quinta-feira, 11 de julho de 2019

O CASO DAS CHUPETAS



O "Caso das Chupetas" aconteceu no meio de duas famílias moradoras de Rincão dos Anjos, município incrustado na serra dos Quatis, no Estado do Ceará. Conta-se em verso e prosa o ocorrido envolvendo tais famílias tradicionais, embora, fossem de nível financeiro e social equidistantes. A primeira família, formada pelos Cintras Coelhos, de longa dinastia no município e região, era constituída pelos genitores Ramiro Cintra Coelho e sua patroa Da. Ermelinda Cintra Coelho,genitores de oito filhos , sendo o mais velho, um jovem imberbe de dezessete anos e o temporão; um lindo garoto de ano e meio de idade. Para melhor nos situarmos nesse estranho caso, darei somente o nome do bebê, a saber, Deolindo Cintra Coelho. A segunda família em questão era formada pelos Matosos Guedes, que vinham de uma sucessão de "caipiras" que se fixaram nesse município no começo do século vinte. Tal família era constituída pelos genitores Serafim Matoso Guedes e sua patroa Da. Doralinda Matoso Guedes e pelos três filhos; sua prole, a saber: Raimundinho, o primogênito; Ritinha, a do meio e Pedrinho, o filho temporão, de apenas uma ano e quatro meses de vida.O fato teve início quando os Matoso Guedes foram convidados para a festa de aniversário do pequeno rebento Deolindo, que iria completar dois anos de vida. Como o seu pai era um fazendeiro abastado, fez questão de convidar todos os moradores do município, incluindo tanto os ricos, quanto, os pobres e claro, os políticos, bem como o farmacêutico Crispim Gonçalves.
Mesmo sendo um dos mais pobres do município, pois, sem estudo algum, Serafim, só conseguiu emprego na prefeitura municipal de limpador de rua. E, Já que sua patroa não trabalhava, vivia em constante petição de miséria e, dar conta da família estava se tornando impossível e, agora, que recebeu o convite para o aniversário, tinha que deixar de comprar alguns mantimentos, para, comprar um presente, pois, chegar de mão vazias não era o seu modo de agradecimento.
O dia tão esperado chegou e, com sua família Serafim aportou no portão de ferro do lindo casarão trazendo a tiracolo seus rebentos.Foi acolhido pela empregada, a negra Dorvalina, que, sem maiores preâmbulos os conduziu até o salão principal onde estavam, já comemorando, os Cintras Coelhos. Sentado no colo de sua mãe, no sofá principal, estava o aniversariante, o menino Deolindo. Espalhados pelo salão estavam os presentes de todo tipo. Um pouco acanhado, Serafim foi até o garoto e deu-lhe um pacote envolvido num papel de presente que representava alguns cachorrinhos. Rindo, o pequeno garoto rasgou o papel e rindo, mostrou ter adorado o simples presente: Um caminhão de madeira feito e pintado pelo Serafim. Durante a festa os seus filhos, principalmente o caçula, se regalaram com os bolos e demais guloseimas. A festa estava no auge, quando o farmacêutico Crispim, deu de presente ao garoto uma chupeta toda incrementada, que ele fez questão de dizer e, que a mesma veio do Estados Unidos, trazida pelo seu primo Adamastor, que lá viveu um bom tempo. A chupeta foi a "vedete" da festa. Assim que o garoto a colocou na boca, ela passou a piscar e a fazer um barulho, como o silvo de uma cobra. O farmacêutico explicou aos convivas que estavam admirados da inusitada chupeta, de que tanto a luz quanto o barulho era para que a criança a encontrasse, mesmo na escuridão do quarto, não chorando pela sua ausência. A festa teve o seu final quando os sinos da Matriz soaram as dez badaladas. A lua resplandecia no céu do pequeno município.
Tocando o cavalo e dando maior velocidade à charrete, Serafim, chegou sem maiores problemas à sua humilde residência. Após, colocar o cão Satanás (era todo preto), para dormir no relento, se arrumaram e foram deitar. Nessa noite e, em outras que se sucederam, quase se tornou impossível dormir pelo choro angustiado do rebento Pedrinho.
Após algumas moites mal dormidas, Serafim chegou a conclusão, pelos gestos que o filho fazia, de que, ele queria uma chupeta igual a do aniversariante. Criou-se um grave problema na família Matoso Guedes, pois, nunca o pobre homem poderia adquiri uma chupeta tão estranha quanto o era a do menino Deolindo. Cansado de passar noites e noites ouvindo as lamúrias do filho, ele, teve uma ideia , que classificou como genial. Uma noite de Lua cheia ele foi até o pasto onde ficavam os bezerros apartados de suas mães e, de cócoras ficou procurando dois insetos, a saber: grilo e vaga-lume. Eram dez horas da noite, quando ele entrou no quarto do bebê chorão; pegou sua chupeta simples, comum e, com jeito, amarrou os dois insetos em sua argola. Paciencioso como o era, esperou o menino se acalmar e então lhe pôs a chupeta na boca e, em seguida apagou a luz do lampião. O que se seguiu após deixou todos estupefatos: assim, o ambiente ficou às escuras, o grilo passou a "chilrear" e o vaga-lume a emitir a sua luz verde. Instantaneamente, Pedrinho, dando um pequeno sorriso de alegria, buscou a chupeta na escuridão e, devido ao som e luz, a encontrou com facilidade e, a colocou em sua pequena boca. A noite foi de calma em que todos puderam dormir a sono pesado.
Porém, todo caso estranho, tem algo que não cai bem e, foi o que aconteceu com o nosso Pedrinho. Na terceira noite, ele arrancou os dois insetos da chupeta e os devorou, como se os mesmos fossem duas balas de coco, a que estava acostumado, antes de dormir. Como já tinha se acostumado com a sua estranha chupeta, o sr, Serafim, teve que fazer uma criação de vaga-lumes e grilos para atender o inusitado costume gastro, do mirrado Pedrinho.
Os anos se passaram e, como consequência do estranho hábito, Pedrinho se desenvolveu mais do que os irmãos. Um dia, levado ao médico, o mesmo afirmou que, de tanto comer os insetos ele repôs toda a proteína necessária para sua vida.
Acreditem quem quiser: até o fim de sua vida, Pedrinho,calculou que devorou mais de mil grilos e vaga-lumes.
Esse estranho "caso das chupetas", que levou nosso Pedrinho a degustar insetos, aconteceu num município do Brasil e, não de um país oriental( Japão ou China).

Um comentário:

  1. Um conto muito espirituoso, característica marcante do escritor.
    Parabéns!!!!!!

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