Foi assim, que pude compreender o porquê do apelido insólito
Que sempre acompanhou a mais bela mulher do sertão: a "ENCARDIDA".

Tinha a matiz do barro que pisoteava e, sempre, as saias erguidas
Mostrando as pernas; as coxas grossas e torneadas e o colo afogueado.
O rosto suado também tinha a nuance do barro: um modelo para Picasso...
Dentre as mulheres dos roceiros era a mais bela: a invejada "ENCARDIDA".

Assim, após me saciar no corpo de pele de estranha cor tingida,
Catei meus pertences, paguei e saí, exausto, para a labuta no campo.
Agora, como um homem saciado, um príncipe e, não, como um roceiro:
Um homem sortudo que foi o escolhido para o amor pela "ENCARDIDA".

Já, ela, rebolando as ancas sensuais, curvilíneas e oferecidas
Abriu a porteira e se foi para a sua tapera - recanto de amor
À espera do próximo roceiro que a possuiria com brandura e furor.
Nunca, mas nunca mesmo, tive em outra mulher o que tive com a "ENCARDIDA".

quinta-feira, 19 de março de 2015

ALMA ANDARILHA!

Era uma alma andarilha.
Quando a conheci estávamos perambulando por alamedas escuras, sujas e pedregosas. Eu, já estava há uma eternidade, seguindo por caminho incertos que nunca me levariam a lugar algum. Ela, pior do que eu, me confessou que estava perambulando antes mesmo dos egípcios construírem suas pirâmides. Por um tempo que não sei precisar, caminhamos juntos. Horas e horas, de cabeças baixas seguíamos sem bússola, portanto, sem norte, à procura do nada. Quando cansados procurávamos as pedras que margeavam o caminho para repousar do sono que não tinha; ela, me imitava e, sem qualquer cuidado se esparramava no pó sujo e pegajoso do leito esburacado e se cobria com a névoa da madrugada fria. Uma vez, tentei travar conversa com a minha enigmática companheira de desvelo, mas, em vão. Sempre muda, seguia à frente e, de sua boca (se é que tinha) nunca ouvi um esgar qualquer. Digamos que ela era um túmulo. Mesmo quando ao passarmos sob uma árvore ressequida, de galhos secos e tortuosos, que mais pareciam ossos de um esqueleto secular, um galho caiu sobre nossas cabeças, ela não fez nenhum comentário, enquanto eu praguejei com dois ou três palavrões.
Que nós dois tínhamos um grande problema e que o estávamos carregando às costas era indiscutível. O meu pesava mais do que uma tonelada; eu carregava dentro de uma sacola todas as decepções amorosas que tinha passado desde que senti o primeiro beijo de uma mulher na boca; todas as desilusões das promessas não cumpridas dos amores que permearam meus dias de galante sedutor; toda a traição que se abateu sobre mim, quando acreditei que "ela" me era fiel.
Já a alma, fiquei sabendo após duzentos anos passados juntos de que ela tinha saído abruptamente do corpo de uma mulher que tinha se recusado a amar e ser amada; que preferiu viver a amargura e aridez de uma vida sozinha; de que abandonou o seu grande amor por achar que ele não o merecia e, se enganou.
"Às vezes, as mulheres são imprecisas e tomam decisões impensadas", disse, sem que ela me escutasse, ou desse a mínima.
O tempo passou! O inverno chegou e os nossos corpos (o meu, já que ela parecia mais uma nuvem encardida)se enregelaram e se petrificaram em duas árvores. Um dia, talvez, mil anos depois, um terremoto nos prostrou no chão. Eu, catei os pedaços e me fiz novamente homem e saí a perambular, taciturno, furibundo e nauseabundo pelos milhares de dias sem me banhar. Ela, a alma, sem nenhum pudor se desfez das roupas (névoas ou nuvens) e para o meu espanto se transmudou em uma belíssima mulher; a mais bela que os meus olhos já tinham visto e, sem maiores preâmbulos me disse: " Andarilho, dá-me tua mão e vem comigo e, serás feliz, intensamente feliz (a primeira vez que falou). Atônito, acreditando estar vendo uma miragem, cocei os olhos; fechei e os abri vezes incontidas para então me certificar da verdade: A alma, agora, era humana... Uma lindíssima mulher.
O tempo retrocedeu como se fora a areia de uma ampulheta que sempre retorna ao bojo, quando virado, e, nos transmudou em dois seres repletos de vida. Em instantes a virilidade tomou conta do meu corpo e, em instantes nos vimos deitados em um fresca e verde relva e nos amamos, e nos possuímos com avidez e fome visceral.
Era uma alma andarilha... Agora uma mulher cheia de vida e prenhe da vida!

quarta-feira, 18 de março de 2015

DOIS ÓTIMOS LIVOS QUE INSPIRARAM FILMES!


Sim, acabei de comprar mais dois livros dos que inspiraram os filmes que concorreram ao OSCAR 2015.
São eles:
PARA SEMPRE ALICE e SNIPER AMERICANO.
Sobre PARA SEMPRE ALICE:
ALICE HOWLAND (JULIANNE MOORE) sempre foi uma mulher de certezas. Professora e pesquisadora bem-sucedida, não havia referência bibliográficaque não guardasse de cor.Ela passou a vida acreditando que poderia estar no controle,mas tudo pode mudar.
Perto dos cinquenta anos, Alice começa a esquecer. No início, coisas sem importância, até que ela se perde na volta para casa.Estresse, provavelmente, talvez a menopausa; nada que um médico não dê jeito.Mas não é o que acontece. Ironicamente, a professora com a memória mais afiada de Harvard é diagnosticada com um caso precoce de mal de Alzheimer, uma doença degenerativa incurável.
Poucas certezas a aguardam. Ela terá que se reinventar a cada dia, abrir mão do controle, aprender a se deixar cuidar e conviver com uma única certeza: a de que não será mais a mesma.
Enquanto tenta aprender a lidar com as dificuldades, Alice começa a enxergar a si própria, o marido (Alec Baldwin),os filhos e o mundo de forma diferente. Um sorriso, a voz, o toque, a calma, que a presença de alguém transmite podem lhe devolver uma lembrança - mesmo que por instantes, ainda que ela não saiba quem é. (1a. orelha do livro)
SOBRE A AUTORA:
LISA GENOVA é autora dos livros PARA SEMPRE ALICE e NUNCA MAIS RAQUEL publicados pela Nova Fronteira. Ph.G. em neurociência pela Universidade de Harvard, Genova faz palestras no mundo inteiro sobre Alzheimer,traumas cerebrais e autismo.Lisa mora com a família em Massachussets. A adaptação cinematográfica de Para sempre Alice deu a Julianne Moore o Oscar de melhor atriz.
Trata-se de um livro imperdível de ler.

SNIPER AMERICANO:
E-membro da Seals, comando da Marinha para operações especiais, Chris Kile detém o título de maior atirador de elite da história das forças armadas americanas, com mais de 150 mortes confirmadas pelo Pentágono. O ex-peão de rodeio texano, qua aprendeu a atirar indo a caçadas ainda criança, ganhou status de lenda protegendo os companheiros da Marinha, do Exército e dos Fuzileiros Navais com sua precisão mortal do alto dos telhados e de outros esconderijos. Também célebre entreos inimigos, Kyle era tão temido no Iraque que chegaram a oferecer um prêmio por sua cabeça.
Impressionante e devastador, Sniper Americano é o releto vívido de um homem e suas experiências nocampo de batalha. Chris fala abertamenmte da guerra, das duas vezes em que foi baleado e dos amigos próximos mortos com brutalidade em combate, revela detalhes da ação como atirador e fala da frieza e da precisão adquiridas ao longo dos dez anos de serviço na Marinha.
Em 2013, Chris Kyle foi assassinado a tiros por um veterano de guerra diagnosticado com trastorno de estresse pós-traumático, A história de Chris foi adaptada
para os cinemas por Clint Eastwood e estrelado por Bradley Cooper.
Chris nasceu em 1974 e morreu em 2013.
Imperdível a sua leitura.

segunda-feira, 16 de março de 2015

ADÉLIA PRADO!


Adélia Prado é uma poetisa mineira. Nasceu em Divinópolis- Minas Gerais em 13-12-1935. É autora de vários livros de poesias e de outros gêneros.
Em 1978, ganhou o prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro com o livro CORAÇÃO DISPARADO.
A seguir dois poemas consagrados da autora.

DIA

AS GALINHAS COM SUSTO ABREM O BICO
E PARAM DAQUELE JEITO IMÓVEL
_ IA DIZER IMORAL _
AS BARBELAS E AS CRISTAS AVERMELHADAS,
SÓ AS ARTÉRIAS PALPITANDO NO PESCOÇO.
UMA MULHER ESPANTADA COM SEXO
MAS GOSTANDO MUITO.


OBJETO DE AMOR


DE TAL ORDEM E TÃO PRECIOSO
O QUE DEVO DIZER-LHES
QUE NÃO POSSO GUARDÁ-LO
SEM A SENSAÇÃO DE UM ROUBO:
CU É LINDO!
FAZES O QUE PUDERDES COM ESTA DÁDIVA.
QUANTO A MIM DOU GRAÇAS
PELO QUE AGORA SEI
E, MAIS QUE PERDÔO, EU AMO.

ESPERO QUE MEUS LEITORES APRECIEM ESTES DOIS POEMAS DA CONSAGRADA POETISA ADÉLIA PRADO E, NÃO SE ESCANDALIZEM, POIS, A CRIAÇÃO LITERÁRIA É LIVRE E VÁLIDA EM TODAS AS SUA NUANCES.

domingo, 15 de março de 2015

O DESBOCADO!


Nem bem tinha chegado os feriados da Semana Santa e nós, pescadores amadores e profissionais, já vivíamos uma labuta nos preparativos da tão esperada pescaria que faríamos no Pantanal. Como todo ano, a pescaria era organizada pelo Paulo Bustamante, que, se esmerava na preparação dos anzois; dos mantimentos, das varas, enfim, do equipamento como um todo.Éramos em seis. Além do organizador viajavam eu e os companheiros Claudio, Tonico Ferraz e o Mauricio e, claro, o Vitinho, um garoto dos seus doze anos, muito inteligente e dotado de uma sorte espetacular para fisgar dourados.Era véspera da partida. A caminhonete do Paulo já estava com o barco à reboque e lotado das traias. À noite nos reunimos em sua residência para ultimar os detalhes quando fomos informados de que um novo "pescador" ia se integrar ao grupo. Ficamos curiosos em saber quem seria o destemido pescador para se aventurar conosco nos confins do pantanal. Entre um copo e outro de cerveja o Paulo nos informou que era um amigo, mais precisamente o Serafim. É evidente que as perguntas pipocaram: - Quem era ele?, Era pescador de verdade ou apenas mais um aventureiro?; tinha as traias completas ou precisaria que nós a emprestássemos?; era de boa índole? A estas perguntas o Paulo sempre rindo respondeu que nada disso importava e de que ele já estava integrado na comitiva.Assim, de seis passamos para sete. No outro dia bem cedo a comitiva zarpou de Taubaté para o pantanal em dois carros, a saber: a caminhonete do Paulo e o gol zero, do Claudio.
A travessia do Estado de São Paulo foi moleza. As estradas por que passamos estavam ótimas. De vez em quando parávamos num posto de gasolina para abastecer tanto o tanque de combustível, quanto os nossos estômagos, acompanhado de uma cervejinha, pois o calor que fazia era de lascar. Quando entramos na estrada do Mato Grosso fomos inundados de uma excitação fora do comum e cada qual começou a falar dos peixes que ia pegar: dourados, pacus, piranhas e enormes traíras.
Em Cáceres, paramos para comprar iscas: o famoso minhocoçu, uma espécie agigantada de minhoca que se enrolava nas mãos quando ia para o anzol e as escorregadias tuviras (espécie de peixe apropriada para pegar dourados). Compramos também verduras, frutas e alguns garrafões de pinga que seriam trocados por frangos, carne de jacaré e outras regalias próprias dos pantaneiros (já tínhamos feito isso em outras pescarias). Tudo começou quando saímos de Cáceres e chegamos nas cidades de Jaciara e Juscimeira. Numa delas, não me lembro, o novato na viagem,Serafim, bebeu mais do que o costume e ao se instalar na caminhonete começou a esbravejar palavrões indizíveis. No início, demos boas risadas e continuamos a viagem. O sol estava a pino. O calor era insuportável, o que aumentava a irritação de alguns (eu mesmo). Rodado algumas centenas de quilômetros e o nosso "desbocado" não parava de falar palavrões. A todo instante vociferava um "puta que pariu", "filho da puta", "caralho" (aliás, era o que não saía de sua boca), "vá tomar no cu", "boceta" e mais o que lembrava. Estávamos "putos" da vida, mas, para que a viagem transcorresse em paz, fizemos "vista grossa" na indelicadeza do novato. Já, cansados pela viagem, pelo calor insuportável e pelos palavrões guspidos da boca do Serafim, entramos no caminho de terra que ía nos levar até a fazenda à beira do rio Cabaçal onde íamos acampar. E, assim, aconteceu. Eram quatro horas da tarde quando começamos a arriar as traias do barco e dos carros, pois tínhamos que montar as barracas antes do cair da noite. Foi um azáfama danado. Cada qual cumpriu sua tarefa com prazer e, até mesmo o Serafim com seus incontáveis palavrões trabalhou com afinco. Curioso é que chegando no local à margem do belo rio ele aumentou ainda mais a sua carga de torpedos sujos.
A manhã seguinte chegou com o clarão da aurora. Às seis horas da matina eu já estava preparando o café, enquanto os demais preparavam as traias para o primeiro dia de pescaria. Alegres e esperançosos rumamos rio abaixo em dois barcos para pescar os suculentos dourados. Em meu barco ía o Paulo, o Vitinho e o Serafim.No outro barco o Marcelo, o Tonico e o Mauricio. Duas horas depois estávamos ancorados num remanso do rio, local excelente para a pescaria. O silêncio era envolvente. De quando em quando um pássaro gorgeava em uma árvore. Porém, não se passaram alguns minutos e o Serafim deu início à sua ladainha de palavrões e começou dizendo:
_ Porra, Paulo, parece que não tem peixe nesse caralho de rio.
_Calma, Serafim, calma.
_Calma, o caralho, porra, vim de longe pra não pegar nem um cacete de dourado?
_ Se você continuar esbravejando vai ser pior, exclamou o Paulo, já de saco cheio.
_ Porra, devia ter ficado em... e, ter ido na zona comer uma buça bem molhada.
_ Molhado vai ficar você se não calar a boca, falei, exasperado.
Assim, ele se portou até que resolvemos voltar ao acampamento sem pegar nenhum peixe. Estávamos sim, repletos de palavrões e mais palavrões.
O dia seguinte não foi diferente. O Serafim aprimorou os seus palavrões e até parece que virou maldição, pois nãos fisgamos nenhum peixe o dia todo.
O mesmo aconteceu com os demais pescadores. Todos estávamos de mãos vazias e além da frustração tínhamos que aguentar os infernais palavrões. O que nos salvou foram os garrafões de pinga. No primeiro dia trocamos um com dois suculentos dourados e três pacus. No terceiro dia, após fisgarmos mirrados peixes, fomos nadar no rio e cansados fomos dormir mais cedo. Lá pelas oito horas da noite levantamos e fomos jogar truco. Foi então que tudo aconteceu.
Dentro da barraca e sentados nos bancos forramos a pequena mesa e iniciamos o jogo de truco. O Serafim me escolheu para parceiro e a outra dupla foi formada pelo Paulo e Mauricio. Não tinha chegado na metade da partida quando o Serafim desembestou a falar os seus malditos palavrões: ao invés de trucar, gritava _ seus fudidos, vocês se foderam, tenho o zape; ou então: esta partida vale a buça de suas mães, ou então; quem perder vai chupar a minha rola; ou mais, vou comer o rabo de quem perder. Lá pelas onze horas deu-se o inesperado (ou esperado). O Paulo se levantou pegou um sabonete e um litro de álcool e, aproveitando o peso do seu corpanzil se atirou de encontro ao Serafim, que não suportando o seu peso caiu, esborrachado no chão de terra da barraca. Foi tudo tão repentino que não conseguimos esboçar nenhuma reação e, quando demos por nós o Paulo estava derrubando álccol na guela do Serafim e esfregando sabonete em sua língua. A contenda durou alguns segundos, mas foi o necessário para fazer o Serafim parar com seus palavrões. Desde essa noite até o dia que chegamos em... ele se absteve de qualquer palavrão. Veio mudo e taciturno. E, eu, o que fiz? Assim que saí da barraca após a lavagem bucal do desbocado, falei um enorme palavrão. Disse rindo: Puta que pariu, foi a melhor coisa que vi! Estupefato pelo palavrão, compreendi assustado que estava contaminado e, mais que depressa dirigi-me para minha barraca para me decontaminar e comecei a ler o poema épico ENEIDA do poeta romano VIRGÍLIO (I a. C.).
Pra finalizar; nos dias seguintes após o "sabão" dado no Serafim, fisgamos dezenas e dezenas de ótimos exemplares de peixes.
Hoje, às vezes, sinto saudades da pescaria com a figura conturbada do Serafim, o DESBOCADO.
N.A.
ENEIDA - poema épico que conta a saga de Eneias, um troiano que é salvo dos gregos em Troia, viaja errante pelo Mediterrâneo até chegar à península Ibérica. O poema foi publicado em 19 a. C.
VIRGÍLIO- Poeta romano. Nasceu em 15/10 de 70 a. C. em Virgílio e morreu em 21/09 de 19 a. C. em Broundisi- Itália.

15 DE MARÇO DE 2015 - O DESPERTAR DE UM SONO LETÁRGICO!


Hoje, os brasileiros acordaram de um sono letárgico de 10 anos. Durante este longo período se abstiveram de ver a dura realidade em que o nosso Brasil estava mergulhado.Dormindo, não atentaram para a voracidade dos tubarões que nadam no Congresso; nas falcatruas dos senhores de colarinhos brancos; nos "arranjos" domésticos, sempre a nós, prejudiciais, dos políticos brasileiros; dos aumentos impiedosos dos impostos, da energia elétrica, dos alimentos. Se perguntarmos a nós mesmos como vão os principais serviços públicos como a Educação, a Saúde, a Segurança Pública, O meio Ambiente, o Saneamento básico responderemos sem titubear: Estão uma porcaria, péssimos e dilapidados em seus herários. Infelizmente precisou que um bando de sicários descompromissados com o amor ao sangue brasileiro; corruptos de carteirinha; caras de pau da pior e índole ditos funcionários de carreira da Petrobras para que o Brasil despertasse. O povo brasileiro é como o elefante que não sabe a força que tem. Acorrentado com uma fraca corrente, ele permanece preso, imóvel, sem saber que a possui a força descomunal para arrebentar os grilh~es com um simples empuxo. Mas, quando o faz, se torna uma fera indomável que a todos assusta. Assim somos nós. Estamos amarrados a este governo corrupto e mentiroso por falas e promessas ardilosas; por conchavos inescrupolosos, por ilusões que não se concretizarão. Hoje, o brasileiro de todo o recanto do Brasil, desde o mais rico, até o mais pobre se livrou da amarra e como elefante feroz se posicionou nas ruas mostrando o seu descontentamento.Espero que este ato cívico sirva para sensibilizar o governo federal, estadual e municipal e, que, os políticos corruptos se acautelem, pois o futuro para eles a partir de hoje se mostra carregado de nuvens escuras.
VIVA O BRASIL!
VIVA O ATO CÍVICO EM PROL DE UMA MELHOR VIDA PARA NÓS!
AMIGOS, VAMOS À LUTA!

quinta-feira, 12 de março de 2015

O ECO!


À beira do precipício eu titubeava entre suicidar, ou não.
Não tinha mais olhos para enxergar, nem ouvidos para ouvir.
Tinha sim, a boca escancarada, inchada e seca... uma ferida aberta.
O ar, pouco, escasso e raro, saía-me dos pulmões como labaredas.
À bem da verdade eu, no momento, não era um homem e, sim, um espectro.
O precipício me atraía como a lâmpada atrai a mariposa incauta.
O vazio me fascinava como a flor fascina o belo beija-flor.
O vento me fustigava: às vezes como os cabelos da mulher; outras vezes, como chicotes.
No alto, bem no alto, dentre as nuvens um urubu voava indolente e, não me via.
Pedras eram atiradas no vazio, a êsmo, pelo vento inclemente.
Das minhas roupas esgarçadas,farrapos se desprendiam e caíam no precipício.
Algumas lágrimas me escorriam pela face e me faziam acreditar ser mortal.
Os pés escaldados pelo sol causticante teimavam em escorregar para o abismo.
Ninguém de mim se aproximou; eu era no momento a caveira que assombra.
Por inúmeras vezes tentei lançar meu grito, mesmo que hediondo, nos ares.
Nada, nada de mim, denotava um ser vivente; um ser ávido por amor.
A desilusão qual erva daninha tinha se instalado no meu ser, na minha alma.
Os ossos, sentia-os tiritarem de frio ou de medo pelo que se descortinava.
A planície bem ao longe se descortinava aos meus olhos furibundos.
Dentre as nuvens alguns raios tremeluziam anunciando breve tempestade.
Mas, o que é uma tempestade da natureza quando se tem uma tempestade no coração?
Por fim, dei um passo e me vi balançando perigosamente no vazio abissal e medonho.
Mas, antes que me atirasse no precipício dando fim à minha vida estéril, escutei:
Escutei um som grave, forte, como se fora o ribombar de um tambor;
Atentando para o som compreendi a mensagem que o meu coração estava me mandando.
Meu coração, no seu pulsar compassado e débil dizia aquilo que eu queria ouvir.
Não dizia, gritava com todas as suas forças: "Não, não, não faça esta loucura..."
E, o eco repetia: "Ela te ama... Ela te ama... Ela te ama... Ela te espera..."
Oh!, bendito eco que me livrou da morte.
Oh!, bendito eco que me libertou para o amor.
Eco... Um fenômeno só possível para quem ama e sofre por amor!



domingo, 8 de março de 2015

FILHOS DO PRAZER!... DIA INTERNACIONAL DA MULHER!

Não existe discussão: somos todos filhos do prazer.
Exceção? claro que existe.
Somos filhos do prazer, pois, nascemos para este mundo após o ato sexual, que, sabemos é inundado de prazer; de uma avalanche de endorfina que estimula o ato maravilhoso. Isto ocorre tanto no reino animal quanto vegetal. O sexo é a força maior que rege este Universo. Para os animais, o prazer se agiganta quando as fêmeas entram no cio (os machos estão sempre no cio). Já entre nós, humanos, o cio se dá através de contatos carinhosos; palavras embebidas em gentilezas; atração física; companheirismo e principalmente amor, amor em todas as suas formas e nuances. Somos filhos do prazer quando duas almas se encontram e vivenciam o clímax da sexualidade. O criador do Universo nos preparou para isso. Se o ato sexual resultasse em dor, em algo desagradável, o nosso planeta não estaria povoado como está... é a perpetuação da espécie. Entre os vegetais temos as flores que se regalam quando recebem a visita dos pássaros ou insetos polinizadores que vão sobre elas espargir as células sexuais masculinas. A vida explode em prazer quando entendemos o alto sexual como o princípiofundamental para a procriação com prazer, dos seres vivos.
Exceção?: Todo ato sexual não consentido, como o estupro em sua bestialidade. Não quero com isso afirmar que os filhos de " estupro" não sejam filhos do prazer, pois, o homem para conseguir o seu intento sente prazer, embora esteja vilipendiando a mulher. Não são filhos de 100% do prazer, mas sim, de apenas 50% de prazer.
Ainda bem que hoje, temos no Brasil o 'FEMINICÍDIO" que punirá com mais rigor os atentados contra a mulher: a flor mais bela, mais perfumada e mais desejada do jardim de nosso Universo.
Hoje, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, registro a minha admiração por este ser tão aguerrido; tão combatente; tão responsável e que nunca deixa de expressar o romantismo, a doçura, o encanto, a paixão, a abdicação e o mais importante a feminilidade: característica principal de sua existência.
Parabéns mulher mãe; mulher espôsa; mulher amante; mulher companheira, ou, simplesmente, MULHER!

sábado, 7 de março de 2015

NOITE DE AUTÓGRAFOS!


Mais uma vez obtive sucesso com o lançamento e autógrafos do meu livro SORTILÉGIOS DO AM0R - POESIAS. Mais de 200 amigos foram me prestigiar. Foi uma noite maravilhosa, com muito glamour e alegria. É muito bom estar ao lado dos verdadeiros amigos que não medem esforços para me prestigiar. Já estou trabalhando no próximo livro: GIZ, QUADRO-NEGRO E DOR, romance ambientado em fatos reais e, claro, mesclado com ficção. Terminei dois volumes e estou concluindo o terceiro. É meu propósito lançá-lo no dia 15 de outubro- Dia do Professor.
Agradeço aos meus amigos o comparecimento á Noite de Autógrafos.
Até o dia 15 de outubro.

quinta-feira, 5 de março de 2015

GENOÍNO & GENUÍNO



Enfim, fica a dúvida: Genuíno é Genoíno, ou, Genoíno é Genuíno?
É notícia de última hora: O Guerrilheiro da época de chumbo do Brasil; presidente do PT e Deputado Federal, José Genoíno, teve o perdão de sua sentença por unanimidade de sua prisão domicilar pelos Ministros do Supremo Tribunal Federal. Não é de se admirar, pois, o ex- nobre deputado já tinha se valido de outras benesses que as entrelinhas da Lei possibilitam. Eu acredito que o motivo do perdão foi a parca vida que o ex-guerrilheiro estava vivendo em sua mansão, quer dizer, casa. Me parece que após uma visita de uma certa autoridade à sua casa ficou constatado que o café da manhã era o trivial ( nada de caviar); de que o almoço era o mais simplório possível; de que a televisão não era de terceira dimensão e finalmente, que o colchão náo era King-size. Assim, o dito cujo estava pagando um preço muito alto pela sua prisão domiciliar. Recebido o indulto, pôde o beneficiado pelo "mensalão" ( uma migalha perto do escândalo da Petrobras), usufruir do livre-arbítrio de se se locomover à vontade pela cidade; desfrutar dos melhores restaurantes; pernoitar nos hotéis cinco estrelas e, claro, comer caviar às refeições nos melhores e mais chics restaurantes. Quando me lembro daquela senhora de 61 anos do Nordeste que não tinha $5.000,00 para pagar a pensão do neto, foi presa no xilindró e lá permaneceu por uma dezena de dias, até que seus amigos fizeram uma "vaquinha" e quitaram a dívida, senão, estaria presa até hoje, me pergunto: Ela teria também a benesse do indulto?, ou, por ser miserável apodreceria na prisão?
José Genoíno, ou, um genuíno expert em driblar a lei, foi preso por alguns anos por abocanhar alguns pedaços do queijo fedido do mensalão. Diferente dos Cerverós da vida, que se regalaram com o queijo delicioso e raríssimo chamado Petrobras. Se um, que roubou pouco, teve todos os benefícios da lei, imaginem estes agora, poderosos empresários de construtoras e seus asseclas que detém altíssimos cargos na Instituição.
O que me deixa feliz é a decisão que tomei: Votar nas próxima eleição para deputado no nobre vereador e palhaço profissional Tiririca, pois, pelo menos ele nos faz rir. Embora, na próxima eleição esteja com 70 anos, o que dispensa do voto, estarei às seis horas da manhã, no primeiro lugar da fila para votar no nobre deputado, pois, como bem afirmou, "do jeito que está, pior, fica".
Não deixa de ser um paradoxo: O guerrilheiro que queria salvar o Brasil, mais tarde, enfiou as mãos pelos cotovelos, para afundar o Brasil.
E, permanece a dúvida: Genoíno é ou não é Genuíno?

domingo, 1 de março de 2015

VITÓRIA DA CULTURA!


VITÓRIA!!!
Hoje, estive com o Presidente da Diretoria Executiva do Taubaté Country Club, quando tive a felicidade de ser informado de que o meu projeto solicitando a criação de uma BIBLIOTECA no Club foi consolidada. Assim, teremos o ano todo para implantá-la e se tudo correr bem começara a funcionar nos primeiros meses de 2016. Sem dúvida alguma é uma conquista ímpar, pois, como sabemos os clubes só se direcionam para atividades esportivas que desenvolvem o físico, mas nada ajudam no intelecto. Quem sabe se após esta atitude inovadora e corajosa dos dirigentes do Taubaté Country Club, outras entidades similares acompanhem o exemplo e criem BIBLIOTECAS.
Estou feliz por ter sido atendido nesta minha iniciativa.
Registro os meus parabéns ao Senhor Pedro Luis de Abreu, Presidente da Diretoria Executiva, pela coragem e visão futurista ao assinar a criação da Biblioteca no Clube que tão bem dirige.
Vamos ler, ler e ler, pois,
"UM PAÍS SE FAZ COM HOMENS E LIVROS" - MONTEIRO lOBATO.