A pedinte sempre sentada nos degraus da igreja
Estende a mão e suplica aos fiéis uma esmola.
Um lhe atira uma moeda; outro a moeda renega
E, passam sem se importarem com a sua história.
Faça sol ou faça chuva, ela, permanece como estátua
Na vã esperança que alguém dela se apiede; tenha dó.
Alguns pombos mais afoitos bicam suas roupas
Que mais se parecem com frangalhos... sujos de pó.
Os cabelos desgrenhados escondem a face esmaecida
Onde dois olhos esbugalhados perscrutam o vazio.
Dela só se vê as mãos pálidas e as unhas negras
Como garras de uma tigresa no ardor do cio.
Não é velha, embora o todo para isso muito contribua
Impingindo-lhe a aparência de uma alma combalida.
Tem sim, de uma jovem a sensual e tenra envergadura
Que a faz uma pedinte diferente, das, de ilusões, perdidas.
Vê-la todo dia me fez sentir a necessidade da aproximação
Tentanto, com sutileza, saber o motivo de se prestar a esmolar.
Um dia, colei-me em seu corpo envergado e fiz a interpelação:
_ Mendiga, o que a faz diuturnamente, esmolas, suplicar?
Olhando-me com os olhos injetados de medo e vermelhos,
Respondeu-me, sem antes ter as pupilas de lágrimas, marejadas:
_ Moço, se esmolo é porque a vida tem me sido um tormento;
Tem me dado pratos vazios e, me feito uma mulher desgraçada.
Ah, quanta revolta saiu dos lábios finos e rachados pelo frio
Que assolava aquela tarde de inverno, pelo vento, fustigada.
Num assomo de carinho indizível, abracei-a, e, disse, chorando:
_ Pedinte, ou que nome tenha, levante-se dessa imunda calçada.
Em prantos, ela se agarrou a mim e baixinho, balbuciou:
_ Homem de Deus, tire-me desta maldição e me dê a paz.
Hoje, a pedinte, ou melhor, Valeska, vive o que sempre sonhou:
Um lar, um homem que a ama e a ausência das malditas esmolas.
terça-feira, 18 de agosto de 2015
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