domingo, 9 de junho de 2013


58. O SAL DAS LÁGRIMAS DE ANAY







Por uma eternidade Anay chorou e muito chorou.

Teve os cabelos desfeitos e a tez enrugada e pálida.

Dos olhos, antes, esmeraldas luminescentes e iridescentes,

Reverberaram torrentes de lágrimas frias e pegajosas

Que se grudaram como as ventosas do horrendo polvo

Na face sulcada, por marcas profundas de intensa dor.

Anay nunca dantes tinha chorado com tamanha intensidade,

Nem mesmo no sepultamento de uma ilusão qualquer ela chorou.

Mas, agora, o punhal da indiferença, do “adeus”, penetrou

Sem dó, nem piedade, no seu peito, murcho de esperança.

Agonizante, Anay se debruçou sobre si mesma e chorou...

Um rio começou a tomar forma sob os pés descalços e feridos

E, pouco a pouco, foi se tornando caudaloso e ondas revoltas

Arrastava tudo o que encontravam pelo caminho que Anay

Nunca caminhou, por ter sido sempre estátua à espera

Do amor que dela tinha se despedido numa tarde de nuvens escuras.

Para ela, a vida tinha deixado de existir já que sua alma desventurada

A abandonou e foi viver novos amores em novas plagas.

Anay se desfez em lágrimas... Lágrimas que vertiam em redemoinhos

Estonteantes e despencavam como uma cachoeira sobre o rio estéril.

O sol despontou e aqueceu e ferveu as lágrimas (rio) de Anay,

E, imediatamente uma névoa se elevou do chão lodoso e a envolveu

Como se fora um véu diáfano a protegê-la do calor abrasador...

Num passe de mágica toda a água se evaporou e, no solo, impregnado

De sal, dois totens foram esculpidos pelo vento da tarde triste:

Dois corações petrificados e inertes se ergueram até seus olhos.

Um deles, o do seu eterno e grande amor, se debruçou sobre o seu peito;

O outro, o seu próprio, sem vida e sem cor recebeu as últimas lágrimas

E, agonizante, como o seu amor, começou a se desfazer pouco a pouco...

Num último suspiro Anay ainda teve forças para amparar as pedras

De sal que se desprendiam do receptáculo vazio de amor

E, num ato último as grudou no coração do amado e... se sentiu feliz.

Por um momento ou por uma eternidade o SAL das lágrimas

Escorreu pelo solo calcinado do “ADEUS’ DO GRANDE AMOR DE ANAY.















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