quinta-feira, 2 de maio de 2019
XXXIII - EMBRIAGUEM-SE
É preciso estarem sempre embriagados. Aí é que tudo está: esta é a única questão. Para não sentirem o horrível fardo do Tempo que lhes quebra os ombros e recurva o dorso, precisam embriagar-se sem tréguas.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à sua guisa.
Mas, embriaguem-se.
E se, de vez em quando, vocês acordarem na escada de um palácio, na relva verde de uma vala ou na morna solidão do seu quarto, tendo a embriaguez já diminuído ou desaparecido, perguntem ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo que fala, perguntem que horas são, e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responder-lhes-ão: "É hora de embriagar-se! Para não serem escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem parar! De vinho, de poesia ou de virtude, à sua guisa".
O SPLIN DE PARIS; PEQUENOS POEMAS EM PROSA
CHARLES BAUDELAIRE
MARTIN CLARET - 2010
PG. 96
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