sábado, 23 de março de 2013

QUANDO A SUPRESSÃO INDEVIDA DA CRASE PROVOCA UM FORROBODÓ!

Aconteceu com o professor Marion Benevido Santarém. Estava o ilustre Mestre a andar de um lado para outro na Praça da Matriz na cidade de Butira   revendo mentalmente as contas que tinha a pagar; os incontáveis carnês feitos em suaves parcelinhas; o cheque especial estourado; o salão de beleza da querida consorte; a escola dos filhos; o conserto do carro... enfim, o cérebro já prestes a entrar em parafuso e, nada de chegar a um bom senso, mesmo porque, o parco  salário de professor de Português da Rede Estadual pouco ou, quase nada, dava para quitar os inúmeros compromissos que pipocavam todo dia 10 do mês; já tinha se tornado uma tortura para ele enfrentar os primeiros dias do mês... os demais se repetiam numa rotina assustadora: nenhum centavo no bolso. Pensando e pensando e andando a esmo foi quando viu um cartaz pendurado nas costas de um ancião que dizia em letras garrafais: " COMPRA-SE..... PAGA-SE A VISTA." Atormentado pelas dívidas e num gesto tresloucado dirigiu-se até o ancião e se prontificou a vender uma "vista" já que tinha duas e, uma só lhe bastaria pelo final da vida. Com a venda da "vista" poderia acertar a sua tão tormentada conta bancária, pensou e, feliz se aproximou do velho e disse:
_ Meu senhor, eu quero vender uma "vista" , o que devo fazer para consumar o ato?
O velho todo assustado pelo inusitado da proposta gaguejou algumas palavras, respondendo:
_ Não entendi... O senhor quer vender o quê?
_ Uma "vista" como está ai anunciado.
_ Não, o senhor deve estar enganado... Aqui diz que "Compra-se Ouro e paga-se a vista."
_ O senhor é que está mal informado, pois, se for para pagar em dinheiro e na hora usa-se a "CRASE" e, fica:
"Compra-se ouro e paga-se à vista."  Sem a CRASE, subtende-se de que o senhor está pagando a VISTA ou seja um dos meus olhos.
Assim, a discussão foi aumentando e os transeuntes foram chegando: uns , davam razão ao velho; outros, mais letrados, davam razão ao professor, até que chegou um policial e sem maiores delongas os "convidou" para irem até a Delegacia de Polícia, onde o delegado com a sua sapiência resolveria o impasse.
Na delegacia o astuto delegado( estava no fim do seu plantão) indagou do motivo da pendenga e, quando tudo soube pelas bocas dos envolvidos, alisou o amplo bigode e sentenciou: 
_ Pelo sim, ou pelo não... Pela Crase ou pela não Crase, decido que o  senhor ancião deve consertar imediatamente o cartaz, colocando a Crase no devido lugar; já, o senhor professor deve o mais breve possível procurar o Dr. Jacinto, psiquiatra renomado de nossa cidade para deixar de pensar bobagens... Onde se viu vender uma vista? Era só que que me faltava no final do meu plantão. 
E, nada mais disse.

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