terça-feira, 24 de julho de 2012

O CHORO DA LAGARTA!



Uma tarde ensolarada em que eu passeava, versejando, por dentre as alamedas de um belo pomar, deparei com uma lagarta que se sustentava num ramo de laranjeira e, chorava!
Num arremedo de curiosidade cheguei mais perto e perguntei-lhe o que estava sentindo para chorar tanto. Esticando e recolhendo o corpo, falou-me num débil sussurro, de que, não aceitava o seu destino, isto é, explicou, viver dentre o perfume das flores silvestres; receber no corpo a fresca aragem da tarde; ouvir extasiada o mavioso canto dos pássaros; se alimentar de perfumadas e tenras folhas e, quando, ainda pretendia mais e mais, o destino influi em seu corpo e a faz enrodilhar-se e produzir o útero que a manterá afastada de todas as coisas belas da natureza: o seu invólucro; o seu casulo... o túmulo para a sua eternidade. Tendo o coração contristado por tamanha dor e abundante lamúria da infortunada lagarta, pensei, no momento, em maldizer a Deus, pela ausência de piedade do infeliz animal. Foi apenas um décimo de segundo e nada mais. Com a sabedoria e o pouco de poeta, que Deus presenteia os homens que possuem cabelos esbranquiçados, fi-la ver de que o seu destino não era medonho, mas sim, celestial; de que como lagarta, estava predestinada a gerar uma vida de raro esplendor, um milagre de Deus. Como?, perguntou-me, admirada, porém, ainda revoltada. Com extremo carinho e atenção contei-lhe que o seu destino, após viver uma vida como lagarta, era dar vida a um ente maravilhoso; um ente que enfeita os pomares e alamedas; um ente que possibilita a continuidade da vida nas flores; um ente multicolorido que esvoaça dentre os jardins... Que ente é este tão importante a ponto de ser imprescindível para outras vidas?, perguntou-me, agora, já aceitando o seu destino. É uma borboleta, respondi, tendo a respiração ofegante. Uma borboleta?, mostre-me uma, somente uma... Nesse exato instante dardejou sobre nós uma imponente borboleta-monarca, de asas laranja com listras pretas e marcas brancas, de mais ou menos 70 mm de envergadura... Esta borboleta é o que você será quando o ciclo evolutivo se realizar plenamente em seu corpo... Você será uma das mais belas criações de Deus...
"Ah!, aceito o meu destino e agradeço ao supremo Criador por ter colocado você à minha frente... estava pensando em suicidar-me... Que felicidade terei o dia em que me tornar uma viçosa borboleta..." Esticando e retorcendo o corpo arrastou-se para um galho seguro, onde protegida pelas folhas aguardou o início do seu encapsulamento.
Assim, com poucas palavras, fiz, de uma triste lagarta, uma criatura ansiosa, em se tornar uma esplendorosa borboleta.

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