sexta-feira, 7 de março de 2014

O GRILO!

A noite estava escura como breu ou como as asas da graúna,
E, bem perto de mim sapos e rãs coaxavam intermitentes
Embora, eu, encostado à porteira, onde piava a coruja,
Procurava não me entendiar com a orquestra, sem regente.

Doidas e alucinantes cigarras emitiam sons característicos,
Que, muito alegram os sertanejos quando o sol se põe à tardezinha.
Para mim, que vivia a dor de uma saudade de um penar infinito,
Sentia o coração pulsar como se fosse borboletas a voar nas florzinhas.

Perto de mim, nada mais do que a alguns passos fracos e errantes
Um grilo cricava escondido dentre a relva molhada pelo orvalho.
No momento, o cricar ininterrupto do inseto me soava gritante
Como se fora o apito de um trem que desvirgina o silêncio nostálgico.

Irritado, pelo som que teimava em ferir-me os ouvidos já feridos
Procurei dentre o breu da noite aonde estava o inseto que me desafiava.
Tropeçando em galhos, em cipós e em arbustos robustos e enegrecidos
Perambulei pelo mato como se uma força maior me impelisse para a batalha.


Sim, para mim, travaria uma batalha contra o inseto que ousava me desafiar
Com seu cricar intermitente que me irritava e me fazia ser um assassino.
Não muito longe um burro zurrava enquanto um cão ladrava para o luar
Que timidamente, tentava vencer as nuvens para que o astro ficasse luzindo.


Nem bem tinha avançado alguns passos quando um vaga-lume se pôs à minha frente,
E, como uma lanterna amiga, passou a me conduzir até aonde o grilo cricava.
O acender alternado de suas luzes me levou até uma moita de folhas rentes
Onde, extasiado, contemplei uma cena que me acompanha pelo resto da vida:


Um grilo, de proporções avantajadas, cricava, indolente para um grilo fêmea
Que, indiferente, a seu cricar (melodia sexual) o evitava, em trejeitos sutis.
Por um instante (ou um século) de joelhos esperei pela posse real e efêmera,
Dos insetos,que obedeciam à lei maior da vida: o acasalemnto de vidas febris.

Para minha sorte o vaga-lume continuou a iluminar a alcova orvalhada e fria,
Permitindo-me, ser o eleito por Deus, para ser testemunha de tão grande amor.
No brejo os sapos e rãs coaxavam quando num salto ele se pôs sobre sua rainha
E, calado, sem cricar,acasalou como somente os amantes o fazem com destemor.


Apaziguado de minha ira pelo cricar incessante, retornei à porteira onde a coruja
Piava acompanhando os sons que brotavam dos seres viventes da noite de intensa magia.
De joelhos, orei ao bom Deus e pedi que uma noite como aquela fria e soturna
Me permitisse amar se ser amado ao som de um cricar e de um vaga-lume com sua luz fria.








Nenhum comentário:

Postar um comentário