Quando chegou em Taubaté, vindo de uma cidade qualquer de Minas Gerais, abriu seu consultório de Dentista e com o passar do tempo, ganhando bem, resolveu comprar um sítio. Até então vivia sossegado e confortavelmente... não tinha problemas maiores de que os triviais. Mas, mineiro de coração, não podia viver sem sentir o cheiro de curral; de ouvir os cacarecos dos galos e galinhas; do balir suave das ovelhas; do miado do gato rajado; do mugir das vacas e bezerros e, por que não dizer dos maviosos cantos dos pássaros silvestres. Pensando assim, resolveu comprar um sítio. Dia vai, dia vem, e chegou o grande dia. Um corretor de uma imobiliária qualquer lhe ofereceu uma bela propriedade no Bairro dos Guedes: um sítio lindo com uma bela casa, com nascente, com verdejantes pastos e alguns animais e o mais importante, com caseiro. Tirou o dinheiro da poupança e fechou o negócio e fez questão que fosse de "porteira fechada". Exigiu também que o caseiro permanecesse. Não fez questão quando um amigo lhe disse: " Sítio dá duas alegrias: quando compra e quando vende." De posse do sonhado sítio passou a investir em aves, animais e benfeitorias. Feliz, assoviava aos pássaros e viajantes que aportavam na propriedade.
O nosso amigo "curtiu" com requintes de fazendeiro o seu quinhão de terra, embora a patroa e as crianças não sentissem tanta admiração quanto ele: raramente iam passear no belo sítio.
Tudo transcorria dentro dos conformes até o dia em que...
Em que deu por falta do cabrito "Jessé". Angustiado perguntou ao caseiro do seu paradeiro quando foi informado de que o mesmo foi devorado por uma onça que andava rondando o sítio.
Ficou triste.
No final da semana seguinte, assim que chegou no sítio foi imediatamente informado de que o peru "pelé" foi comido por uma raposa. Cabisbaixo, sentou numa raiz de uma figueira secular e ficou incomodado... parecia-lhe que algo não estava indo bem, mas...
Assim aconteceu mais vezes. Em todas, algum animal tinha desaparecido... todos, comido por algum predador. Sempre o caseiro contando e, o mais interessante, não sentia dor nos relatos, parecia sim, que sentia um imenso prazer( O amigo dentista me confidenciou).
Tanta tragédia em pouco tempo. Nunca conseguiu um frango caipira para o almoço. Até o leitão "rabicó" foi devorado por um cachorro do mato. Em pouco tempo só restava o cão "brutus" e o silêncio passou a reinar no sítio. Desconfiado de que o caseiro era o único predador do sítio resolveu despedi-lo. Sem caseiro o mato tomou conta da propriedade.
Uma tarde ao chegar no sítio deparou com o cão morto estatelado no chão, picado que fora, por uma jararaca. Neste momento tomou a decisão de vender o sítio.
Dois meses se passaram e numa bela manhã de um dia qualquer, de um mês qualquer, vendeu o sítio (perdeu dinheiro), mas, recuperou a paz e o equilíbrio mental que já estavam indo para o brejo ( de outro sítio).
Uma tarde em que fui ao seu consultório para tratar de um dente, perguntei-lhe se não tinha saudade da roça, ou melhor, do seu sítio... Dando uma gostosa risada me respondeu:
- Professor, quando eu sinto saudade da roça; do cheiro de curral, pego o carro, vou até uma estrada de roça e, quando encontro no meio do caminho um monte de estrume, desço do veículo, me ajoelho e cheiro o "bolo" durante alguns segundos... mato a vontade de roça e volto para casa feliz... sem caseiro e sem sumiços de animais.
- Ah, que sábia decisão... e ri com gosto.
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