segunda-feira, 11 de abril de 2011

O MAGAREFE

Terêncio Tibúrcio de Lins nasceu em Pedralva na década de 50. Filho único teve sempre os cuidados extremosos de seus pais e das Tias ( duas) que viviam sob o mesmo teto. Não era uma família rica e nem mesmo abastada. Trabalhava-se o necessário para viver com honra e respeito pelos demais moradores da bucólica cidade. Aos sete anos ingressou no "GRUPO ESCOLAR ZITO CARDOSO" e, lá estudou até a quarta série. Sempre um bom aluno. Dentro da média chegou até o último dia escolar e recebeu de seu professor Juquita o "DIPLOMA" com um certificado todo desenhado nas bordas de "HONRA AO MÉRITO" por boa conduta. Nunca teve advertência, suspensão ou qualquer outro tipo de reprimenda. Agora, concluinte do primeiro grau e já chegado aos dez anos enfrentou o dilema de mudar-se para a cidade vizinha de Barrancas onde podia fazer a admissão e entrar no ginásio ou continuar em casa, sob o mesmo teto dos seus familiares e, claro, sem continuar os estudos. Foi um período difícil para ele, pois, como bom aluno e estudioso o mais certo era ir embora e prosseguir no estudo secundário, mas, a dor de ficar longe dos seus entes queridos também pesou e muito na balança. Assim é que, optou por ficar ao lado dos seus... ora, pensou: " Posso adiar meus estudos por alguns anos." E, assim o fez. Seu pai ,Tibúrcio Terêncio Lins, era um homem avantajado e vermelho, denotando possuir sentimentos coléricos. Tinha um vozeirão que assustava os menos intímos em seu convívio, mas, na verdade mesmo era um carneiro de tão dócil. Sempre solícito, atendia a todos os amigos que dele precisavam de um favor; nunca olhou para a hora de que era solicitado... o seu lema era: " Amigo é para todos os momentos!" Tinha ele uma devoção especial para sua família. Da mesma forma amava sua mulher, o filho e suas duas irmãs. Nunca em ocasião alguma fez distinção deste ou daquele; todos se enfurnavam debaixo de seus braços protetores e, ai daquele que ousasse mexer com um deles. Da mesma maneira que era dócil podia em questão de instantes pela sua família virar um touro em investida cega. É claro que isto só acontecia depois de ouvir os dois lados. Dona Matilde Ferraz Lins, a genitora do nosso querido Terêncio tinha a compleição franzina, embora dirigisse o lar com mãos de ferro. Tinha o hábito de trazer os cabelos pretos e longos em forma de "coque" no centro da cabeça. "É mais higiênico", respondia, quando alguém lhe perguntava por que não mantinha os cabelos soltos. Junto com as cunhadas trazia a casa em ordem: as roupas lavadas, passadas e cerzidas e, a horta, resplandecente de suculentas hortaliças. Bem pouco ou quase nunca pedia ajuda para seu adorado filho, que, por isto, passava a maior parte de seu tempo brincando com seus amiguinhos: jogava bola de gude; praticava triângulo nos terrenos moles e úmidos; empinava pipa; jogava "amarelinha" com as meninas e do que mais gostava: correr atrás das varetas dos foguetes aos sábados durante as comemorações dos "gols" no campo de futebol, ao lado do rio Piracaí. Dona Matilde foi sempre uma exímia cozinheira e, toda vez que tinha oportunidade se gabava do seu "frango com quiabo", que, aliás, era o prato favorito do marido e do moleque ( tratamento que as tias davam ao pequeno Terêncio). As tias, Eufrázia e Ernestina, ambas já maduras e solteiras se desdobravam em auxiliar nas labutas do dia a dia da família Lins. Sim, as duas solteiras. Não se sabe com certeza o que as levou a optar pelo celibato. Algumas línguas ferinas da pequena cidade dizem que foi por amor não correspondido a dois artistas do circo " Casca Grossa", Genival e Gervásio; o primeiro trapezista e o segundo palhaço quando o "toldo" se ergueu na praça da Matriz num sábado qualquer de um mês qualquer do ano de hum mil, novecentos e cincoenta e dois. Também, outras línguas não tão ferinas afirmam que optaram pela solidão para fazer companhia ao irmão Tibúrcio... qualquer que seja o motivo o certo é que até os dias de hoje, continuam solteiras ( eu as conheci recentemente). Assim, caro leitor, você já teve um prévio conhecimento da família Lins, portanto, poderá entender com mais facilidade o que se sucedeu quando o nosso moleque Terêncio, agora homem feito, viveu e "passou" sob o luar prateado e o céu estrelado da simpática PEDRALVA. Bom, deixemos de delongas e vamos aos fatos: Terúrcio ( a partir de agora vamos chamá-lo pelo seu apelido TERÚRCIO: ajuntamento das palavras TERÊNCIO COM TIBÚRCIO dando TERÚRCIO pela garotada do bairro onde moravam) já tinha completado treze anos quando o seu pai se fez proprietário do único açougue da cidadezinha que levava o imponente nome de " AÇOUGUE TOURO SENTADO". Cumpre esclarecer que o antigo proprietário era fanático por leitura de "GIBIS", principalmente do "ZORRO", donde tirou o nome do açougue de um "chefe indío" personagem do número... da deliciosa coleção que guardava com carinho e esmêro em uma das gavetas do balcão ensebado. Agora, com o comércio de carnes a afins indo de vento em popa, Terúrcio, foi chamado pelo genitor para ajudá-lo nas lides carnais ( no bom sentido), principalmente nos fins de semana quando o movimento duplicava ou até triplicava, Nestes dias ele deixava as brincadeiras de lado e madrugava; chegando sempre junto com seu pai no açougue. Debaixo do braço, a tiracolo levava o embornal com o almoço e café da tarde que sua mãe preparava com bastante amor. Geralmente ela embrulhava a marmita e a garrafa de café com jornal: desta maneira os petiscos ficavam quentinhos e, ele os deglutia com a fome própria de adolescente. Quando comprou a Casa Comercial, o ex-proprietário acordou com o seu Tibúrcio de que ficaria mais uns dias ensinando-o a lidar com o animal estrebuchado sobre o balcão. Assim é que lhe ensinou a cortar todos os pedaços sem que nada fosse estragado e, também lhe ensinou com maestria a dar corte nas facas e afiar os ganchos onde os pertences da rês ficaria pendurado em exposição. Sempre calado, porém com todos os sentidos afiados, Terúrcio também aprendeu os segredos que o tornariam pelo tempo necessário um excelente açougueiro. Tempo vai, tempo vem e a vida dos Lins prosseguia sem maiores surpresas ou algo que chamasse a atenção dos Pedralvenses; algo que fosse comentado durante a liturgia da missa das sete aos domingos. Mas, a vida é cheia de surpresas e, quando menos se espera... Foi numa quarta -feira de cinzas. O carnaval tinha sido o mais alegre e movimentado dos últimos tempos. Terúrcio tinha acabado de completar os vinte e um anos. Agora, moço vistoso, era visto pelas moças casadoiras de Pedralva como um dos melhores pretendentes às núpcias. Era cotejado pelas "mariquinhas e maricotas"; "loiras e morenas"; "gordas e magras" e, claro: "ricas e pobres", mas, tinha a certeza em seu coração de que o melhor para ele já estava reservado pelo destino, além, do que, suas tias não cansavam de preveni-lo "das armadilhas de que o coração é capaz de pregar" e de que " confiar nas mulheres é o mesmo que confiar nos ventos que antecedem as tempestades". Tudo isto contado e recontado pelas tias e somado à tragédia da morte abrupta de seu pai, vítima de um enfarte fulminante após o término do baile de carnaval da terça-feira gorda, o fez se distanciar e muito das diretas e indiretas que elas lhe jogavam; sempre que podiam.Agora era o esteio da família. Sua mãe pela tragédia que se abateu em seu lar passou a se alienar de tudo em sua volta. A casa ficou por conta de suas tias e, diga-se de passagem; cada vez mais neuróticas. Coube a ele por direito e por obrigação assumir o açougue "Touro Sentado". E, o fez, com galhardia e responsabilidade. Em pouco tempo a freguesia aumentou ( principalmente de lindas senhoritas) e, a abundância se instalou na vida de Terúrcio. Agora, já homem feito, tratava a todos com cortesia e habilidade no palavreado. Embora tivesse parado de estudar, manteve o hábito de ler tudo o que vinha a ter em suas mãos: lia jornais novos e velhos que depois usava para embrulhar os cortes de carnes; lia revistas em quadrinhos e de informações e cultuou o hábito saudável de escutar todo dia impreterivelmente a " HORA DO BRASIL" , no rádio de marca Teleoto, que tinha ganhado de presente no seu aniversário de maioridade. Tinha também guardado a sete chaves um dicionário e dele fazia vistas quando o movimento de fregueses permitia. Muitos Pedralvenses o procuravam para saber o significado desta ou daquela palavra; ele sempre gentil explicava com paciência e quando não sabia, procurava no dicionário. Também, enriqueceu o seu vocabulário lendo clássicos da literatura brasileira e mundial. Assim é que não era raro vê-lo com " OS MISERÁVEIS" de Victor Hugo; "A DAMA DAS CAMÉLIAS " de Alexandre Dumas, ou "HARPA SUBMERSA" de J.G. de Araújo Jorge; ou "CAPITÃES DE AREIA" de Jorge Amado; ou "OS LUSÍADAS " de Camões; "DOM CASMURRO" de Machado de Assis, etc.. Contou-me uma sua ex-namorada de nome Petùnia que quando ambos namoravam ele tentou ler a "ODISSÉIA" de Homero, mas que não chegou a concluí-lo por necessidade de se dedicar mais ao açougue. Terúrcio ia de vento em popa no seu comércio de carnes e afins até que... Até que conheceu a morena DURVALINA e, como num passe de mágica, tudo degringolou. Mas, vamos por parte. Não é com muita sede que se chega ao pote. Durvalina, morena dos seus vinte e dois anos tinha acabado de chegar em Pedralva para morar numa fazenda de criação de gado que seu pai tinha comprado de um fazendeiro qualquer ( não importa o nome). Invariavelmente ia todo o domingo na missa das oito horas da manhã e após permanecia na cidade na casa de sua amiga Clarice. Durante o dia percorria os vários logradouros da pacata cidade; sempre ostentando o seu porte belo e cativante. Tinha os olhos amendoados e a tez ligeiramente cor de jambo. Os cabelos escorriam soltos pelos ombros e costas, mas, sempre penteados com esmero. A ninguém dava bola. E, muitos jovens sonhavam em tê-la em seus braços... muitos somente o conseguiram em sonhos. Como no amor tudo acontece como se fosse um conto de fadas, Durvalina, conheceu e se apaixonou de pronto pelo nosso querido Terúcio. E, tudo aconteceu da maneira mais simples; mais corriqueira. Uma bela manhã de domingo Durvalina e sua amiga Clarice foram até o açougue buscar uma encomenda de pernil feita na véspera pelo anfitrião da bela morena. Lá, chegando, enquanto a amiga se ocupava com a mercadoria ela pregou os olhos de supetão nos olhos castanhos e mortiços do jovem vendedor. Digamos que passou entre ambos uma fagulha elétrica que os deixaram emudecidos e atônitos. Para cada um o amor tinha acontecido; tinha estourado como as borbulhas do champanhe estouram quando caem no cálice de cristal. Gaguejando, Terúcio perguntou o nome da estranha moça, já que não a tinha conhecido até então. Com o rosto afogueado ela também gaguejou e respondeu: Dur - va- li - na... e se recolheu dentro de sua timidez. Dias se passaram e claro, noites também se passaram e cada qual não deixava de pensar no outro. Do primeiro olhar para um compromisso mais sério foi um repente. Cinco meses após o primeiro encontro no açougue comemoraram com festividades o noivado e dali para o casamento foi um estalar de dedos. Casado e com a responsabilidade aumentada, Terúcio se desdobrava mais do que nunca no seu comércio de carnes a afins. Sempre reservava um dia da semana para sair pelos sítios e fazendas na compra de bois, porcos e aves. Nestas ocasiões deixava a bela esposa tomando conta do estabelecimento, embora ela não lidasse com os cortes; tinha um rapaz que fazia todo o serviço. A ela cabia somente adminstrar os dividendos que entravam. Nesta feliz rotina foram vivendo e cada qual se sentia o mais feliz do planeta Terra. Terúcio sempre que podia lia seus livros favoritos: tinha ficado sócio do "CIRCULO DO LIVRO" e, todo mês recebia uma nova obra para o seu deleite. A vida lhes era promissora. Nada parecia que teria a força ou malignidade de quebrar este encanto... Nada!... mas, o que é o "NADA" perante a grandiosidade do "TUDO?" Num mês qualquer num ano qualquer da década de setenta chegou para se instalar como Dentista em Pedralva o jovem Doutor Juvenal Aparício Guedes. Chegou e se instalou na pensão da Dona Matilde. Como era de bons modos; de boa aparência e altamente extrovertido, logo teve o seu consultório repleto de clientes: clientes de todos os tipos; da cidade e da roça. Nunca fez distinção de classe, raça, situação social e cor. Atendia a todos com a mesma precisão e gentileza. Interessante é que era desapegado de dinheiro: quem não podia pagar com dinheiro, pagava com outros bens. Geralmente ele recebia muitos frangos, frutas e hortaliças que eram trocados pior diárias na pensão. E, desta maneira se passaram os meses e o aniversário da cidade chegou. Chegou o grande baile de comemoração da feliz data. Durvalina que amava dançar encomendou um belo vestido em Barrancas e se embelezou toda no salão de belezas da fofoqueira maior da cidade: Marizilda. O querido esposo Terúcio também se empertigou num terno confeccionado em tecido de "tergal" para esta solene data. De mãos dadas se locomoveram para o recinto"CLUBE PEDRALVENSE" donde a orquestra "TABAJARAS" dava os primeiros acordes. Tinham reservado mesa junto com o dentista Doutor Juvenal. Eram amigos desde que o Doutor tinha extraído o dente do siso do leitor de clássicos e açougueiro, Terúcio. O baile seguia noite adentro na maior alegria e sofisticação. De ora em ora, Terúcio levava sua querida esposa para dançar; geralmente quando a orquestra tocava uma seleção de boleros. O seu preferido era "PERFÍDIA". Esta melodia tinha o dom de mexer com seus sentimentos. Por incrível que possa parecer ao gentil leitor, quando a orquestra iniciou a seleção de boleros com esta música, Terúcio se levantou e foi até o "WC" se aliviar das cerveja tomadas. E, isto foi o bastante para o gentil Doutor convidar Durvalina para dançar. Como era de praxe na época uma dama nunca podia dar uma "táboa" no cavalheiro que a tirava para dançar; e Durvalina logo se viu rodopiando nos braços do jovem Doutor. Dançaram a seleção toda, mesmo a despeito do olhar ferino que, de quando em quando, Terúcio os fulminavam. Quando regressaram à mesa o clima ficou pesado. Embora Durvalina tivesse encarado o "incidente" como normal, Terúcio manteve-se sombrio. Lá pelas tantas da madrugada o baile terminou e o jovem casal após se despedir do parceiro de mesa se dirigiram para casa. Nesta noite Terúcio se recusou a fazer amor com a bela consorte. E, os meses se passaram. E, o ano em curso, também passou. O dia amanheceu nublado e fazia muito frio. Terúcio se levantou mais cedo do que o costume e foi para seu estabelecimento comercial. Era dia de receber mercadorias. Lá chegando, após abrir a porta de aço e conferir os trocados no caixas se pôs a meditar em seu casamento. O que estava acontecendo? De uns tempos pra cá, pensou, Durvalina já não era mais a mesma esposa dedicada e amorosa. Volta e meia alegava dores de cabeça para não fazerem amor e, quando acontecia já não era mais a mesma coisa. Que algo estava errado, estava, e disto ele tinha certeza, só não sabia ao certo o motivo. Mas, matutou, como nada neste mundaréu de Deus fica a descoberto logo, logo eu saberei e, encerrou o ensimesmamento indo cortar uma peça de costela bovina. Realmente Durvalina estava mudada e muito. O responsável por tal mudança tinha nome e endereço: Dr. Juvenal. Sim, meu caro leitor, Durvalina estava terrivelmente apaixonada pelo simpático dentista e, pior ( paraTerúcio) e melhor para el: era correspondida. Como é de praxe sempre tem alguém querendo colocar discórdia naquilo que está em paz. E, foi o que aconteceu. Na mesma manhã em que Terúcio matutava sobre as mudanças em seu casamento chegou o carteiro e lhe entregou um envelope pardo. Com naturalidade ele abriu o envelope e sem muita cerimônia pôs-se a ler o papel que vinha escrito com poucas linhas, mas, as suficientes para fazê-lo perder o fôlego e quase infartar. Poucas linhas que diziam e anunciavam a tempestade que ora se abateu sobre o infeliz comerciante: " Terúcio, sua mulher o está traindo com o dentista." Torna-se desnecessário falar da reação do traído. Basta nos colocarmos em seu lugar para sentirmos o que ele sentiu. A partir de então seu comportamento mudou abruptamente. Não quis tirar satisfação com a mulher e nem mesmo com o seu amante. Não isto ele não faria de jeito nenhum. Era muito vexatório. Arquitetou sim um plano de vingança e para realizar este plano passou a viver. Quando saía para trabalhar ou para ir em algum bar conversar com os amigos tinha a certeza de que todos estavam caçoando dele, ainda mais pela profissão que exercia: lidar com touros e todos chifrudos. Realmente ele era motivo de piadas e gozações, porém, os mais íntimos embora não tocassem no assunto tinham medo de sua reação e se perguntavam: " Será que ele vai matá-la quando descobrir?" E, as dúvidas passaram a morar nos cérebros dos Pedralvenses. Foi no feriado de sete de setembro que tudo aconteceu. O açougue que estava sempre aberto a partir das seis horas da manhã permanecia fechado e, fechado permaneceu até as três horas da tarde quando o nosso amigo Terúcio apareceu à sua porta todo ensanguentado tendo nas mãos um coração pequeno, vermelho e ainda pulsante. Com passos vagorosos ele se aproximou da porta de aço, abriu-a e entrou como se fora um autômato. Na frente do açougue logo se formou uma pequena multidão formado por mulheres, crianças, bêbados, e até o padre lá se encontrava. Fortes alaridos denunciaram a chegada dos pais da Durvalina que aos berros perguntavam de sua filha, que tinha sumido de sua casa e da cidade. Sem dizer uma palavra sequer, Terúcio apareceu na porta e foi até a calçada exibindo em uma de suas mãos um gancho destes de pendurar carne com o coração fisgado em uma de suas pontas. A visão macabra da cena foi o bastante para a mãe da Durvalina gritar e desmaiar. Em décimos de segundos Terúcio foi abordado pela multidão revoltada que via no coração o coração de Durvalina e, aos berros de "assassino" o conduziram arrastado até a delegacia de polícia local. Coube ao Dr. Aparício, Delegado de Polícia de Pedralva e ao Cabo Anselmo retirar o infeliz marido das mãos da turba ensandecida e conduzi-lo sobre algemas para atrás das grades. Após insistentes ingterrogatórios Terúcio falou e falou pausadamente: " Doutor, eu sabia que minha espôsa estava me traindo... Por um tempo sem fim arquitetei um plano de matá-la, retirar o seu coração e pendurá-lo num gancho... _ Mas, não foi isto que você fez, argumentou o homem das leis. ... Pensei em fazer, Doutor, mas depois de tanto rogar a Deus por misericórdia desisti deste intento... Resolvi deixar poor conta da "LEI DO RETORNO"... aqui se faz, aqui se paga... _ E, o coração pendurado no gancho que você mostrou ao povo?, é falso? ... Não seu Doutor, não é falso... é de uma novilha Nelore, alva como a neve, que eu escolhi para imolar no lugar da minha querida Durvalina... o coração é dela... basta o senhor ir até a fazenda Bragança que encontrará os restos da novilha ainda mornos... _ E sua mulher, onde está? ... Esta madrugada, Doutor, ela fez as malas e partiu com o seu amante, o Dr. Juvenal... foram para Alfenas onde ele tem família... Antes que o senhor me pergunte Doutor eu sei de tudo isto poque ela me deixou um bilhete... aqui está o bilhete, senhor Doutor. _ É, açougueiro a sua história é triste... ... Doutor ,por favor não me chame de açougueiro... este é um tratamento vulgar...Eu sou sim, com orgulho, um MAGAREFE. Bom, amigo leitor , esta é a história do MAGAREFE Terêncio Tibúrcio de Lins. N.A. " Tomei conhecimento desta triste história quando permaneci alguns dias em Alfenas vendendo o meu livro A ECOLOGIA NO SITIO DO TAQUARAL. Sofrendo inesperadamente de uma dor terrível de dentes entrei no primeiro consultório que encontrei na praça principal. Após alguns instantes fui introduzido no consultório e atendido por uma bela dentista chamada... Dra. Durvalina. Sim, amigo leitor, a "ex" do Terúcio. Entre uma anestesia e outra e após eu me identificar como escritor ela me disse que tinha uma passagem de sua vida que daria um belo conto. E, assim eu fiquei sabendo das desventuras de Terúcio e da nova vida da agora Doutora Durvalina. Terminada a extração ela chamou seu companheiro de sala Dr. Juvenal e de mãos dadas se despediram de mim." Como o calor estava de arrebentar entrei no bar mais próximo ,pedi uma cerveja e prometi a mim mesmo que um dia eu ainda iria publicar esta história de amor e desamor... Ela é toda sua , caro leitor.

2 comentários:

  1. Grande poeta.Devo reafirmar que Deus deu á vc ,um talento maravilhoso que só uns poucos mortais a possuem.Lendo este conto tão intrigante só podia imaginar a "morte da traidora" mas como cabeça de escritor difere das demais, o fim dado a este conto é completamente inusitado,e bem mais "moderno".Parabéns.

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  2. Amigo Poeta, belo conto, ficamos preso a leitura do começo ao fim, e felizmente com um final feliz para todos, mas ha ainda um outro final para os leitores, que é, ir ao Dicionario e verificar a o que significa a tal palavra MAGAREFE. Otimo, parabens!

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