PÉS DESCALÇOS!

Pés descalços pisam pétalas de rosas,
E, não pisam espinhos pontiagudos.
Pisam, por pisar a alma dengosa,
Enquanto sangram num choro súbito.


Sangram, não pelos espinhos, mas, pela dor
De pisarem corações endurecidos de "adeuses".
São pés que não querem pisar na pálida flor,
Optando por caminhar em suntuosos tapetes.


Assim, eu tive em mim, pés descalços
Que me pisaram por uma noite sem fim
Como se meu corpo fora um leito de jasmim.


Amei e vivi uma vida maravilhosa; sem percalços,
Acariciado infinitas vezes por pés suaves e afoitos
Que teimavam em possuir o meu extenuado corpo.

QUANDO A SUPRESSÃO INDEVIDA DA CRASE PROVOCA UM FORROBODÓ!

Aconteceu com o professor Marion Benevido Santarém. Estava o ilustre Mestre a andar de um lado para outro na Praça da Matriz na cidade de Butira   revendo mentalmente as contas que tinha a pagar; os incontáveis carnês feitos em suaves parcelinhas; o cheque especial estourado; o salão de beleza da querida consorte; a escola dos filhos; o conserto do carro... enfim, o cérebro já prestes a entrar em parafuso e, nada de chegar a um bom senso, mesmo porque, o parco  salário de professor de Português da Rede Estadual pouco ou, quase nada, dava para quitar os inúmeros compromissos que pipocavam todo dia 10 do mês; já tinha se tornado uma tortura para ele enfrentar os primeiros dias do mês... os demais se repetiam numa rotina assustadora: nenhum centavo no bolso. Pensando e pensando e andando a esmo foi quando viu um cartaz pendurado nas costas de um ancião que dizia em letras garrafais: " COMPRA-SE..... PAGA-SE A VISTA." Atormentado pelas dívidas e num gesto tresloucado dirigiu-se até o ancião e se prontificou a vender uma "vista" já que tinha duas e, uma só lhe bastaria pelo final da vida. Com a venda da "vista" poderia acertar a sua tão tormentada conta bancária, pensou e, feliz se aproximou do velho e disse:

_ Meu senhor, eu quero vender uma "vista" , o que devo fazer para consumar o ato?

O velho todo assustado pelo inusitado da proposta gaguejou algumas palavras, respondendo:

_ Não entendi... O senhor quer vender o quê?

_ Uma "vista" como está ai anunciado.

_ Não, o senhor deve estar enganado... Aqui diz que "Compra-se Ouro e paga-se a vista."

_ O senhor é que está mal informado, pois, se for para pagar em dinheiro e na hora usa-se a "CRASE" e, fica:

"Compra-se ouro e paga-se à vista."  Sem a CRASE, subtende-se de que o senhor está pagando a VISTA ou seja um dos meus olhos.

Assim, a discussão foi aumentando e os transeuntes foram chegando: uns , davam razão ao velho; outros, mais letrados, davam razão ao professor, até que chegou um policial e sem maiores delongas os "convidou" para irem até a Delegacia de Polícia, onde o delegado com a sua sapiência resolveria o impasse.

Na delegacia o astuto delegado( estava no fim do seu plantão) indagou do motivo da pendenga e, quando tudo soube pelas bocas dos envolvidos, alisou o amplo bigode e sentenciou: 

_ Pelo sim, ou pelo não... Pela Crase ou pela não Crase, decido que o  senhor ancião deve consertar imediatamente o cartaz, colocando a Crase no devido lugar; já, o senhor professor deve o mais breve possível procurar o Dr. Jacinto, psiquiatra renomado de nossa cidade para deixar de pensar bobagens... Onde se viu vender uma vista? Era só que que me faltava no final do meu plantão. 

E, nada mais disse.

E, PENSAR QUE O FATO OCORREU NO SÉCULO XXI

Chega a ser uma piada para ser contada em um picadeiro de circo se não viesse da alta esfera da Polícia Militar Pública da Bahia. Um dos itens do Edital de inscrição para as provas do Concurso para Ingresso na Polícia Estadual da Bahia exigia das candidatas que para serem dispensadas do exame ginecológico teriam de apresentar um atestado médico dizendo que as mesmas tinham o hímen intacto. Após alguns questionamentos de parlamentares o Exmo. Sr. Jacques Vagner, Governador do Estado decidiu anular esta absurda exigência.
Absurda, por quê?:
1. Exporia as mulheres a uma situação constrangedora ao precisar provar se eram virgens, ou, não;
2.Caso os famigerados atestados caíssem nas mãos de pessoas inescrupulosas poderiam ser publicados na Net, expondo-as, dando margens a atos futuros desagradáveis;
3. Quando frente a frente com  bandidos essas policiais (virgens) teriam facilidades se mostrassem o famigerado atestado a eles, ou, poderiam ser motivos de tentativas de estupro pelos meliantes?
Bem, não vou me alongar em outras circunstâncias que invalidam esse ato "idiota" por parte de quem elaborou o edital. Deixo a cargo de vocês, leitores, para, enumerarem outros.
Só uma pergunta:

E, os homens, para não apresentar um atestado médico  de sua sexualidade precisavam ter fimose?

O TILINTAR DOS CINZEIROS!

O amor, sempre prestes a explodir entre eles,
Fazendo com que os momentos se tornassem intensos,
A ponto de uni-los em constantes demonstrações de carícias,
E. assim, em cada lugar, em cada cantinho, se debulhavam em ternos beijos,
Alguns cândidos; outros repletos de lascívia e fervor carnal.
Uma noite de lua cheia se postaram na sacada do prédio de 10 andares.
E, lá, se entregaram como nunca se tinham entregado e, a lua ficou envergonhada,
De contemplar tanta entrega em tão pouco tempo, pelos dois amantes,
Que, a despeito dos olhares furtivos dos vizinhos, gemiam e gemiam, como gatos no cio.
Ela, jurava entre gemidos roucos e ferinos de que o amor por ele a estava consumindo;
A cada dia, que passava - continuou - se sentia mais fraca e debilitada: O ar fugia-lhe dos pulmões.
Ele, de mãos postas também fazia o mesmo juramento: estava morrendo pouco a pouco e, sem ar.
Uma mariposa esvoaçou por sobre eles e se sentiu tonta e quase desmaiou: faltou-lhe o ar puro.
Ignorando a lua e as estrelas continuaram em suas lides amorosas e se acariciaram com furor
E, com furor, os lábios se sentiram atraídos para a carícia mais desejada: o beijo molhado.
Foi, então que eu escutei (estava na sacada ao lado) o tilintar de vidros se chocando;
Ou, o espedaçar de cristais se quebrando ao receber a martelada do ignóbil ébrio,
E, atônito, compreendi que as bocas que se procuravam com ânsia desmedida,
Nada mais eram do que dois "CINZEIROS" repletos do odor nauseabundo do vício maldito,
Alimentados por milhares de cigarros que ora estavam a destruir os pulmões dos amantes.
Entontecidos, eu e a mariposa, pela fumaça parda que subia ao céu para macular a lua,
Nos retiramos bruscamente para nossos abrigos: eu, o interior do apê; ela, a luz de um poste.
Por um tempo ainda ouvi o tilintar dos "CINZEIROS" até que um dia, fui velá-los numa noite sem lua...
Ambos, morreram, de CÂNCER, nos pulmões... Por sobre os caixões uma mariposa esvoaçava.

OS SONHOS DO MALAQUIAS

Malaquias sonhou!
Sonhou pela noite adentro,
Sonhou pela madrugada afora
E, quando acordou sonhou fora da cama.
Sonhando ele caminhou pelas ruas e parques
Sem se preocupar com os sonâmbulos que não sonhavam
E, que, como autômatos andavam de olhos esbugalhados.
Ele perambulou pelas ruas, vias e vielas de olhos fechados
Como se fora um caracol enfurnado no aconchego da concha,
Ou, como, um morcego voando sem rumo à luz do sol.
Malaquias sonhou os sonhos que a vida não lhe realizou:
Foi amante ferino, viril e romântico; quando, nunca, amou;
Foi milionário e dono de incontáveis casas; quando, nunca, teve moradia;
Foi exímio motorista de um ônibus; quando, nunca, tirou os pés do solo;
Foi pai de filhos lindos; quando, nunca se casou por fatal esterilidade.
Enfim, Malaquias, sonhou todos os sonhos que um dia quisera tê-los vividos
E, sonhando de olhos fechados e o coração aberto foi atropelado e, morreu.
Malaquias continua, onde deve estar ( não faço ideia) sonhando os sonhos estraçalhados.

NOVOS BILIONÁRIOS !

A revista Forbes acaba de publicar a sua lista anual dos bilionários desse nosso incrível planeta Terra. Nesse ano fazem parte dela  os nossos conhecidos apresentadores de programas televisos: Silvio Santos e Edir Macedo.
O primeiro, já conhecido de todos os brasileiros iniciou sua carreira milionária vendendo ilusões no Baú da Felicidade. Milhões de incautos compraram os carnês apostando que um dia certamente seriam sorteados com uma casa ou algo assim. É evidente de que o prêmio sai para um, ou quem sabe dois concorrentes, mas, a ilusão de ser um ganhador e de arrumar a vida com mais facilidade leva o indivíduo a apostar cada vez mais e, assim, o pouco quinhão que possui vai para os cofres de quem ganha muito, pois, " de grão em grão, a galinha enche o papo." Durante décadas o "expert" em divertir  o público e, ao mesmo tempo, tomar o seu dinheiro, foi enchendo o seu cofre de $, enquanto os míseros sonhadores deixavam escapar pelas mãos o pouco dinheiro gasto com o verdadeiro suor do rosto.Hoje, aqueles que apostaram na tele-sena e no carnê do Bau da felicidade, devem estar tristes... mas, o "galã" oitentão está rindo á toa com o seu nome na lista anual da Forbes.
 O segundo é conhecido também da população mais sofrida e pobre do nosso rico Brasil. A diferença entre os seguidores do Silvio Santos e do Edir Macedo está na fé; não na fé de ser sorteado para ganhar uma casa, mas, sim, na fé de ganhar o tão desejado e difícil Reino dos Céus. O primeiro usa de artimanhas tentadoras para vender o seu "produto", enquanto o segundo usa da lábia fácil para vender um terreno no Reino dos Céus. Ambos, vivem de enganar os mais sofridos e banidos das fortunas e das coisas boas que elas proporcionam. Para os dois novos bilionários da revista Forbes certamente a máxima que a Biblia prega é válida: " Para quem tem muito, o muito lhe será acrescentado e para quem tem pouco, o pouco lhe será tirado." É evidente de que a compreensão e interpretação desse texto deriva ao sabor do interesse de cada um.
De uma coisa eu tenho certeza: Nem o apresentador de TV aos domingos e nem o pregador e escritor de todo o dia poderão modificar a minha vida, pois, sou descrente daqueles que vendem "ilusões".
Nosso Senhor Jesus Cristo, nasceu pobre, viveu pobre e morreu pobre numa época e num local onde pululavam as riquezas e ladroagens (Roma antiga). Se tivesse a índole de amealhar riquezas certamente seria o homem mais rico da época e, se tivesse a lista Forbes, ocuparia o primeiro lugar e, no entanto...

OS DESATINOS DE MINHA ALMA !

E, não é que, a minha alma me surpreendeu hoje com mais uma de suas loucuras: cometeu inúmeros desatinos e, todos eles, sem a minha prévia autorização. Às vezes penso e penso com seriedade em tomar uma decisão mais drástica quando ela me desobedece e , passa, a querer viver, uma via própria. Já tive inúmeros aborrecimentos com suas atitudes impensadas; já cheguei mesmo a ficar de "calças curtas" principalmente com suas aventuras romanescas. Algumas vezes ela se porta com uma maturidade de fazer medo, mas, em outras, se torna uma criança, despindo as razões e as emoções. Teve uma vez em que ela me deixou sem avisar e se aventurou pelo campo desconhecido (para ela) da paixão inaudita. Sofreu e sofreu muito e, quando regressou ao meu âmago estava que é só farrapos. Nesse dia, tomei a decisão ( e, não cumpri) de levá-la para uma consulta com um psiquiatra. Creio, que foi o meu grande erro, pois, a partir de então, passou a cometer mais desatinos, como os que hoje vou relatar para vocês, meus queridos leitores:

1. Leu e releu incontidas vezes os clássicos da literatura russa: Ana Karenina  e Guerra e Paz, do renomado escritor Tolstói;

2. Escutou por mais de 20 vezes a música SMILE, cantada por Nat King Cole 

3.Encheu uma taça com espumas das águas azuis do Oceano Pacífico e a bebeu como se fora da mais requintada champanhe da França;

4. Subiu até as nuvens e nelas se deitou com trejeitos sensuais e, lá permaneceu, até que o sol se escondeu e a lua apareceu;

5. Numa praia deserta (que ela procurou e achou) se despiu de suas vestimentas e nua, permitiu que a aragem da tarde ventilasse o seu corpo, já bastante queimado pelos raios do sol;

6. Imaginando ser uma Sereia, mergulhou com voracidade nas águas revoltas do Mar do Norte e procurou com frenesi o deus Netuno (para o quê, não o sei dizer);

7. Num ímpeto alucinante alcançou a estrela Vésper e lá permaneceu até que um meteoro ao passar zumbindo a assustou, fazendo-a, regressar a esse mundo;

8. Disfarçada de Pierrô, adentrou num salão de baile de carnaval e amou intensamente a bela Colombina;

9. Num voo da TAM chegou até a cidade luz, Paris, e, sentada num dos inúmeros cafés, saboreou uma taça de vinho, ouvindo a música La Vie En Rose, cantada pela magnífica Edith Piaff;

10. Montada num belo garanhão tordilho cavalgou pelas planícies e planaltos atrás de uma rês fugidia;

11. Cansada, extenuada de tantos desatinos regressou e adormeceu no recôncavo mais íntimo do meu coração e, cantou a música " Esse cara, sou eu", do rei Roberto Carlos.

Enfim, meus queridos leitores, vivo sempre temeroso dos desatinos que minha alma comete. Quando ela sai do meu corpo para suas "loucuras" eu entro em um transe hipnótico ou, à vezes em catarse e, inerte, fico à espera de seu retorno. Às vezes quero ficar bravo,um leão,  mas, quando ela retorna, eu me torno um carneiro e, feliz, lhe falo baixinho: " Querida alma, assim você me mata." e, continuo: "Ai, ai, se te pego".

Em outra oportunidade relatarei mais desatinos de minha alma.
Desatinos e mais desatinos, o que fazer quando se tem uma alma aventureira?