sexta-feira, 5 de novembro de 2010

COISAS DA VIDA...

E daí? O que eu faço?
Estou novamente navegando em águas profundas e revoltas. A nau está à deriva. Se nem as minhas ilusões consigo torná-las realidade, como então, pilotar esta nau repleta de desenganos.
Desde há muito as velas estão esfarrapadas, esgarçadas, rotas e em frangalhos... são apenas fiapos de tecido que se perdem arrastadas para o vazio etéreo da noite e, mesmo assim, às vezes, em minhas horas de loucura, penso vê-las em entediantes monólogos com a Lua. Digo para mim mesmo: são miragens, nada mais que miragens, mas...
De quando em quando tento uma manobra mais audaz: um mexer sem vontade no leme, que, embarafustado pelas algas marinhas não dá a mínima ao meu comando; e a nau segue sem destino para o negrume vazio do oceano e, junto, me leva, como seu eu fora apenas um pedaço insignificante de sua estrutura: quem sabe apenas um parafuso enferrujado, ou, então, uma lasca de madeira do assoalho apodrecido... Sim, há muito que sou parte integrante do objeto que balouça sem razão de ser impelido pelas vagas violentas do descomunal senhor das profundezas e das almas naufragadas desde que se fez titã: O oceano e seus mistérios.
Do porão chega até mim os lamentos doloridos daqueles que, como eu, teimaram um dia em ser feliz... Oh!, triste engano. São poetas que uma vez apenas, nada mais que uma vez, amaram e pensaram, ser amados... poetas - seres humanos visionários -, que se evolam da materialidade para se concretizar em seres emocionais. Oh!, tolice desmedida!
Não devo reclamar dos desenganos. Como olvidá-los e odiá-los se por eles eu me fiz crédulo. Sim, acreditei nos lábios belos, túrgidos e carminados dela... Dela, de quem trago incrustrado na alma, as desilusões que me impigiu. Por que me questiono neste momento de angústia e de desespero? Acaso titubeei em entrar nesta nau, quando poderia ter recusado? Sigo apenas o que tem de acontecer, nada mais, nada menos. Às vezes, nos raros momentos de lucidez blasfemo impropérios ao Universo, mas, logo em seguida caio em mim e me desculpo ( como se o destino me desculpasse) com a frase que me mantém vivo: " Vivo uma busca incessante pelo inexistente". Estou rouco de tanto gritá-la. Um albatroz vagabundo,errante, repete minhas palavras em seus piados roucos e estridentes... No fundo do mar eu sei que um tridente está à minha espera... Por tanto tempo e pela eternidade vagarei nesta nau errante sopesando em minhas mãos esgarçadas os meus desenganos.
Mais uma vez afirmo: São coisas da vida!