quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

UMA VIAGEM DO NADA PARA O NADA!

Tinha que iniciar minha viagem. Não podia ficar parado eternamente no lugar em que estava. Meus pés já tinham criado raízes e um tubérculo teimava em nascer e crescer pelas minhas pernas. Dentre os ralos fios de cabelo uma ave qualquer fez o seu ninho. Por mais que eu quisesse ou tentasse afugentá-la, ela não dava mostras de ir embora; aliás, não ligava a mínima para os meus gestos estouvados. Nem mesmo espantalho eu era. A única coisa que ainda restava era saber que eu tinha consciência de que não era ninguém. Esta constatação aliviava um pouco o peso descomunal da rocha que carregava sobre os ombros. Fazia frio. Um vento gélido assoprava em minha direção enregelando os dedos das mãos, visto que os pés estavam afundados no terreno estéril e pedregoso. Tinha que partir. De uns dias para cá o coração dava mostras de querer pulsar em outras paragens. Até a alma, que sempre ficou calada dentro do corpo começou a dar suspiros enigmáticos. Sim, o corpo todo pediu para ir embora e, fui.
Fui, sem saber para onde ir. Por que saber? Para um andarilho sem vida e sem horizonte qualquer lugar serve, mesmo que não seja um qualquer lugar. Assim, desgarrado do lugar onde estava e que não era lugar nenhum, fui para outras plagas. Senti, somente, deixar á deriva a ave que por tanto tempo morou em meus cabelos. Azar o dela, pensei e fui.
Depois de caminhar por um século cheguei num lugar em que nada existia. Nem mesmo o lugar existia. Extenuado pela peregrinação sem fim, coloquei um fim na desdita que me fazia andarilho. E, desmaiei.
Um dia qualquer de um mês qualquer de um ano qualquer acordei.
Acordei e constatei que não estava em lugar nenhum, porque, neste lugar não tinha flor.
Era dia escuro e cheio de raios. O negrume não me assustou, mesmo porque eu não era ninguém.
Fiquei e permaneci pelo tempo que não sei precisar. Novamente uma ave medonha veio, pousou em minha cabeça e fez dos meus cabelos o seu ninho e aí, morou e criou seus rebentos. Também os meus pés se encravaram no chão e criaram raízes e, tubérculos nasceram e serviram de alimentos para roedores desconhecidos.
Mais uma vez me vi exteriorizado em tronco ressequido( Ah, que felicidade se ao menos eu fosse um espantalho).
Uma noite em que a Lua se permitiu aparecer fiz um esforço hercúleo e decifrei o grande enigma de minha vida e, chorando ( sem ter olhos) constatei:Eu era e sou um espectro que vagueia sempre saindo do nada e indo para o nada... Um ovo acabou de romper e um pássaro piou...

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