PROSEANDO & PROVANDO...DE POESIA

COMO ESQUECER DELA, OS TÃO BELOS SEIOS...

COMO ESQUECER DELA, OS TÃO BELOS SEIOS,
SE, PERENES, CONTINUAM EM MINHA MEMÓRIA.
SÃO VISÕES QUE ME ACOMPANHAM EM SUAVES ENLEIOS;
SÃO SONHOS QUE ME LEVAM AOS PICOS DA GLORIA.

SE PERFEITOS SÃO, É PORQUE DEUS, OS QUIS ASSIM:
ROSADOS, TUMEFATOS, E TRÊMULOS AOS MEUS OLHOS,
QUE DELES NUNCA SE DESPREGARAM, OH, VISÃO SEM FIM...
OH, FRUTOS MADUROS, ADOCICADOS...POMOS VOLUPTUOSOS.


QUANDO PROTEGIDOS PELO SUTIÃ PRETO,SEDOSO E RENDADO,
ATIÇAVAM-ME A COMETER GESTOS INSANOS DE PURA LUXÚRIA,
ONDE, OS MEUS LÁBIOS SEDENTOS SUGAVAM OS MAMILOS ERETOS,


NO AFÃ DE POSSUÍ-LOS, DE TÊ-LOS COMO JÓIAS INESTIMÁVEIS.
MUITAS VEZES, BEIJEI-OS, MORDI-OS, COM INCONTIDA FÚRIA.
POR UM TEMPO VIVI OS MAIS SUBLIMES ÊXTASES... INFINDÁVEIS.

PROSEANDO & PROVANDO DE POESIA ...AQUELE PAR DE OLHOS NEGROS

AQUELE PAR DE OLHOS NEGROS ME SEDUZIRAM, DEVERAS,
TORNANDO-ME UM ESCRAVO DOS RELAMPEJOS MÍSTICOS.
ORA, SE CONFUNDIAM COM AS PUPILAS RELUZENTES DAS FERAS;
ORA, SE TRADUZIAM EM ASTROS NO CÉU INFINITO.

POR ELES, VIVI UMA VIDA DE ARROUBOS E QUIMERAS,
SEMPRE À ESPERA DE POR ELES SER O ETERNO ESCOLHIDO.
FUI, UM AMANTE QUE SE DESPRENDEU DA VIDA EFÊMERA,
PARA, VIVER, ACORRENTADO, À MAGIA, DO AMOR PROMETIDO.

NAVEGUEI POR OCEANOS ONDE AS SEREIAS NÃO ME ATRAÍAM;
POR DESERTOS ONDE OS SULTÕES ERAM DESPREZADOS,
TUDO, NO INTENTO DE ME BANHAR NOS RAIOS QUE DELES SAÍAM...
SIM, FUI FIEL, SEMPRE DEVOTO À MULHER DOS OLHOS NEGROS.


MAS, QUIS O INGRATO DESTINO QUE DELES EU NÃO TIVESSE A POSSE,
QUE DELES, EU ME DISTANCIASSE, SEMPRE NUM FRÁGIL ARREMEDO.
ASSIM, TORNEI-ME UM PÁRIA, UM ESPECTRO A VAGAR PELA ESTEPE
NUA; UM APÁTRIDA E, TUDO, POR AQUELE PAR DE OLHOS NEGROS.

LÍNGUA PORTUGUESA -

ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO, INCULTA E BELA,
ÉS, A UM TEMPO, ESPLENDOR E SEPULTURA;
OURO NATIVO, QUE NA GANGA IMPURA
A BRUTA MINA ENTRE OS CASCALHOS VELA...

AMO-TE ASSIM, DESCONHECIDA E OBSCURA,
TUBA DE ALTO CLANGOR, LIRA SINGELA,
QUE TENS O TROM E O SILVO DA PROCELA,
E O ARROIO DA SAUDADE E DA TERNURA.


AMO O TEU VIÇO AGRESTE E O TEU AROMA
DE VIRGENS SELVAS E DE OCEANO LARGO!
AMO-TE, Ó RUDE E DOLOROSO IDIOMA,


EM QUE CADA VOZ MATERNA OUVI: " MEU FILHO!",
E EM QUE CAMÕES CHOROU, NO EXÍLIO AMARGO,
O GÊNIO SEM VENTURA E O AMOR SEM BRILHO.


OLAVO BILAC
RIO DE JANEIRO - 1865
RIO DE JANEIRO - 1918

SUPREMO ENLEIO -

Quanta mulher no teu passado, quanta!
Tanta sombra em redor! Mas que me importa?
Se delas veio o sonho que me conforta,
A sua vinda foi três vezes santa!

Erva do chão que a mão de Deus levanta,
Folhas murchas de rojo à tua porta...
Quando eu for uma pobre coisa morta,
Quanta mulher ainda! quanta! Quanta!


Mas eu sou a manhã: apago estrelas!
Hás de ver-me, beijar-me em todas elas,
Mesmo na boca da que for mais linda!

E quando a derradeira, enfim, vier,
Nesse corpo vibrante de mulher
Será o meu que hás de encontrar ainda...

FLORBELA ESPANCA
VILA VIÇOSA - ALENTEJO - 1894
MATOSINHOS - DOURO - 1930

CEM SONETOS DE AMOR - PABLO NERUDA

XLVIII



DOIS AMANTES DITOSOS FAZEM UM SÓ PÃO,
UMA SÓ GOTA DE LUA NA ERVA,
DEIXAM ANDANDO DUAS SOMBRAS QUE SE REÚNEM,
DEIXAM UM SÓ SOL VAZIO NUMA CAMA.


DE TODAS AS VERDADES ESCOLHERAM O DIA:
NÃO SE ATARAM COM FIOS SENÃO COM UM AROMA,
E NÃO DESPEDAÇARAM A PAZ E NEM AS PALAVRAS.
A VENTURA É UMA TORRE TRANSPARENTE.


O AR, O VINHO VÃO COM DOIS AMANTES,
A NOITE LHES OFERTA SUAS DITOSAS PÉTALAS,
TÊM DIREITO A TODOS OS CRAVOS.


DOIS AMANTES FELIZES NÃO TÊM FIM E NEM MORTE,
NASCEM E MORREM MUITAS VEZES ENQUANTO VIVEM,
TÊM DA NATUREZA A ETERNIDADE.


"Com muita humildade, fiz estes sonetos de madeira,
dei-lhes o som desta opaca e pura substância (...)"
(Pablo Neruda in Cem Sonetos de Amor)

PROSEANDO & PROVANDO DE POESIA...

NADA ME FASCINA


NADA ME FASCINA... SOU FRIO COMO O GELO
TENHO ASCO DO QUE ME OFERECEM GRÁTIS.
SOU ADVERSO ÀS COISAS QUE SE TORNAM ZELOS
SOU UMA TELA BRANCA, SEM CORES, SEM MATIZ.


VIVO ENTEDIADO NESTE UNIVERSO DE TOLICES,
ONDE PULULAM OS CRÉDULOS, COMO MOSCAS TONTAS.
SEI QUE É IMPOSSÍVEL EXCLUIR AS PARVONICES
QUE VOAM DAS BOCAS EM CASCATAS DE AFRONTAS.


NADA QUERO PARA MIM, QUE NÃO SEJA A INDIFERENÇA
MESMO RUDE, INERTE E ÁSPERA... QUE VENHA SIM!
DESEJO SER POUPADO DAS ESTÉREIS E IDIOTAS QUERENÇAS,


QUE ENGANAM E DESTROEM OS SONHOS DE TOLOS AMANTES.
OLVIDAR OS SENTIMENTOS TORNOU-SE UM LEMA PARA MIM.
NADA ME FASCINA! MESMO AGORA QUE ME SINTO EXANGUE.

PARA REFLEXÃO

" QUANDO CÉREBROS OBTUSOS SE SOBREPÕEM A CÉREBROS INTELIGENTES, AS INSTITUIÇÕES POR ELES DIRIGIDAS, TENDEM A PRODUZIR O CAOS E, FATALMENTE, ENTRARÃO EM COLAPSO"!

ALDO AGUIAR
PRAIA MARTIM DE SÁ - 17H
CARAGUATATUBA

FRENTE AO MAR AS IDÉIAS PULULAM NO CÉREBRO, COMO CABRITOS ENDIABRADOS E SUPLICAM PARA SAÍREM FLANANDO PELO UNIVERSO!

PROSEANDO & PROVANDO DE POESIA

FOLHAS SECAS



AO OUVIR O ESTALIDO DAS FOLHAS SECAS
SENDO PELOS TEUS PÉS ESMAGADAS
SENTI NO PEITO UMA SENSAÇÃO ESTRANHA
COMO SE MEU CORAÇÃO FORA PELOS TEUS PÉS PISADO.

IAS INDOLENTE PELA ALAMEDA ESCURA
SEM VOLTAR-SE UMA VEZ SEQUER.
E EU, PARADO, PENSAVA COM AMARGURA
COMO PODIA TER AMADO TANTO AQUELA MULHER.

TALVEZ, PRESSENTINDO A ENORME ANGÚSTIA
QUE ENVOLVIA-ME NAQUELE DOLORIDO INSTANTE,
DESPRENDEU-SE DO RAMO, DESNUDANDO A LUA,
UMA FOLHA SECA... UMA ALMA EM TORMENTO!

DESCREVENDO CÍRCULOS, ACARICIADA PELA ARAGEM FRIA,
CAIU AOS MEUS PÉS, SUBJUGADA PELO DESTINO.
E ENTÃO, TENDO-A TÃO INERTE, TÃO SEM VIDA,
PENSEI EM DESTRUÍ-LA EM PEDAÇOS INFINDOS!

( EM TEUS PÉS SEMPRE FUI FOLHA QUEBRADIÇA,
DESPROTEGIDO, ENTREGUE AOS TEUS CAPRICHOS DE MULHER,
AH, QUANTAS VEZES DESEJEI QUE UMA TORMENTA INCONTIDA,
DESABASSE SOBRE MIM, ARREMESSANDO-ME AO ÉTER!)

EM MEUS PÉS, TRÊMULAS ESTÁS... FOLHA QUEBRADIÇA.
EM TEUS PÉS,TRÊMULO ESTOU... ALMA SUBJUGADA.
PARA VOCÊ, A ARAGEM DA NOITE... UM SOPRO DE VIDA.
PARA MIM, UM OLHAR APENAS... UMA DÉBIL ESPERANÇA.


NÃO MAIS A VEJO, SOMENTE OUÇO OS FRACOS ESTALIDOS
DAS FOLHAS SECAS, NUM LAMENTO DOLORIDO E INCESSANTE.
FOSTE EMBORA, DEIXANDO-ME SÓ NA ALAMEDA ESCURA
TENDO AOS PÉS UMA FOLHA SECA E NO PEITO UM CORAÇÃO AGONIZANTE.


ALDO DE AGUIAR
COLETÂNEA POÉTICA
EDICOM - 1980
PG. 18

PROSEANDO & PROVANDO ...DE POESIA

MÁGOAS


AS MÁGOAS QUE HOJE SINTO
SÃO FRAGMENTOS DE DESILUSÃO.
TRAGO-AS INCRUSTADAS NO PEITO,
NO ÂMAGO DESSE DORIDO CORAÇÃO.


POR UMA VIDA TIVE SONHOS DESFEITOS,
SEMPRE, NA ÂNSIA LOUCA, DE MUITO AMAR.
ROMÂNTICO, AMEI, COM LOUCURA E DESVELO,
ACREDITANDO NUM AMOR FIEL E ÍMPAR.


TUDO EM VÃO. O AMOR NUNCA ME QUIS
E, QUANDO DE MIM SE ACERCOU, FOI VERDUGO.
PÁRIA DA FELICIDADE, VIVI, INFELIZ.

SE HOJE, LAMENTO, AS MÁGOAS QUE CARREGO,
É, PORQUE, NÃO CONSIGO ME LIBERTAR DO JUGO,
DE NUNCA TER TIDO UM AMOR ETERNO.

SONETOS DA POETISA PORTUGUESA FLORBELA ESPANCA

O NOSSO LIVRO


LIVRO DO MEU AMOR, DO TEU AMOR,
LIVRO DO NOSSO AMOR, DO NOSSO PEITO..
ABRE-LHE AS FOLHAS DEVAGAR, COM JEITO,
COMO SE FOSSEM PÉTALAS DE FLOR.

OLHA QUE EU OUTRO JÁ NÃO SEI COMPOR
MAIS SANTAMENTE TRISTE, MAIS PERFEITO.
NÃO ESFOLHES OS LÍRIOS COM QUE É FEITO
QUE OUTROS NÃO TENHO EM MEU JARDIM DE DOR.


LIVRO DE MAIS NINGUÉM! SÓ MEU! SÓ TEU!
NUM SORRISO TU DIZES E DIGO EU:
VERSOS SÓ NOSSOS MAS QUE LINDO SOIS!


AH, MEU AMOR! MAS QUANTA, QUANTA GENTE
DIRÁ, FECHANDO O LIVRO DOCEMENTE:
" VERSOS SÓ NOSSOS, SÓ DE NÓS OS DOIS!..."



EU


ATÉ AGORA EU NÃO ME CONHECIA.
JULGAVA QUE ERA EU E EU NÃO ERA
AQUELA QUE EM MEUS VERSOS DESCREVERA
TÃO CLARA COMO A FONTE E COMO O DIA.


MAS QUE EU NÃO ERA. EU NÃO O SABIA
E, MESMO QUE O SOUBESSE, O NÃO DISSERA...
OLHOS FITOS EM RÚTILA QUIMERA
ANDAVA ATRÁS DE MIM... E NÃO ME VIA!


ANDAVA A PROCURAR-ME - POBRE LOUCA ! -
E ACHEI O MEU OLHAR NO TEU OLHAR,
E A MINHA BOCA SOBRE A TUA BOCA!

E ESTA ÂNSIA DE VIVER, QUE NADA ACALMA,
É A CHAMA DA TUA ALMA A ESBRASEAR
AS APAGADAS CINZAS DA MINHA ALMA.

FLORBELA ESPANCA TEVE UMA VIDA BREVE E AGITADA E INTENSA. NASCEU A 8 DE DEZEMBRO DE 1894, EM VILA VIÇOSA, NO ALENTEJO, TENDO SE SUICIDADO EM MATOSINHOS EM 1930, NO DIA DO SEU ANIVERSÁRIO.