quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O MANEQUIM!



Amei-a desesperadamente, mesmo na lucidez
Dos meus dias( poucos),muitos, na estupidez
De uma vida que me fez amante insensato
Onde andarilho, peregrinei, e me fiz fantoche barato.


Assim, que a vi o amor explodiu em meu peito
Fazendo-me esqecer de que era uma amante insatisfeito.
Por um instante vi as brasas frias, semi-apagadas
Se colorirem de vermelho e a fogueira, reacendida.


Ah!, como basta um simples olhar eloquente
Para transformar o mármore em semente latente,
Ou, mesmo, para resgatar a esperença sepulta
De um peito, onde agora,o coração geme a pulsar.


Ela estava à minha frente e eu a via, de fato,
Atrás de uma vitrine,bela, embora os olhos embaçados
(Quando se envelhece, a alma, o coração e os olhos se tornam vítreos).
Via-a, sim, em todo o seu esplendor, ornada de adornos ricos.


Para mim que ía admirá-la todo dia,toda tarde outonal
Ela se vestia com requintes e ficava até o horário fatal
Em que se recolhia, levada por suas escravas pérfidas
Que desapiedadas de mim, riam, e se retiravam, lépidas.


A cada dia ela se trasmudava como se fora belo camaleão
Nunca repetindo uma vestimenta, conservando só o coração
No belo colo, que, ao me ver fitando-a, galopava frenético
Como frenético eu ficava quando era trazida pelo seu séquito.


Um dia, eu passei os minutos e as horas, mudo e estático
Adorando-a, vestida em um quimono de seda rica e pálido.
Era uma "gueicha"?, ou uma imperatriz de longínquo harém?
Perguntas que não respondia, pois, os meus pensamentos, estavam além.



Além da vitrine tanto estavam os meus pensamentos e desejos
Ansiando por um gesto que me prometesse carinho e afeto.
Porém, como eu, só me fitava, e, não dizia, nada,
E, o nada, pouco a pouco, se transformava em tudo, para minha alma.


Uma tarde, se bem me lembro, ela se vestiu de noiva
E, trêmulo, notei que ela me fitava com "ares" de vergonha.
Imediatamente, me exultei e num arroubo juvenil
Me enchi de coragem e fui novamente um "noivo" viril.


Ah!, como fui titubear em meu pedido de casamento
Levado pela dificuldade de me levantar do "maldito" assento.
Onde, por dias seguidos dei início ao longo "noivado"
E, num átimo de segundo, ela se foi, levada pelo séquito odioso.


O dia demorou para amanhecer e a tarde chegar
Quando por fim pude adentrar no "shoping"; cruel lugar
E, com passos cambaleantes cheguei à vitrine ofegante.
Dos óculos, as lentes baças,limpei, numa demora exasperante.


Em pé, estático, por horas tendo às mãos um ramalhete
Esperando, vê-la chegar, pisando num macio tapete.
Esperei... Quando as pernas me tremeram de cansaço
Sentei-me no banco e nada vi, através dos vidros baços.


Cansado, decepcionado, me levantei trêmulo e febril
Para regressar à minha vida, ao passado vil,
Que me acolheu em seu tédio, fazendo-me prisioneiro
De uma masmorra por onde vegetei... o meu paradeiro.


_ O senhor está-se sentindo bem?,perguntou-me à queima-roupa
O mesmo jovem que a levou... Minha doce e maravilhosa noiva.
Gaguejando ainda tive forças para lhe perguntar:
_ Moço, para onde levaste a mulher com quem eu ia me casar?



Foi então que rindo numa sarcástica e odiosa feição
Contou-me que a "bela mulher" que me fez pulsar o coração
Era apenas mais um "boneco" e se foi, caçoando, de mim.
Num último gesto, quebrei os óculos e então compreendi:

TINHA SE APAIXONADO POR UM MANEQUIM.

"Hall" do Hotel Ibis Providence
Santiago- Chile
04-11-13
16 horas de uma tarde calorenta.






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