quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019
CEM SONETOS DE AMOR - PABLO NERUDA
XLVIII
DOIS AMANTES DITOSOS FAZEM UM SÓ PÃO,
UMA SÓ GOTA DE LUA NA ERVA,
DEIXAM ANDANDO DUAS SOMBRAS QUE SE REÚNEM,
DEIXAM UM SÓ SOL VAZIO NUMA CAMA.
DE TODAS AS VERDADES ESCOLHERAM O DIA:
NÃO SE ATARAM COM FIOS SENÃO COM UM AROMA,
E NÃO DESPEDAÇARAM A PAZ E NEM AS PALAVRAS.
A VENTURA É UMA TORRE TRANSPARENTE.
O AR, O VINHO VÃO COM DOIS AMANTES,
A NOITE LHES OFERTA SUAS DITOSAS PÉTALAS,
TÊM DIREITO A TODOS OS CRAVOS.
DOIS AMANTES FELIZES NÃO TÊM FIM E NEM MORTE,
NASCEM E MORREM MUITAS VEZES ENQUANTO VIVEM,
TÊM DA NATUREZA A ETERNIDADE.
"Com muita humildade, fiz estes sonetos de madeira,
dei-lhes o som desta opaca e pura substância (...)"
(Pablo Neruda in Cem Sonetos de Amor)
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