NA RAVINA: INSATISFAÇÃO

Estou insatisfeito!
Feito uma pedra no caminho não consigo reagir.
Agir é o que o corpo pede, porém, a alma assim não o quer.
Quer, sim, se aprofundar cada vez mais no chão lodoso do caminho.
Caminho, como já caminhei, por caminhos que me levam a lugar algum.
Algum passante maltrapilho passa e finge que não me vê empedrado.
Empedrado sinto os membros, o coração e o cérebro embotado no marasmo.
Marasmo de quem nem sequer se importa com o zumbido das moscas.
Moscas idiotas que teimam em trazer vida para quem não tem mais vida.
Vida fútil, vazia, porém, cheia de desilusões; desamores e amarguras.
Amarguras e agruras que se somam às aspirações de quem não aconteceu.
Aconteceu de eu sair caminhando e vir parar sem saber como na RAVINA.
RAVINA que por si só é um cemitério de andarilhos de almas errantes.
Errantes que,como eu , amontoam-se como galhos ressequidos nos túmulos tórridos.
Tórridos, os meus membros suplicam para não mais andar por caminho vazios.
Vazios os olhos; vazios os órgãos; vazios os sonhos... Apenas o silêncio da RAVINA.
RAVINA... acolhe-me em tuas entranhas estéreis e desprovidas de piedade.
Piedade, Senhor Deus, socorre-me e tira-me deste lugar que não é lugar nenhum.
Nenhum consolo; nenhuma satisfação... Tudo é deserto... Não há vida na RAVINA.