quarta-feira, 15 de abril de 2015

A PIPA!

Para construir a pipa usei retalhos de seda
Das cores dos olhos e dos lábios da mulher amada.
Usei as tranças loiras perfumadas e sedosas
Para dar forma a extensa e linda rabiola.

Fi-la, com o formato de um indescritível coração,
Tomando o meu, como modelo, para a arte imaginada.
Acrescentei como gravuras os mistérios e encantos dela,
E, ao espaço, a coloquei, sentindo a alma encantada.

A brisa amena balouçava-a pela tarde primaveril
Levando-a para um lado e outro sem rumo e norte.
Junto a ela balouçava o meu coração, já, senil,
Recordando o tempo de moleque, em que me sentia forte.

Oh!, doidos tempos que passaram como o vento passa
Dentre as nuvens das ilusões que um dia eu vivi.
Hoje, sou a pipa que teme a brisa; quanto mais, a nevasca,
E, se intimida pela altura e se desfaz em desmaio servil.

Mas, mesmo assim, prefiro ser pipa que se eleva ao universo
Do que ser um verme que rasteja desiludido da vida que teve.
Balouça e balouça a pipa e o coração deste solitário verve
Dentre as nuvens de sonhos desfeitos, que os tem, imersos.

Dela, quem sabe, um dia devolverei os encantos que a mim cedeu
Para construir o brinquedo que me fez sentir por momentos,
Um homem pleno, ou talvez, um menino que a juventude perdeu.
Sobe pipa, sobe e desaparece dos meus dias de tormento




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