domingo, 22 de setembro de 2013

68. A VIGARISTA (ARTISTA?, OU MULHER!)



Quando ela chegou, ela se apossou de tudo!
Como se tudo lhe pertencesse; não tivesse dono.
Chegou como uma tigresa à espreita da presa
E, se fez fera, embora aparentasse ser criança.
Dançou e sapateou por sobre o lençol de linho
Amoldou-se no leito e se enrodilhou como serpente
E, então, permitiu que dos belos olhos verdes
Raios refulgissem e iluminassem a tépida alcova.
Como uma inocente virgem fez de mim um rei
E, me presenteou, com suas jóias mais caras e sublimes:
Deu-me os seios e disse serem pérolas nacaradas;
Deu-me o colo arfante e disse ser mina de rubis;
Deu-me o ventre alvo e sensual e disse ser prata reluzente,
E, por fim, deu-me o sexo túrgido e disse ser veio de ouro.
Em troca, pediu-me que lhe desse apenas bijuterias:
Contas de vidro; anéis de latão e uma pulseira de balangandãs.
Em instantes fí-la compreender que meus presentes seriam outros,
Sim, outros, de maior valor, pois uma mulher inocente, tudo merecia.
E, lhe dei os tesouros guardados, como poeta sonhador.
Dei-lhe do firmamento a jóia maior e mais bela: a estrela Vésper;
Dei-lhe as vozes maviosas do vento, do mar e dos pássaros
E, por último, dei-lhe o meu coração e o seu intenso pulsar.
A noite, se tornou eterna... Amamo-nos como dois colegiais,
Ou como dois amantes fogosos destituídos da lucidez:
Eu, como um deus de Atenas; ela, como uma messalina Romana.
E, sonhei... Sonhei que levitava num torpor lascivo e febril
E, acordei, e me vi só, deitado no lençol alvo, tingido de sangue.
Estupefato, deparei com o meu peito aberto e vazio, do meu coração.
Ainda, nos últimos estertores de vida, tive forças para compreender
Que a mulher-criança, hábil vigarista, me vilipendiou o peito
Arrancando sem piedade a jóia mais preciosa para vendê-la a Quem desse mais:
Mercadores do deserto; Ciganos andarilhos e, ladrões da noite.
Ah, pela minha credulidade deixo a vida expirando em golfadas de sangue.
Sobre o meu peito a visão que se descortina ainda me mata mais:
A estrela Vésper se apagando, assim, como as vozes do mar, do vento e dos pássaros... Um gato brincava no tapete com a pulseira de balangandãs.
Nada ela quis...
Quis sim, o meu coração!
Quem é ela? Vigarista ou Artista?
Ou, apenas, MULHER.

Composta no Café Tortoni em Buenos Aires
19-09-13



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