domingo, 30 de junho de 2013


61. UMA CHUVA, COMO NUNCA HOUVE OUTRA QUALQUER!





Chove ininterruptamente!

Descem dos céus carruagens transbordantes de chuva (lágrimas)

Que antes de caírem no solo se evaporam em infindas gotículas.

O universo se tolda de um negrume assustador e denso

Ocultando dos olhos de quem não chora as estrelas luminescentes,

Embora, dos olhos de incontáveis vaga-lumes, fagulhas

Resplandecem e iluminam os vãos daquilo que não quer existir.

Cachoeira invisível desaba sobre a alma daquele que chora

E, por muito chorar, difere da alma daquele que se consola em desatinos,

Tentando, deixar de ser, apenas mais um, sob o aguaceiro.

No solo, antes calcinado, agora um rio começa a nascer

E, atrevido, revolve seixos e almas e se dirige para o mar.

Pelo caminho, corpos e corações desajustados, são carregados

Em redemoinhos de proporções gigantescas, avassaladores.

E, a chuva se regala toda em despencar das alturas

Para as profundezas dos abismos que se formaram na mente

Dos degenerados e desiludidos homens que não souberam amar.

Uma onda gigantesca toma conta de tudo e a tudo engole

Com uma fome voraz... Uma fome de um monstro abissal.

E, continua, chovendo.

Por um instante me abriguei numa cova rasa e deixei que

A lama cobrisse o meu corpo e, assim, barro, permaneci

Por uma eternidade, até que a chuva cessou e o sol nasceu.

O vento possui-me vezes incontidas e como moleiro, moldou

O meu corpo e, em pouco tempo, me vi, um totem sem alma.

A vida se fez presente em mim, assim que uma soturna coruja

Passou a fazer morada em um dos meus galhos, procriando

Uma intensa prole... Enfim, a chuva parou e a vida voltou

A renascer em mim e, por não sei quanto tempo, fui feliz.

Choveu Ininterruptamente...



quinta-feira, 27 de junho de 2013

AS AREIAS DO TEMPO!





Pelo cristal da ampulheta vejo escorrerem as areias do tempo,
Como se serpentes vivas tateassem o vidro liso e escorregadio.
Fico nessas horas imaginando a vida que de mim se escorreu no vazio
Dos amores que teimei amar e que se perderam no esquecimento.


Hoje, tenho os cabelos embranquecidos e a tez pálida e inerme
Refletindo as desilusões que de mim se tornaram companheiras.
Se um dia, tentei ser um homem novo, revigorado, feito de cerne,
Hoje, vejo, alquebrado, uma imagem nada passional  e nada altaneira.


Encostado no espaldar da poltrona esquecida no canto da sala
Dormito num sono nada profundo e cheio de sonhos desfeitos:
Em um deles sinto-me um pobre amante sem coração e sem alma,

Em outro, sinto-me um desventurado sonhador, que a ninguém amou.
E, assim, inerte, como se um fantasma fosse, contemplo as areias do tempo
No tempo em que quis ser, mas, por não ser, o corpo no abismo, soçobrou.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

O COLAR DE CONTAS DE VIDRO



Assim que ela me beijou, pediu em troca um presente
Nada - disse -, que custasse caro ou fosse irrealizável.
Com medo de ser trivial tomei uma decisão, num repente
E, ordenei a alma que saísse atrás de um "agrado" afável.

Como um bólido ela saiu do meu corpo trêmulo
E, se aventurou por plagas nunca dantes visitadas:
Num átimo foi até o Universo e me trouxe um astro
Reluzente... Uma pedra de uma beleza inusitada.

Não contente com a aquisição ela se lançou às profundezas
Do mar sem fim, e respingando espumas voltou esbaforida
Trazendo às mãos uma concha tendo uma pérola presa
E, fazendo festas ma entregou denotando a missão cumprida.

Não satisfeito com as duas joias que à mulher iria presentear
Supliquei para que a alma ainda tentasse pela derradeira vez
Enfurnar no deserto e a pedra mais exótica ela garimpar
Pois, o beijo que recebi não merece em paga, algo pequenez.

De posse dos três exóticos presentes sussurrei num gesto tímido
Do qual deles ela ficaria feliz em ser presenteada no momento.
Com a voz débil, suave e maviosa disse-me num soluço incontido
Que, nenhum deles a agradou e, que simples é o seu sentimento.

Agoniado, fiquei de boca aberta sem saber a atitude a tomar
Visto que o beijo ainda me queimava os lábios que ardiam de dor
E, tornava-se, inexorável, retribuir com uma atenção ímpar
Carícia tão divina a mim dada num raro instante sedutor.

Quando pensei que ia morrer de desgosto pela missão não cumprida
Chegou até mim uma cigana tendo os cabelos negros e esvoaçantes
E, sem rodeios, lançou-me às mãos um colar de três voltas seguidas
Pedindo uma ninharia pela "joia", dizendo: "Presenteia-o, para sua amante."


Sem negacear o preço pedido adquiri o estranho colar e o retive às mãos
Até o momento que imbuído de coragem o ofereci à mulher do meu destino
Que, tal e qual uma criança que ganha um doce do bondoso ancião.
Me beijou, dizendo: " Era o que eu queria... Um colar de contas de vidro."







quarta-feira, 12 de junho de 2013

ACADEMIA TAUBATEANA DE LETRAS - UM BREVE HISTÓRICO








No início, um sonho. Sim, um sonho por mim acalentado durante anos. Muitas vezes me vi envolvido com alguns colegas escritores na ânsia de fundar uma Academia de Letras em Taubaté, visto ser a mesma uma cidade universitária e, claro, berço de excelentes escritores. Assim, acalentando esse sonho convidei os mais próximos a mim e encetamos várias reuniões, porém, nenhuma delas deu fruto. Isso aconteceu entre os anos de 1990 a 1997. Inúmeras reuniões foram realizadas, mas todas elas repletas de indagações e “medo” de se criar uma instituição que se tornasse maior do que seus criadores. É incrível como o escritor interiorano não acredita em seus propósitos. Exaustivas vezes, tentei mostrar o quanto seria importante para Taubaté e, para nós, escritores, a fundação de uma Academia. Assim, sem lograr intento, desisti mais uma vez do sonho e fui trabalhar no Litoral Norte como Delegado de Ensino. Quando retornei à Taubaté, como Supervisor de Ensino reatei as reuniões. No começo com poucos adeptos e, pouco a pouco, a semente foi germinando e as reuniões começaram a se tornar mais fecundas. No ano de 1997/98 estava ocupando o cargo de Delegado de Ensino de Taubaté e, por influência do cargo consegui mais adeptos ao meu ideal e, com mais tempo disponível passei a fazer reuniões mais amiúdes. No início usava uma sala da Delegacia de Ensino até que fiz um convite para a Professora Mércia, então Vice-Prefeita e Diretora de Educação do Município, que, prontamente aceitou a missão de “fundar” a Academia de Letras. Junto a ela vieram atendendo o meu convite os escritores Carlos Camargo (Advogado) que se incumbiu da parte jurídica; Professora Angélica (minha grande incentivadora); Dr. José Valdez de Castro Moura ( Acadêmico da Academia Pindamonhangabense de Letras) que com sua experiência nos ajudou muito; Camões Ribeiro do Couto, ilustre escritor e meu grande amigo e, juntos iniciamos os estudos para a criação da Academia. Durante meses fomos aprimorando os trabalhos e recorremos à Academia Paulista de Letras que nos cedeu uma cópia do Estatuto. Durante esse período tivemos muito contratempo com pessoas que apostavam na nossa derrota, inclusive, com políticos de renome da cidade que não desejavam a fundação da ATL. Por inúmeras vezes tentei desistir do intento, porém, tive na força de duas mulheres que acreditavam em mim o ímpeto de continuar. São elas: Edna, minha esposa e a Professora Angélica. Em 28/5/99, realizamos uma Assembléia Geral na sede do Departamento de Educação e Cultura, quando tivemos um público de mais de 100 pessoas. Após considerações necessárias coloquei o Estatuto da ATL para votação e, qual, não foi nossa surpresa, quando um grupo de “agitadores” localizado no fundo da sala se posicionou contra, alegando maior tempo para analisar o Estatuto. O impasse estava criado. No momento, decidi que a “hora” tinha chegado para a criação da Academia. Era tudo ou nada. Pensando assim coloquei o Estatuto para votação a despeito dos insurgentes que teimavam em solicitar a anulação da Assembléia. Para nossa felicidade a aprovação foi unânime. Sem perda de tempo declarei fundada a Academia Taubateana de Letras e todos nós que a desejávamos aplaudimos por vários minutos. Dessa maneira a “fórceps” a Academia de Letras de Taubaté nasceu e, para nossa alegria, vive até hoje.

Terminada a aprovação da criação da Academia, nos reunimos e elegemos a primeira Diretoria Executiva que teve vigência por dois anos da qual fui eleito Presidente.

Nessa primeira gestão tratamos de preencher vinte cadeiras. Os currículos dos inscritos foram enviados para a Academia Paulista de Letras que gentilmente fez a escolha dos vinte Acadêmicos. Numa bela solenidade no salão nobre da Faculdade de Direito eles foram empossados.

Durante a minha gestão foram preenchidas as demais 20 cadeiras. Tivemos alguns contratempos com “políticas contrárias”, inclusive fomos “despejados”, ou melhor, convidados a deixar a sede para nós cedida no Solar das Artes, pois o atual prefeito era contrário a criação da ATL. Sempre empenhados na efetivação completa da Academia, nunca esmorecemos e como “ciganos” das Letras nos deslocávamos de um lugar para outro, até que, a UNITAU nos cedeu uma sala ampla em definitivo no prédio da Escola Comercial sito à Rua Conselheiro Moreira de Barros.

Após minha Presidência outras se concretizaram e cada diretoria deu o máximo de si para o sucesso da nossa Instituição.

Hoje, passados 14 anos de sua fundação posso dizer emocionado que os obstáculos, os percalços, as dores de cabeça, os momentos de desânimo foram recompensados pela felicidade que sinto quando participo de uma reunião e vejo os meus colegas escritores, poetas, romancistas e trovadores voltados para o engrandecimento da Literatura em Taubaté.

Dentre tantas vitórias conquistadas pela ATL, reporto uma das mais significativas: A Lei Municipal 3982 de 06/11/2006 que a transformou em Instituição de Utilidade Pública.

Se me perguntarem se eu faria tudo de novo, respondo: Sim, de todo o meu coração.



Aldo Aguiar

Titular da cadeira 1

Patrono: Monteiro Lobato.



domingo, 9 de junho de 2013


58. O SAL DAS LÁGRIMAS DE ANAY







Por uma eternidade Anay chorou e muito chorou.

Teve os cabelos desfeitos e a tez enrugada e pálida.

Dos olhos, antes, esmeraldas luminescentes e iridescentes,

Reverberaram torrentes de lágrimas frias e pegajosas

Que se grudaram como as ventosas do horrendo polvo

Na face sulcada, por marcas profundas de intensa dor.

Anay nunca dantes tinha chorado com tamanha intensidade,

Nem mesmo no sepultamento de uma ilusão qualquer ela chorou.

Mas, agora, o punhal da indiferença, do “adeus”, penetrou

Sem dó, nem piedade, no seu peito, murcho de esperança.

Agonizante, Anay se debruçou sobre si mesma e chorou...

Um rio começou a tomar forma sob os pés descalços e feridos

E, pouco a pouco, foi se tornando caudaloso e ondas revoltas

Arrastava tudo o que encontravam pelo caminho que Anay

Nunca caminhou, por ter sido sempre estátua à espera

Do amor que dela tinha se despedido numa tarde de nuvens escuras.

Para ela, a vida tinha deixado de existir já que sua alma desventurada

A abandonou e foi viver novos amores em novas plagas.

Anay se desfez em lágrimas... Lágrimas que vertiam em redemoinhos

Estonteantes e despencavam como uma cachoeira sobre o rio estéril.

O sol despontou e aqueceu e ferveu as lágrimas (rio) de Anay,

E, imediatamente uma névoa se elevou do chão lodoso e a envolveu

Como se fora um véu diáfano a protegê-la do calor abrasador...

Num passe de mágica toda a água se evaporou e, no solo, impregnado

De sal, dois totens foram esculpidos pelo vento da tarde triste:

Dois corações petrificados e inertes se ergueram até seus olhos.

Um deles, o do seu eterno e grande amor, se debruçou sobre o seu peito;

O outro, o seu próprio, sem vida e sem cor recebeu as últimas lágrimas

E, agonizante, como o seu amor, começou a se desfazer pouco a pouco...

Num último suspiro Anay ainda teve forças para amparar as pedras

De sal que se desprendiam do receptáculo vazio de amor

E, num ato último as grudou no coração do amado e... se sentiu feliz.

Por um momento ou por uma eternidade o SAL das lágrimas

Escorreu pelo solo calcinado do “ADEUS’ DO GRANDE AMOR DE ANAY.















domingo, 2 de junho de 2013

OS SEIOS DA PROSTITUTA





Frente ao espelho ela se contemplava e se embevecia com os seios
Tanto é que se demorava mais na contemplação muda e voluptuosa
Do que na arrumação das vestes que essa noite a vestiria formosa
E, a faria, sem dúvida alguma, a prostituta preferida, de olhos alheios.

Tinha o colo arfante e, no arfar, denotava dois pomos túmidos e salientes
Que se projetavam pela palidez do sutiã em busca de beijos molhados.
Não eram tímidos e sim, desprovidos de pudicícia... Sempre maculados
Por lábios febris de homens afoitos, escusos e desprovidos de inocência.

O espelho mostrava-se embaçado pela respiração ofegante da cortesã
Que, se virava e revirava, na ânsia incontida, de se adorar, sobremaneira.
Exibia sem vergonha ou medo de ser "oferecida" os dotes de mulher faceira
Para o vazio do quarto, antevendo, desde já, o palco da noite de carícias vãs.

Para ela, a noite era o seu reduto onde escravos se curvariam a seus pés
Embora, pagasse por essa regalia um preço alto e recebesse parcas ninharias,
Mas, por instantes, nunca horas, se tornaria das mulheres da noite, a rainha,
E, nunca, uma serviçal que oferece o corpo para homens soturnos... a ralé.

Ao escutar os sinos da matriz anunciarem as dez horas da noite que prometia,
Lançou um último olhar num ponto do quarto e se benzeu vezes sem conta,
Para então, garbosa, bela e sensual, adentrar nos mistérios das ruas insossas,
Onde, certamente, desfilaria a sua voluptuosidade, atraindo para si, fétida freguesia.

E, assim, na longa noite de amores inauditos, porém, inertes e insípidos
A prostituta se deu sem amarras, sem constrangimentos, sem pudor e limites.
Como uma corça extenuada que se entrega ao ferino e possesso tigre
Ela se entregou vezes sem conta aos ferinos e possessos homens rispidos.

À todos eles ela permitiu que os seus belos seios fossem sugados com avidez;
Engolidos por bocas famélicas e lambidos por línguas molhadas e pegajosas,
Como se eles resumissem todas as suas belezas; todas as suas partes carnosas.
Os seios, antes belos e imaculados, agora, eram dois nacos murchos de carne.

Triste e cabisbaixa voltou para oseu lar sentindo asco dos momentos vividos
Quando bocas amargas e despidas de sentimento sugaram os seus belos seios
Mas, recobrou a alegria, quando, num ponto qualquer do quarto,num lampejo
Visualizou a criança, o seu filho, que sugaria com amor os seios, a ele, oferecidos.