terça-feira, 28 de maio de 2013


56. A ÚLTIMA SESSÃO DECINEMA





Chegou e sentou-se na terceira poltrona da terceira fila da sala de cinema

E, recostou-se, inclinando a cabeça para trás, para melhor assistir a sessão

De cinema que em segundos se desenrolaria na tela alva, fria e enigmática

Onde homens e mulheres e casais unidos, porém, solitários, se davam as mãos...



Drama, comédia, terror, faroeste, romântico: Para ela nada disso parecia importar...

E, as luzes se apagaram e, o negrume tomou conta do recinto já que das almas

Ali enclausuradas, há muito tinha se apossado e se feito ator “superstar”.

Dentre a obscuridade um jato de luz se fez presente e desvirginou a tela imaculada.



Num relance a vida pipocou em quadros velozes e cheios de sortilégio e magia

Envolvendo numa aura ficcional as mentes e corações dos entes coadjuvantes

Que se viam ora como “mocinhos”; ora como “bandidos”; ora como reis e rainhas

Representando num átimo o que desejariam ter sido pela vida de almas errantes.



Mas, ela, nervosa e reclinada na poltrona parecia desprendida do mundo da fantasia

E, impetuosa, revolvia-se como se fora uma abelha presa na teia da pérfida aranha

Mas, a ninguém, ela chamou a atenção, mesmo porque, o filme a todos, absorvia

Em seu enredo, que se desenrolava tragicômico, indiferente, a espectadora, estranha.



Na tela cintilante a atriz se desfazia em prantos pelo “adeus” do seu querido esposo

Que, sem dó nem piedade, a deixou, estática e exangue entregue às cruéis indagações:

“ O que lhe fiz para me abandonar? “ Dei-lhe meu coração, minha vida, meu corpo.”

E, solitária, cabisbaixa cambaleou até os trilhos e se atirou no meio dos vergalhões.



As lágrimas escorriam dentre os espectadores impedindo-os de notarem o que notei:

Notei que a mulher da terceira fila e da terceira poltrona despejou o conteúdo do anel,

Que retirou do dedo médio da mão esquerda, no copo de água e o sorveu lentamente

Esboçando um sorriso débil e enigmático para em seguida cerrar os olhos... Oh céus!



Exclamei já antevendo o drama que ora se desenrolava na espectadora – atriz principal

Do filme que ela protagonizou sem que houvesse platéia – apenas eu, incrédulo, assisti.

A cortina desceu e escondeu a tela enigmática e em instantes só restou o triste final:

Esmaecida, cabeça pendida sobre o colo, ela, encenou o seu derradeiro papel de atriz...





Heroína ou não?, quem sou eu para julgar aqueles que se imolam por um grande amor

Pois, ao ampará-la em meus braços tentando sem sucesso retorná-la à existência

Deparei com um telegrama amassado em suas mãos e, ao lê-lo, tremi de pavor.

Dizia: “ Petúnia. Adeus.” E, assim, ela teve a sua “ÚLTIMA SESSÃO DE CINEMA.”









domingo, 19 de maio de 2013

OS OLHOS IRISADOS DE PETÚNIA



Os olhos de Petúnia são adoravelmente lindos.
São fontes de luz que se perpetuam por séculos.
Às vezes se transmudam em joias raras;
Outras vezes se refletem como bijuterias.
Mas, sempre, refulgem, no negrume da alcova
Como se foram dois farois a guiarem náufragos.
Amo, tê-los como lanternas, nas noites de breu,
Ou, mesmo, nas noites sem luar e estrelas...
Os olhos de Petúnia são irisados
E, por, assim serem, emitem faíscas multicoloridas.
Os olhos de Petúnia me conquistaram inexoravelmente,
Sou, deles, escravo, sempre pronto a atendê-los.
Basta uma sensual piscadela para que eu me desfaça
Em jeitos e trejeitos de um tigre no ardor do cio.
Um dia eu tive a sublime magia de fitá-los
Por horas consecutivas e, confesso, fiquei hipnotizado;
Sim, hipnotizado pelo feitiço que irradiava
E, que, tomou conta de mim, e me fez zumbi.
Zumbi, perambulei pelo quarto e pelo mundo
Mas, em nenhum lugar visitado conheci outros olhos
Que, fossem mais belos do que os olhos de Petúnia.
Nenhum deles tinha a magia... nenhum deles eram IRISADOS.
Entregue ao cansaço da procura, adormeci e quando acordei
Vi sobre mim um bela mulher me fitando com os mais belos
OLHOS IRISADOS.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

AS MÃOS DE PETÚNIA


As mãos de Petúnia além de belas são suaves, graciosas e perfumadas
Como se tivessem sido banhadas por óleos e fragrâncias intermitentes.
Quando tateiam o meu corpo deixam a pele lanhada e dolorida,
Pelas unhas enormes, que se assemelham a adagas, refulgentes.

Tê-las entre as minhas mãos é um sonho que não reluto em realizar
Embora, saiba que esse tesouro foi feito para ser conquistado,
Por amantes intrépidos e nunca por sonhadores que vivem a naufragar
No oceano impiedoso das querelas que norteiam o ser derrotado.

Trago em mim o espírito aventureiro daquele que vivem a conquistar
Plagas longínquas vertendo o sangue das veias e, nunca, o reino, surrupiar.
Sou indolente e se me curvo é pelas feridas que me causam as unhas

Quando saciado me recolho ao leito e me prostro qual presa dominada.
Assim, sou feliz e feliz penso que conquistei a mulher das mãos admiradas,
Mesmo que seja num tênue sonho... Um sonho com as mãos de Petúnia.



quinta-feira, 9 de maio de 2013

POR UMA CAIXA DE BOMBONS








A trança enrodilhada na cabeça balouçava ao sabor do vento

Quando ela corria e saltava pela grama do jardim verdejante.

Ao contemplá-la em toda a sua alegria e a sua beleza pujante

Senti que estava sendo premiado, mas, sem saber, por, quanto tempo.



Junto a ela, pássaros, borboletas e flores rendiam homenagens

Todos numa festa de raro esplendor e intenso sortilégio,

Que, também, sentindo-me, um feliz admirador, do festim régio,

Ofereci-lhe um “bouquet” de rosas vermelhas trêmulas e selvagens.



Num impulso gracioso como se fora a mais tenra corça da floresta

Pegou e se afastou de mim, que, impassível, fiquei a admirá-la

Rodopiando e cantando pulava dentre os arbustos de folhas orvalhadas

Rindo (de mim?), fazendo trejeitos como a me dizer: - calma, espera!



Incapaz de resistir a tanta sedução, embora inundada de inocência

Perguntei-lhe num ato de extrema coragem tendo a face ruborizada:

_ Que queres de mim, para me deixar tocá-la ou então pudicamente, beijá-la?

AH,AH,AH... Risadas ecoaram pelo jardim ... atônito e louco, gritei: CLEMÊNCIA!



Sim, clemência! Por favor, clemência, supliquei-lhe nervoso e em bom tom.

Como se fora uma rainha aproximou-se de mim; desfez as tranças e se fez mulher

E, num gesto atrevido carregado de excelsa malícia, disse:- Para você me ter

É simples, basta ser poeta e... me presentear com uma caixa de BOMBONS.



segunda-feira, 6 de maio de 2013




UM GRELO MOLHADO






DEITADA no leito macio adormecia, seminua,
Tendo apenas uma minúscula e atrevida calcinha
Que tapava pouco, ou, quase nada, da bela vulva
Que se projetava, como uma pérola, da concha vazia.


PETRIFICADO pela maravilhosa visão que me oferecia
E, incapaz, de produzir um gesto, num ato tresloucado
Permaneci por minutos, ou séculos, envolto na malícia
Que reinava no quarto tépido e assaz, perfumado.


DEITADA, ressonava como se fora a sensual Nefertite
Indiferente ao meu sexo túrgido: uma lança em riste
Pronto para se aprofundar no ventre idolatrado.


DO belo quadro que ora se descortinava aos meus olhos
Sobressaía, arrojado, túmido e febril do macio invólucro
Um botão, uma jóia, um diamante... O GRELO MOLHADO.



                                                                     Aldo de Aguiar
                                                                          5-5-13