quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016
O BEIJA-FLOR ATREVIDO!
Nunca pensei que um beija-flor me irritasse
Como o fez por tardes o pequeno pássaro.
Por dezenas de vezes fez que o enfrentasse
Numa luta inglória, tentando aprisioná-lo.
Veloz e sutil em seu voo alucinado e cadenciado
Ele passava por mim zoando as asinhas poderosas
Às vezes trazendo-me uma lufada de ar perfumado;
Às vezes ferindo-me o pescoço com a suave revoada.
Tudo começou quando o meu amor pintou a boca de carmim,
Transformando-a em uma rosa de esplêndida beleza frugal.
Para ele, era a flor que continha o néctar cujo fim
Ia alimentá-lo no êxtase de sugar a seiva virginal.
E, assim o fez, beijando o que me era sempre negado
Quando ela dormitava no banco do jardim em devaneios.
Ao seu lado, eu, maldizia o bico sempre enfurnado
No pequeno orifício dos lábios de contornos perfeitos.
Quando ela pintava a boca com batom de cor rósea
Ele, mais afoito ainda ficava e, beijava-a, trêmulo.
Maldizendo o atrevimento e minha luta inglória,
Eu tentava, acordá-la, para dar fim, ao meu sofrimento.
E, assim as tardes se passavam até que um dia o aprisionei
Em minhas mãos férreas e ávidas por castigar o enxerido.
Porém, tendo o preso não o fiz e, excitado, implorei
Para que ele, nunca mais beijasse aqueles lábios lindos.
Como resposta, ele, soltou-se de minhas mãos e majestoso,
Voou para um galho da roseira e mostrando-me a língua,
Disse, sem constrangimento algum e, sem o corpo eriçado:
"Deixo-te uma boca pálida e algumas seivas exíguas.
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