quinta-feira, 29 de março de 2012

CATARSE

Às vezes, ou, quase sempre, vivo momentos de extrema angústia quando após muito clamar, faço a vontade de minha alma. Ela sabe fazer de mim um fantoche. Preso por cordéis invisíveis ela me domina e me direciona para aquilo que melhor lhe aprouver. Sempre fez isto. Por infinitas vezes já me vi subjugado por forças que não consigo vencer. Sou frágil como um cálice de cristal e, para não me ver em pedaços me entrego aos seus caprichos. Ela faz de mim o seu brinquedo predileto: joga-me para os lados; rasga-me as roupas; fere-me o corpo e tudo isto acompanhado de estrondosas gargalhadas. Não tem e nunca teve pena de mim. Mas, que posso fazer se ela é parte íntima do meu ser? Se, sem ela, não consigo respirar... sou um molambo jogado às margens do caminho? Melhor é submeter-me aos seus doidos repentes e viver alguns instantes em catarse.
É o que estou fazendo neste momento... são 3 horas da madrugada. Já recebi nas entranhas a mensagem de que ela não quer esperar nem mais um segundo... Desmaio... não sinto mais o pulsar do coração... antes corpo afogueado, agora um pedaço de granito. Antes de sucumbir para o sono profundo peço ao bondoso Deus de que ela não se demore muito em suas aventuras pelo passado em busca das lembranças de amores vividos. Da última vez ela me deixou em catarse por dois séculos. Quando me libertou e voltei à vida eu tinha criado raízes no solo e me transformado num soberbo jacarandá... ainda bem que um lenhador me libertou com seu afiado machado.
Sei que agora e por mais um tempo ela estará viajando pelos caminhos que já percorremos e certamente encontrará os nossos mais queridos amores. Não posso reclamar. Também por um tempo que não sei precisar as lembranças me acompanharão. Oh! inanição bendita: acorrenta-me em teus elos... preso aos momentos inesquecíveis vivo encantos que não quero esquecer.
Alma querida, prolongue o estado de catarse em que me colocaste... saia deste corpo e viva o que hoje não posso viver... libere as nossas emoções e pricipalmente as lembranças que se alojam, recalcadas e doloridas, no recôndito do coração sonhador...
São 5 horas da madrugada... lentamente sinto o sangue correr nas veias... um espasmo dorido me traz à consciência novamente... alma por onde andaste? por onde andei?... Por que saber... basta apenas saber que fui novamente aquele que sempre foi.
Bom dia, Sol!

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