O mar que não vejo está revolto;
As ondas que não vejo estão endiabradas;
A areia que não vejo está tórrida;
A falésia que não vejo está nua e calcitante...
Nada vejo por querer ver muito.
Estou há séculos à beira-mar à espera do inviável.
Sou gaivota desnuda de penas e bico;
Sou siri despido de casca e pinças;
Sou craca desprendida dos cascos de navios;
Sou concha vazia de pérolas âmbar.
O mar que vejo está dócil;
As vagas balouçam e fazem a criança dormitar;
Os grânulos de areia formam travesseiro para o marinheiro cansado;
As falésias íngremes reverberam sombra para o naúfrago...
Estou há séculos vendo e muito vendo:
Vejo os raios de lua incidirem nas espumas alvas;
Vejo as mãos calejadas dos pescadores acariciarem as águas;
Vejo os peixes e demais viventes do mar rodopiarem no ar de alegria,
Vejo a sereia nadar com volteios deliciosamente sensuais.
Vejo tudo, apenas não vejo o inviável,
Mas, o que é o inviável?
A não ser aquilo que não me é permitido ver.
Para mim é inviável:
O amor;
A felicidade;
A paz;
A esperança...
O mar não me é inviável...
Por não me ser inviável farei dele minha morada.
Espumas, vagas, conchas e peixes... Meus amantes seculares.
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
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