quarta-feira, 5 de outubro de 2016

A LAREIRA

A lareira mostrava-se nua aos meus olhos,
Que, enfeitiçados a contemplavam com fascínio:
Na câmara ardente fagulhas brotavam como sonhos
E, no meu âmago, brasas, avivavam, o meu martírio.

A noite ainda estava entreabrindo os olhos escuros,
Sorrateira em seu mistério de ocultar os temores,
Como se fora o túmulo frio, sujo e, abandonado,
Na campa tétrica: morada de almas penadas e silentes.

O lenho crepitava emitindo sons lamuriosos, doloridos,
Quando era beijado pelas chamas flamejantes e pegajosas.
Neste instante, de ti, eu lembrava os abraços fingidos
Que me enlaçavam e me queimavam: fogueira voluptuosa.

A lareira recebeu minhas lamúrias e decepções incontidas,
No fragor das labaredas que se agigantavam em estrépitos.
Era madrugada, quando só restaram brasas, da fogueira extinta;
Era madrugada, quando só restaram cinzas, dos meus anseios.


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