segunda-feira, 18 de julho de 2016

O ESPANTALHO

Pela sua ferrenha insistência em ter uma foto
De corpo inteiro e, nunca, de três por quatro,
Me postei frente a frente de um hábil profissional
E, fiz a pose de um elegante rapazote sensual.

Sem falsa modéstia afirmo que fiquei um "pão",
Um jovem de fazer inveja em qualquer finório.
Assim, de posse da foto fui até o modesto salão,
Onde ela dançava um "fox trote" com o Osório.

Osório era um moço sem eira e nem beira e, feio
Que a cortejava nas lidas da roça à beira dos Joás.
Com o rosto afogueado puxei-a pelos braços mornos
E, a trouxe para o meu regaço como uma trêmula preá.

Sem rodeios dei-lhe a fotografia tão pretendida
Acompanhado de um beijo na boca vermelha de batom.
Num ímpeto ela apertou-a na pequenina mão suada
E, em seguida me esbofeteou produzindo alto som.

Boquiaberto, refiz-me do susto e desapareci do baile
Indo aquietar minha alma num copo de "rabo de galo".
Porém, o meu infortúnio não sumiu nos ardentes goles
Da bebida que queimava-me a garganta... o meu sudário.

Dela, nunca mais tive notícias; escafedeu-se pelos ermos.
Uma tarde enquanto vagava sem rumo, um andarilho em frangalho
Deparei com uma estátua no meio de um milharal formoso,
Firmando dos olhos vi que, do retrato, ela me fez, ESPANTALHO.




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