quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
UM TEMPO CINZENTO!
Faz muito tempo que eu não contemplo um tempo cinzento. Para contemplar um tempo cinzento é necessário de que os olhos estejam imersos em um oceano cinzento; imersos num deserto povoado por sombras cinzentas; imersos numa tempestade de nuvens cinzentas ou, o melhor, que estejam possuídos por uma decepção extremamente cinzenta. Quando contemplamos paisagens multicoloridas emolduradas por um tempo salpicado de cores fortes, certamente a alma está sorrindo para a vida. Não se pode ter o coração e a alma imersos em torvelinhos de nuvens escuras e ao mesmo tempo contemplar o belo; isto não existe; é utopia.Viver realidades duras e palpáveis faz com que os olhos se tornem inertes para as cores. De que adianta ter frente aos olhos rosas escarlates se a alma se recusa em apreciá-las? É o mesmo que se envolver com tecidos de riqueza ímpar, mas, sabendo, de que o corpo, continua nu. É necessário estar decepcionado com alguma coisa qualquer para se ver o mundo cinzento. Hoje, acordei com a sensação de que tudo à minha volta está tingido por uma cor cinzenta. Sabendo de antemão de que o coração, a alma e as células que me compõem estão em desalinho com a felicidade, resolvi não me levantar da cama. Como uma serpente, me embarafustei dentro dos lençóis e permaneci em um silêncio nostálgico pelo tempo que me foi preciso. Se demorou ou não o meu estado letárgico não o sei precisar; só sei que depois de muito tempo voltei à vida e pude pouco a pouco contemplar o vazio em que estava imerso... um vazio não muito cinzento. Algumas manchas de cores variadas dançavam à frente dos meus olhos e, uma névoa esbranquiçada serpenteava pelo vazio do quarto procurando as frestas existentes para escapar e seguir o seu destino. Vi, após muito tempo, tudo colorido e, compreendi de que a minha decepção tinha pegado"carona" com a fumaça e se esvaiu, deixando-me um pouco mais feliz. Incrível, mas, pude visualizar no pouco que restou da névoa no quarto uma figura sensual de uma mulher, que, balançando os cabelos e acenando com as mãos de mim se despediu. Sem dúvida alguma era ela, a mulher, que estava atormentando os meus sonhos e que, sempre que tentava abraçá-la, ela se desprendia com uma graça infinda. Que decepção não poder tê-la, materializada, em meus braços. De decepção em decepção passei a contemplar tudo cinzento... Ainda bem que ela se foi para outras plagas, atormentar outro amante, que, certamente, passará a contemplar tudo cinzento.
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