segunda-feira, 18 de junho de 2018

O LAMPADÁRIO



Sentado no sofá macio,beje, e já bastante gasto, lia o primeiro volume do romance de Tolstói, ANA KARIÊNINA, iluminado pelas velas acesas do lampadário, que ficava sobre a mesa da sala de jantar.
De quando em quando, uma lagartixa mais ousada e atrevida passeava pelas paredes caiadas e, me mostrava a língua visgosa e feia. Eu, nestes momentos também mostrava a língua para ela... Uma vez, notei, ou, pensei que notei, ela sorrir, debochar do meu gesto. Por muitas noites vivemos os três: Eu, Tolstói e a lagartixa, cada qual desempenhando o papel que lhe cabia. Tolstói teve o seu romance escrito em papel de seda; eu, tinha o meu papel ( uma maçaroca de jornal) às mãos e ,a lagartixa tinha um papel de bala grudado na pele viscosa. Quando o relógio da sala soou as doze badaladas, acendi a maçaroca de jornal no Lampadário e botei fogo no papel de bala da lagartixa. Imediatamente o réptil asqueroso saltou sobre mim, tomou-me o livro das mãos e me expulsou do sofá, sem antes, porém, passar a língua visgosa sobre meus lábios...Ah! que nojo!
Da fresta da janela da sala, já que eu tinha ido parar no quintal, trêmulo de medo e tiritando de frio (era inverno), pude visualizar a lagartixa se acomodar no sofá, acender uma piteira e preguiçosamente passar a folhear o livro... Isto aconteceu até quando abri a janela e uma lufada de vento penetrou na sala e jogou o Lampadário e suas velas acesas sobre o infame réptil... Satisfeito e vingado fui para o quarto e me deitei.
Antes de dormir, pensei comigo: creio ser o único mortal neste mundaréu de Deus que foi vingado por um LAMPADÁRIO.
Feliz, virei-me para o canto e, o que vi?... os seios lindos e perfumados(deduzi) de Ana Kariênina desenhados na parede caiada do meu pequeno quarto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário