segunda-feira, 19 de maio de 2014

A PORTA



Toda vez que passava frente à porta, estava semicerrada,
Dando passagem o suficiente para uma nêsga de luz titubeante
Que desvirginava a penumbra reinante na alcova perfumada
Onde sonhos e desejos nasciam e esmaeciam pela madrugada.


Nunca senti coragem para descerrá-la e ver os mistérios
Que lá certamente ocorriam no entra e sai de homens
Que pagavam por momentos de prazer no afã dos assédios
E, satisfeitos, saiam, após esgotarem nela, seus semens.

Raramente eu a via e tinha dela o desejo de possuí-la
Embora não tivesse a coragem para expor o meu intento
Por julgá-la frágil e pura... uma mulher sem mácula.
Ah!, ledo engano... o meu coração se fechou em tormento.


Sim, em tormento depois que a vi nua, desfalecida e ofegante
Na cama onde os lençóis se enrolavam como serpentes pérfidas
No corpo arranhado pelos dentes de infindáveis amantes
Nessa noite em que intrépido resolvi abrir a porta odiosa.


Num instante ela gargalhava; em outro,chorava amargamente
Como se a loucura tivesse se instalada em sua alcova perfumada.
Com passos largos retrocedi da enigmática e triste imagem
De uma mulher bela em sua pose, porém, tendo a alma, desgraçada.


Voltei pra o meu quarto, sem antes, porém, semicerrar a porta
Onde uma nêsga de luz penetrava sem fazer nenhum questionamento.
Afinal, o que me importava se para os homens ela era a "Messalina"?
Se para mim, apesar de tudo, ainda era do meu coração, o TORMENTO.



Nenhum comentário:

Postar um comentário