domingo, 1 de abril de 2012

DEMÓSTENES

Júlio Dantas

Em casa de laís, Demóstenes entrara:
Como Atenas inteira, o supremo orador
Vinha comprar também, nuns minutos de amor,
O corpo escultural dessa beleza rara.


Quase a possuíra já, de tanto que a sonhara:
E ao ver, gloriosa e nua, em todo o seu esplendor,
cingido o strophion de ouro aos dois seios em flor,
Essa linda mulher que se vendeu tão cara.


Tímido, perguntou: - "Um só beijo fugaz
por quanto o vendes, grega?" E ela, num gesto lento:
- "Conta mil dracmas, velho, e tu me possuirás!"


- "Quê? pagar por tanto ouro o beijo dum momento?
Dar mil dracmas por ti? Não, mulher; fica em paz:
Eu não compro tão caro um arrependimento.

Lagos- Algarves,1876
Lisboa - 1962

strophion : faixa usada pelas mulheres para segurar os seios.

EXTRAÍDO DO LIVRO DAS CORTESÃS ( 1500- 1900)
SELEÇÃO, ORGANIZAÇÃO E NOTAS DE SÉRGIO FARACO
( POETAS PORTUGUESES E BRASILEIROS)

ESTE LIVRO ESTÁ À DISPOSIÇÃO PARA EMPRÉSTIMO.

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