quinta-feira, 24 de outubro de 2013

DORVALINA



Dorvalina resolveu ser condescendente. Asssim, que a noite se aposssou do que restou da tarde, ela se "empetecou" toda e se dirigiu para o bar do Amâncio, que fica numa esquina próxima da praça da Matriz. Lá chegando, tratou de se acomodar numa cadeira rente ao balcão onde estavam dispersos copos das mais variadas bebidas(restos). Ao seu lado de vez em quando sentava uma ou outra mulher sequiosa de receber e dar carinhos, mas, o tempo passou e ninguém se atreveu a lançar um olhar que seja para uma delas, pois, Dorvalina estava lá.Sentada de pernas cruzadas e à mostra até onde chegava a cinta liga, ela bebericava um "rabo de galo", embora a sua bebida preferida fosse Campari com limão e algumas pedras de gelo, mas, issso só lá pelas tantas da madrugada. Eu,quando cheguei,logo em seguida me posicionei atrás da mesa de bilhar, num banquinho meio capenga de uma das pernas. Em alguns minutos o bar se encheu de todo tipo de ser noctívago; desde poeta, como eu e gigolôs, andarilhos, maridos mal- amados e jovens em busca de uma noite de loucuras nos braços de... Dorvalina. De uma vitrola saía a voz melodiosa de Nelson Gonçalves cantando a música "Deusa do Asfalto", enquanto algumas mulheres da "vida" se imiscuiam dentre os mais sãos, onde a bebida ainda não os tinha feito de palhaços (no dizer de Dorvalina). Para aquele que conseguisse uma bela "prenda", bastava combinar o preço com o dono do bar, subir os degraus de uma escada meio podre e suja e ir se alojar num minúsculo quartinho onde em pouco tempo alcançaria o paraíso ou o inferno, dependendo de seu estado etílico. Nessa noite eu fui agraciado pela sorte, pois, antes do galo cantar 3 vezes ela, a sensual e encantadora Dorvalina chegou para mim e me sussurrou no ouvido palavras que nunca pensei em ouvir de sua boca carnosa, idêntica a uma ventosa do tentáculo de um polvo:
" Poeta, hoje a noite lhe pertence... suba e me espere no quarto onde tem uma sacada...deixe a janela aberta para entrar os raios da lua... leve o meu drinque preferido..."
Trêmulo,solicitei ao barman o drinque e subi as escadas guiado pelo tilintar dos cubos de gelo nas paredes do copo. Do cimo da escada, ainda pude ver vários casais dançando... agora, Cauby Peixoto cantava SMILLE ( Sorria). Assim que entrei no quarto, desfiz a cama e me despi e fiquei num estado letárgico esperando a morena mais desejada do Bairro, quiça da cidade. A lua estava imponente en sua extraordinária alvura. Em, um lugar qualquer do telhado uma gata miava demonstrando estar pronta para o sexo, assim, como eu, também o estava.
A madrugada estava silente. Quando Dorvalina entrou na pequena alcova, o mundo se transformou para mim. Em instantes me vi ser sugado, lanhado,mordido e possuído por uma fera voraz. O suor me empapou como se eu estivesse mergulhado em uma cachoeira.No leito, rodopiei, esquivei, gemi, gritei e desmaiei.
O sol ao adentrar pela janela me acordou, ferindo-me os olhos. Aos poucos me dei conta da situação e procurei por Dorvalina. Ah, procura inútil, apenas encontrei sobre o criado mudo um copo cheirando a Campari e as minnhas roupas jogadas pelo chão e, então vi, com os olhos esbugalhados feridas sangrentas espalhadas pelo meu peito como se tivesse sido causadas por garras aduncas.
Mais uma vez me perguntei: Quem é realmente Dorvalina? Uma mulher fera ou uma gata eternamente no cio.
Antes de me retirar do bar, a faxineira me entregou um bilhete amassado e sujo. Ao lê-lo, estremeci de prazer , pois tinha somente uma frase: "Poeta, faça para mim um poema que retrate a minha vida. Dorvalina"
Respondendo para ninguém, disse: "Sim, minha fera, amanhã, comporei o poema"

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