sexta-feira, 27 de abril de 2018
UMA INEXORÁVEL CONSCIÊNCIA
Hoje, tenho, a inexorável consciência, de ter tido
Uma vida sem ter tido a consciência de não saber,
Que, embora, pensasse, que sabia tudo, de nada, realmente,
Eu sabia.
Tive, infinitas vezes, a sensação que era o que eu queria ser,
Embora, para todos os que me rodeavam, eu, era um inconsciente.
Fui, sem ter sido, e, se não o fui, era, porque, não o deveria ser:
Inexorável consciência.
quarta-feira, 25 de abril de 2018
DOIS LIVROS QUE ME FALTAVAM PARA A COLEÇÃO DE DOSTOIÉVESKI
Felizmente,numa garimpagem de mais de duas horas na Livraria Nobel, no Shopping, em São José, encontrei os dois livros que me faltavam para completar a coleção completa de Dostoiéveski. São eles:
1. UMA ANEDOTA INFAME - DA L& PM POCKET COM 95 PÁGINAS; (TRATA-SE DE UMA SÁTIRA AFIADA E IMPLACÁVEL):
" IVAN ILÍTCH PRALÍNSKI, general e alto funcionário público, tem fama de liberal. Bonito e requintado,um poeta na alma, anda com uma condecoração no pescoço e sonha em ser estadista. Ao sair de um jantar, passa ao acaso na frente da festa do casamento de um de seus subalternos mais humildes e vê aí uma oportunidade de dar a honra de sua bondosa presença ao pobre Pseldonìmov. Mas nada sai como planejado, e sua deferente visita se transforma numa espiral de constrangimento." Retrata a luta de classes da Rússia do século XIX, um de seus temas mais caros. Sarcasticamente revela a visão de mundo de Dostoiéveski: o ser humano apoia seu semelhante ao mesmo tempo em que o esmaga cruelmente
2. HUMILHADOS E OFENDIDOS - MARTIN CLARET - COM 400 PÁGINAS.
Era uma vez um país onde o ardor das paixões sucumbia ao frio dos costumes. Havia naquele país uma cidade bela e lúgubre, onde os ricos se repimpavam no luxo mais ostensivo e os pobres não tinham o que comer. Viviam naquela cidade cinco jovens, dois homens e três mulheres, cujos afetos se entrelaçaram a ponto de formarem um complexo polígono amoroso, proporcionando-lhes uma efêmera felicidade mesclada com muito sofrimento.
Aquele severo país é a Rússia na época dos czares; aquela cidade regida por formidáveis contrastes sociais é São Petersburgo, sua capital esplêndida e miserável. E aqueles jovens que sofrem tanto por amor são protagonistas do romance HUMILHADOS E OFENDIDOS, DE FIODOR DOSTOIÉVESKI.
Construído em formato novelesco, este livro sintetiza a concepção sociológica do escritor russo, bem como sua visão da confusa sexualidade humana, e configura dessa maneira, uma leitura imprescindível para quem se interessar seriamente pela obra literária dele.
Recomendo estes dois livros aos meus seguidores.
1. UMA ANEDOTA INFAME - DA L& PM POCKET COM 95 PÁGINAS; (TRATA-SE DE UMA SÁTIRA AFIADA E IMPLACÁVEL):
" IVAN ILÍTCH PRALÍNSKI, general e alto funcionário público, tem fama de liberal. Bonito e requintado,um poeta na alma, anda com uma condecoração no pescoço e sonha em ser estadista. Ao sair de um jantar, passa ao acaso na frente da festa do casamento de um de seus subalternos mais humildes e vê aí uma oportunidade de dar a honra de sua bondosa presença ao pobre Pseldonìmov. Mas nada sai como planejado, e sua deferente visita se transforma numa espiral de constrangimento." Retrata a luta de classes da Rússia do século XIX, um de seus temas mais caros. Sarcasticamente revela a visão de mundo de Dostoiéveski: o ser humano apoia seu semelhante ao mesmo tempo em que o esmaga cruelmente
2. HUMILHADOS E OFENDIDOS - MARTIN CLARET - COM 400 PÁGINAS.
Era uma vez um país onde o ardor das paixões sucumbia ao frio dos costumes. Havia naquele país uma cidade bela e lúgubre, onde os ricos se repimpavam no luxo mais ostensivo e os pobres não tinham o que comer. Viviam naquela cidade cinco jovens, dois homens e três mulheres, cujos afetos se entrelaçaram a ponto de formarem um complexo polígono amoroso, proporcionando-lhes uma efêmera felicidade mesclada com muito sofrimento.
Aquele severo país é a Rússia na época dos czares; aquela cidade regida por formidáveis contrastes sociais é São Petersburgo, sua capital esplêndida e miserável. E aqueles jovens que sofrem tanto por amor são protagonistas do romance HUMILHADOS E OFENDIDOS, DE FIODOR DOSTOIÉVESKI.
Construído em formato novelesco, este livro sintetiza a concepção sociológica do escritor russo, bem como sua visão da confusa sexualidade humana, e configura dessa maneira, uma leitura imprescindível para quem se interessar seriamente pela obra literária dele.
Recomendo estes dois livros aos meus seguidores.
terça-feira, 24 de abril de 2018
EM TOCA DE JAGUATIRICA PREÁ NÃO ENTRA
Frenegildo Freitas apareceu em Cordoália das Neves em uma noite de escuridão total. A Lua estava em greve. Já por vários dias ela não dava sinais de vida. Os pacatos moradores da Vila evitavam sair à noite para não terem maiores transtornos com algum gatuno, ou então, alguma alma penada, visto que o cemitério “Recanto da Saudade” ficava bem próximo da praça principal. Uma hora ou outra, um mais afoito percorria as ruelas vazias e escuras com passos apressados em busca do abrigo que pudesse protegê-lo dos perigos escondidos nas sombras da noite. Muito raro era encontrar um casal de namorados sob a proteção de uma marquise se entregando às delícias do amor. Foi nesta condição que Frenegildo aportou com seus parcos pertences na pensão “Prato Feliz” de propriedade da viúva Bresália Fortuna. De imediato a matrona tentou induzi-lo a procurar outro local para ele fincar pé, mas, depois de ouvir a sua ladainha ela se condoeu e preencheu o livro de registro de hóspedes dando-lhe o quarto ao lado do único banheiro do imóvel. Por esta noite e as duas consecutivas Frenegildo não deu as caras na rua. Tratou sim, de descansar o corpo moído pela viagem no lombo do burro Praxedes. Só depois que sentiu o corpo e os músculos em ordem e, principalmente as pernas é que ele deu ares ao povinho do lugarejo. Sem maiores preâmbulos chegou ao bar “Alvorada”; sentou-se num banco e pediu um martelo da melhor pinga da região. De imediato, a negra Alfonsina lhe serviu a bebida. Talagada vai, talagada vem e ele indiferente ao movimento do bar e da rua se pôs a mordiscar um palito de fósforo e sem maiores preâmbulos cuspia a saliva pegajosa e escura no piso sujo e encardido do bar. Neste ínterim deu entrada no boteco o anão Gurupita Pedregoso. Desde que o circo “Uma noite em Moscou” retirou os trapos de lona da cidade, o anão resolveu ficar instalado numa das casas da rua “Pintão AthaÍde”, onde o recebeu com carinho a donzela Tetê Carneiro já entrada na casa dos sessenta anos( Nunca se casou, por isto era tida por todos uma donzela). Bem, num piscar de olhos, o intrigante anão perguntou à queima-roupa para o Frenegildo o que ele fazia de melhor. O nosso herói ( ou quase) respondeu sem embaraço algum de que ele era campeão em rabo-de-arraiá. “Rabo-de-arraia?”. Perguntou espantado o gorducho anão. “Isto mesmo”, respondeu Frenegildo sem se dignar a abaixar os olhos e fitar o pobre anão. Como um rastilho de pólvora aceso a notícia percorreu todos os becos; buracos; ruelas; barracos; casas e até mesmo o cemitério se viu tomado pela notícia bombástica a ponto do coveiro Pestanildo declarar feriado no campo santo.
Por uns meses Frenegildo gozou de sua reputação de briguento imbatível em rabo-de-arraia. A primeira demonstração de sua habilidade “rabista” aconteceu numa quermesse na fazenda do Major Fragata. A festa ia de vento em popa quando um valentão cismou de passar a mão nas curvas da donzela Nenê Pintassilgo; moçoila dos seus dezesseis anos e cheia de fricotes. Com gritinhos estridentes ela chamou a atenção do Frenegildo que sem perguntar isto ou aquilo, aplicou um rabo-de-arraia no galanteador que, sem despedir do Major voou por sobre as barracas e foi aterrissar no curral de bezerros, onde ficou a noite inteira e só acordou para mamar nas tetas da vaca Favorita e desde então passou a berrar como um garrote desmamado. A fama de “rabista” de Frenegildo correu o sertão. Tornou-se imperioso conhecer o mais famoso aplicador de rabo-de-arraia das redondezas. E, assim, desfrutando de sua habilidade com as pernas ele foi vivendo e levando a vida em calmaria, até que...
Até que um dia também aportou em Cordoália das Neves um sujeito esquisito. Era esquisito por completo, tanto na carcaça, quanto no gênio. Tinha o corpo disforme. Era pequeno nas partes baixas e avantajado nas partes altas. A pele não tinha classificação de cor: ora era escura; ora era negra; ora era parda, mas, nunca branca. Parecia até que era um camaleão disfarçado de gente. Tinha os olhos encavados no rosto e nunca, mas nunca mesmo brilharam por alguém ou algum fato. Eram frios como os olhos de um urutu. Sisudo, não trocava palavra à toa. Só cuspia, por assim dizer, algumas palavras para o gasto. Quando chegou num dia chuvoso na praça Albertine no ônibus das quinze horas sentiu que estava pisando no lugar certo; na terra onde deitaria morada até que a morte o levasse para outra vida melhor. E, assim, Pretonildo Pacífico deitou amarras na bucólica cidade e, abriu o bar “ URRO DE LEÃO” na rua Cizino Freitas, número 65.
No começo das atividades comerciais o bar vendia bebidas e belisquetes e, atendia a freguesia que gostava de dar umas e outras talagadas, sempre acompanhados de comentários jocosos e atrevidos. Passado algum tempo o enigmático comerciante passou a abrir o bar somente após as dezenove horas e instalou sobre o balcão uma lâmpada vermelha e enfeitou as paredes com papel celofane também vermelho. Com alguns golpes de marreta derrubou as paredes de um cômodo e instalou no canto uma sonata e, para terminar, encheu de garotas atrevidas, vindas todas da capital. No início foi um banzé dos diabos, A sociedade Cordoaliense botou a boca nos trombones. Mas, tudo em vão, mesmo por que o frequentador mais assíduo era o Doutor Delegado Josenildo Paranhos. De nada também adiantou os reclamos do padre Pedregoso e dos coroinhas. Pontualmente, às sete horas da noite, a luz vermelha se acendia e a imoralidade reinava dentre as quatro ou mais paredes do bar “URRO DE LEÃO”.
Para resolver o impasse a Sociedade Irmãs do Espírito Santo, constituída pelas abonadas e gorduchas matronas Cordoalienses se reuniu após muita discussão chegaram a conclusão de que só uma pessoa poderia devolver a moralidade à cidade: FRENEGILDO FREITAS e seu rabo-de-arraia. Conversa vai, conversa vem e convenceram o nosso herói (será?) a tomar atitudes com o imoral Pretonildo, que, argumentaram: “Com um rabo-de-arraia bem aplicado ele voa para outras bandas e deixa em paz nossos maridos.” Dito e feito.
A noite ainda estava capengando quando Frenegildo aportou no bar “URRO DE LEÃO”e, peremptoriamente gritou: “Nêgo do satanás, sai da toca que aqui tem homem pra te mandar pros infernos.” As últimas sílabas de “infernos” ainda estavam no ar, quando saiu em mangas de camisa e calção de brim azul o disforme mortal. Cumpre avisar o amigo leitor que ele tinha passado sebo de carne de bode velho nas pernas que além de deixá-las luzidias também as deixavam terrivelmente escorregadias. Este artifício foi a “pedra no caminho” do “rabista” Frenegildo ( só mesmo o inigualável poeta Drumond para entendê-lo).
De um salto mirabolante Frenegildo aplicou o golpe. Mas, que decepção. Caído no chão sujo do bar o “rabista” contemplava o seu rival em pé e ainda rindo em gargalhadas. Não desanimou e tentou se levantar para aplicar outro golpe, quem sabe o mortal, mas, ficou só no intento, pois, sem dar uma palavra; sem avisar o energúmeno aplicou-lhe um bofetão no pé da orelha esquerda, para em seguida dar-lhe um pontapé nas partes baixas deixando-o desmaiado e sangrando pelas ventas. Coube ao anão Gurupita Pedroso arrastar o moribundo pelas calçadas até a pensão “Prato Feliz” onde ele permaneceu desmaiado e acamado por vários dias. “Quando numa bela manhã de setembro a passarinhada fazia algazarra na laranjeira ele acordou e foi interpelado pela senhora Bresália Fortuna, que, sem dó nem piedade perguntou: Frenegildo você vai voltar no bar “URRO DE LEÃO” para lavar sua honra”?
Com os olhos esbugalhados e num esgar de dor respondeu: “Eu tô louco por acaso? E, arrematou: EM TOCA DE JAGUATIRICA, PREÁ, NÃO ENTRA.” E, desabou num sono secular.
Frenegildo Freitas apareceu em Cordoália das Neves em uma noite de escuridão total. A Lua estava em greve. Já por vários dias ela não dava sinais de vida. Os pacatos moradores da Vila evitavam sair à noite para não terem maiores transtornos com algum gatuno, ou então, alguma alma penada, visto que o cemitério “Recanto da Saudade” ficava bem próximo da praça principal. Uma hora ou outra, um mais afoito percorria as ruelas vazias e escuras com passos apressados em busca do abrigo que pudesse protegê-lo dos perigos escondidos nas sombras da noite. Muito raro era encontrar um casal de namorados sob a proteção de uma marquise se entregando às delícias do amor. Foi nesta condição que Frenegildo aportou com seus parcos pertences na pensão “Prato Feliz” de propriedade da viúva Bresália Fortuna. De imediato a matrona tentou induzi-lo a procurar outro local para ele fincar pé, mas, depois de ouvir a sua ladainha ela se condoeu e preencheu o livro de registro de hóspedes dando-lhe o quarto ao lado do único banheiro do imóvel. Por esta noite e as duas consecutivas Frenegildo não deu as caras na rua. Tratou sim, de descansar o corpo moído pela viagem no lombo do burro Praxedes. Só depois que sentiu o corpo e os músculos em ordem e, principalmente as pernas é que ele deu ares ao povinho do lugarejo. Sem maiores preâmbulos chegou ao bar “Alvorada”; sentou-se num banco e pediu um martelo da melhor pinga da região. De imediato, a negra Alfonsina lhe serviu a bebida. Talagada vai, talagada vem e ele indiferente ao movimento do bar e da rua se pôs a mordiscar um palito de fósforo e sem maiores preâmbulos cuspia a saliva pegajosa e escura no piso sujo e encardido do bar. Neste ínterim deu entrada no boteco o anão Gurupita Pedregoso. Desde que o circo “Uma noite em Moscou” retirou os trapos de lona da cidade, o anão resolveu ficar instalado numa das casas da rua “Pintão AthaÍde”, onde o recebeu com carinho a donzela Tetê Carneiro já entrada na casa dos sessenta anos( Nunca se casou, por isto era tida por todos uma donzela). Bem, num piscar de olhos, o intrigante anão perguntou à queima-roupa para o Frenegildo o que ele fazia de melhor. O nosso herói ( ou quase) respondeu sem embaraço algum de que ele era campeão em rabo-de-arraiá. “Rabo-de-arraia?”. Perguntou espantado o gorducho anão. “Isto mesmo”, respondeu Frenegildo sem se dignar a abaixar os olhos e fitar o pobre anão. Como um rastilho de pólvora aceso a notícia percorreu todos os becos; buracos; ruelas; barracos; casas e até mesmo o cemitério se viu tomado pela notícia bombástica a ponto do coveiro Pestanildo declarar feriado no campo santo.
Por uns meses Frenegildo gozou de sua reputação de briguento imbatível em rabo-de-arraia. A primeira demonstração de sua habilidade “rabista” aconteceu numa quermesse na fazenda do Major Fragata. A festa ia de vento em popa quando um valentão cismou de passar a mão nas curvas da donzela Nenê Pintassilgo; moçoila dos seus dezesseis anos e cheia de fricotes. Com gritinhos estridentes ela chamou a atenção do Frenegildo que sem perguntar isto ou aquilo, aplicou um rabo-de-arraia no galanteador que, sem despedir do Major voou por sobre as barracas e foi aterrissar no curral de bezerros, onde ficou a noite inteira e só acordou para mamar nas tetas da vaca Favorita e desde então passou a berrar como um garrote desmamado. A fama de “rabista” de Frenegildo correu o sertão. Tornou-se imperioso conhecer o mais famoso aplicador de rabo-de-arraia das redondezas. E, assim, desfrutando de sua habilidade com as pernas ele foi vivendo e levando a vida em calmaria, até que...
Até que um dia também aportou em Cordoália das Neves um sujeito esquisito. Era esquisito por completo, tanto na carcaça, quanto no gênio. Tinha o corpo disforme. Era pequeno nas partes baixas e avantajado nas partes altas. A pele não tinha classificação de cor: ora era escura; ora era negra; ora era parda, mas, nunca branca. Parecia até que era um camaleão disfarçado de gente. Tinha os olhos encavados no rosto e nunca, mas nunca mesmo brilharam por alguém ou algum fato. Eram frios como os olhos de um urutu. Sisudo, não trocava palavra à toa. Só cuspia, por assim dizer, algumas palavras para o gasto. Quando chegou num dia chuvoso na praça Albertine no ônibus das quinze horas sentiu que estava pisando no lugar certo; na terra onde deitaria morada até que a morte o levasse para outra vida melhor. E, assim, Pretonildo Pacífico deitou amarras na bucólica cidade e, abriu o bar “ URRO DE LEÃO” na rua Cizino Freitas, número 65.
No começo das atividades comerciais o bar vendia bebidas e belisquetes e, atendia a freguesia que gostava de dar umas e outras talagadas, sempre acompanhados de comentários jocosos e atrevidos. Passado algum tempo o enigmático comerciante passou a abrir o bar somente após as dezenove horas e instalou sobre o balcão uma lâmpada vermelha e enfeitou as paredes com papel celofane também vermelho. Com alguns golpes de marreta derrubou as paredes de um cômodo e instalou no canto uma sonata e, para terminar, encheu de garotas atrevidas, vindas todas da capital. No início foi um banzé dos diabos, A sociedade Cordoaliense botou a boca nos trombones. Mas, tudo em vão, mesmo por que o frequentador mais assíduo era o Doutor Delegado Josenildo Paranhos. De nada também adiantou os reclamos do padre Pedregoso e dos coroinhas. Pontualmente, às sete horas da noite, a luz vermelha se acendia e a imoralidade reinava dentre as quatro ou mais paredes do bar “URRO DE LEÃO”.
Para resolver o impasse a Sociedade Irmãs do Espírito Santo, constituída pelas abonadas e gorduchas matronas Cordoalienses se reuniu após muita discussão chegaram a conclusão de que só uma pessoa poderia devolver a moralidade à cidade: FRENEGILDO FREITAS e seu rabo-de-arraia. Conversa vai, conversa vem e convenceram o nosso herói (será?) a tomar atitudes com o imoral Pretonildo, que, argumentaram: “Com um rabo-de-arraia bem aplicado ele voa para outras bandas e deixa em paz nossos maridos.” Dito e feito.
A noite ainda estava capengando quando Frenegildo aportou no bar “URRO DE LEÃO”e, peremptoriamente gritou: “Nêgo do satanás, sai da toca que aqui tem homem pra te mandar pros infernos.” As últimas sílabas de “infernos” ainda estavam no ar, quando saiu em mangas de camisa e calção de brim azul o disforme mortal. Cumpre avisar o amigo leitor que ele tinha passado sebo de carne de bode velho nas pernas que além de deixá-las luzidias também as deixavam terrivelmente escorregadias. Este artifício foi a “pedra no caminho” do “rabista” Frenegildo ( só mesmo o inigualável poeta Drumond para entendê-lo).
De um salto mirabolante Frenegildo aplicou o golpe. Mas, que decepção. Caído no chão sujo do bar o “rabista” contemplava o seu rival em pé e ainda rindo em gargalhadas. Não desanimou e tentou se levantar para aplicar outro golpe, quem sabe o mortal, mas, ficou só no intento, pois, sem dar uma palavra; sem avisar o energúmeno aplicou-lhe um bofetão no pé da orelha esquerda, para em seguida dar-lhe um pontapé nas partes baixas deixando-o desmaiado e sangrando pelas ventas. Coube ao anão Gurupita Pedroso arrastar o moribundo pelas calçadas até a pensão “Prato Feliz” onde ele permaneceu desmaiado e acamado por vários dias. “Quando numa bela manhã de setembro a passarinhada fazia algazarra na laranjeira ele acordou e foi interpelado pela senhora Bresália Fortuna, que, sem dó nem piedade perguntou: Frenegildo você vai voltar no bar “URRO DE LEÃO” para lavar sua honra”?
Com os olhos esbugalhados e num esgar de dor respondeu: “Eu tô louco por acaso? E, arrematou: EM TOCA DE JAGUATIRICA, PREÁ, NÃO ENTRA.” E, desabou num sono secular.
domingo, 22 de abril de 2018
A PAIXÃO E A INTELIGÊNCIA
A paixão e a inteligência são tão equidistantes quanto
O Sol e a Lua.
A paixão acomete os crédulos nos sentimentos alheios,
Como se eles realmente fossem verdadeiros.
São almas que estão à deriva de um grande e real amor,
E, por isto, se entregam de corpo e alma, sem prever as consequências
Futuras; os desenganos e as decepções que certamente virão em
Algum momento deste doentio relacionamento.
A paixão é momentânea, é como a fogueira acesa com palhas e,
Nunca com madeira de lei. É impossível desejar que a paixão permaneça.
É o mesmo que pedir lume à fogueira extinta.
Geralmente os que se declaram no ardor da paixão um dia, não importa, quando,
Causarão uma decepção incomensurável no companheiro (a) sem se importunar
Se estão sendo ferinos; impiedosos e, muitas vezes, sem escrúpulos nos atos
Praticados para alcançarem os seus intentos, que geralmente são malévolos.
Já Inteligência permite que se faça uma escolha saudável de um grande amor.
Ela, também permite que o coração não se torne roto, maltrapilho e inerte.
Pessoas inteligentes sabem distinguir o galanteador falso do honesto.
Eu, sei, que é muito difícil escapar da "lábia" de um doador de flores,
Ou, de castelos; ou, então de uma vida regada a sonhos e imenso amor.
Ah, quisera Deus que estes enganadores de corações paguem suas maldades...
Mas... FICAM AQUI DOIS SÁBIOS DITADOS POPULARES:
"EM CADA CABEÇA, UMA SENTENÇA".
" A CADA ALMA, SUA PALMA."
ALDO DE AGUIAR
quinta-feira, 19 de abril de 2018
PROSANDO & PROVANDO... DE POESIA.
A VIDRAÇA
Toda tarde ela desfilava frente à vidraça
Do casarão onde eu me postava empertigado.
Para mim ela sempre foi um diamante sem jaça;
Uma joia para se ter incrustada no peito.
Vestida de normalista com a trança esvoaçante
Ela sabia que eu a observava pela vidraça.
Muitas vezes sorria provocando-me alhures
Sem se importar se emburrava ou achava graça.
Por ela eu me fazia estátua de mármore frio,
Embora o meu hálito turvasse a polida vidraça.
Assim, inertes, éramos, partes, do mesmo vidro.
Por um século em que me fiz jovem e adulto senil
Fui intrépido caçador e, ela, a minha sensual caça.
Porém, uma tarde, ela não passou e, a vidraça, se partiu.
Poema retirado do Livro : UMA MULHER INTRIGANTE... A ser publicado em breve.
quarta-feira, 18 de abril de 2018
DUAS DATAS SIGNIFICATIVAS
Hoje, comemoramos duas datas significativas:
1. DIA DA LITERATURA INFANTIL
2. ANIVERSÁRIO DO CÉLEBRE ESCRITOR TAUBATEANO MONTEIRO LOBATO
Sobre o Dia da Literatura Infantil, tenho a dizer que, ainda não temos um público significativo, voltado para a Literatura.
O que nos deixa mais esperançosos é saber que as escolas estão promovendo sessões de leitura, oficinas, palestras e visitas às bibliotecas públicas.
Da minha parte tenho feito o possível para divulgar o hábito da leitura entre os jovens com Projetos de incentivo à leitura e publicação de três obras Ecológicas, a saber:
1. A Ecologia no sítio do Taquaral ..mais de trinta mil exemplares vendidos nas escolas,
2. O Super-Bem-te-vi
3. A Menina Que Soltava Pássaros
Sobre o Dia de Aniversário de Monteiro Lobato me sinto honrado em tê-lo como meu Patrono na Academia Taubateana de Letras, onde ocupo a cadeira número 1.
Seria interessante e benéfico para a cultura Brasileira que todos os cidadãos, independente de credo, idade e raça, lessem mais livros, ao invés de fugirem das livrarias e se aproximarem mais de bares e recantos que não contribuem com nada para a Cultura Nacional.
Parabéns ao escritor Taubateano Monteiro Lobato e ao Dia da Literatura Infantil.
Um lembrete:
Taubaté, por Lei Municipal, foi declarada Capital da Literatura infantil. Está gravado na entrada da cidade, para quem entra pela JK.
1. DIA DA LITERATURA INFANTIL
2. ANIVERSÁRIO DO CÉLEBRE ESCRITOR TAUBATEANO MONTEIRO LOBATO
Sobre o Dia da Literatura Infantil, tenho a dizer que, ainda não temos um público significativo, voltado para a Literatura.
O que nos deixa mais esperançosos é saber que as escolas estão promovendo sessões de leitura, oficinas, palestras e visitas às bibliotecas públicas.
Da minha parte tenho feito o possível para divulgar o hábito da leitura entre os jovens com Projetos de incentivo à leitura e publicação de três obras Ecológicas, a saber:
1. A Ecologia no sítio do Taquaral ..mais de trinta mil exemplares vendidos nas escolas,
2. O Super-Bem-te-vi
3. A Menina Que Soltava Pássaros
Sobre o Dia de Aniversário de Monteiro Lobato me sinto honrado em tê-lo como meu Patrono na Academia Taubateana de Letras, onde ocupo a cadeira número 1.
Seria interessante e benéfico para a cultura Brasileira que todos os cidadãos, independente de credo, idade e raça, lessem mais livros, ao invés de fugirem das livrarias e se aproximarem mais de bares e recantos que não contribuem com nada para a Cultura Nacional.
Parabéns ao escritor Taubateano Monteiro Lobato e ao Dia da Literatura Infantil.
Um lembrete:
Taubaté, por Lei Municipal, foi declarada Capital da Literatura infantil. Está gravado na entrada da cidade, para quem entra pela JK.
segunda-feira, 16 de abril de 2018
PROSEANDO & PROVANDO DE POESIA
O PIANO
Soberbo e imponente como um Príncipe da Pérsia
O piano se fazia visualizar em seu mistério.
Num canto do salão, ele, belo, imperava,
Indiferente aos súditos: o seu séquito.
As teclas de marfim reluziam como estrelas
Incrustadas e refulgentes no manto cerúleo.
Por elas desfilaram mãos ágeis e possessas
No vaivém frenético dos acordes régios.
Por um tempo eu o tive em meu domínio,
Mesmo, escravo, dos meus anseios sem fim.
Para mim, ele se desdobrava, sem martírio,
No majestoso instrumento, como nada, afim.
Porém, um dia, em que deslizava pelas teclas
Meus dedos, já ressequidos, doídos e enregelados,
Notei que ele, chorava, a minha triste derrocada;
A minha senilidade que lhe tirava sons agoniados.
Incapaz de me ter ao seu lado nesta triste condição
Ele, num ato glorioso, se desfez em um monte de pó.
Chorando copiosamente, ali, depositei, o coração,
E, tamborilei no assoalho AVE MARIA e, jazi, SÓ!
POEMA RETIRADO DO LIVRO A SER PUBLICADO EM AGOSTO : UMA MULHER INTRIGANTE
sábado, 14 de abril de 2018
AS ESPOSAS
Trata-se de um livro excelente onde é retratada a vida de esposas de escritores russos.
Publicado pela AMARILYS - contendo 315 páginas.
AS MULHERES NOS BASTIDORES DA VIDA E DA OBRA DE PRODÍGIOS DA LITERATURA.
São retratadas as seguintes esposas :
1. ANNA DOSTOIÉVESKI : ACALENTANDO UMA MEMÓRIA ... DOSTOIÉVESKI ----- CRIME E CASTIGO --OS IRMÃOS KARAMAZOV
2. SOFIA TOLSTÓI : BABÁ DE UM TALENTO... TOLSTÓI --- GUERRA E PAZ -- ANNA KARIENINA
3. NADEJDA MANDELSTAN : TESTEMUNHA DA POESIA... MANDELSTAN --- POESIAS
4. VERA NABOKOV : APENAS UMA SOMBRA... VLADMIR NABOKÓV ---- LOLITA
5. ELENA BULGÁKOV : A MARGARIDA MISTERIOSA... BULGAKÓV ---- O MESTRE E MARGARIDA
6. NATÁLIA SOLJENÍTSIN : "COMPANHEIRA INSEPARÁVEL DO MEU TRABALHO" ...SOLJENÍTSIN ---ARQUIPÉLAGO GULAG - PRÊMIO NOBEL.
CONTRACAPA ; ANNA DOSTOIVÉSKI, SOFIA TOLSTÓI, VERA NABOKOV, ELENA BULGAKÓV, NADEJDA MANDELSTAN, NATÁLIA SOLJENÍTSIN : SEIS MULHERES DE GRANDES LITERATOS RUSSOS QUE DESEMPENHARAM MÚLTIPLAS TAREFAS, ATUANDO COMO ESTENÓGRAFAS, REVISORAS, PESQUISADORAS, TRADUTORAS E EDITORAS DOS MARIDOS ILUSTRES.
ALGUNS MARCOS DOS CÂNONES LITERÁRIOS SÓ VIERAM A PÚBLICO GRAÇAS AO EMPENHO DESSAS MULHERES.
ESTOU LENDO E ESTOU ENCANTADO COM A DEDICAÇÃO, AMOR, COMPANHEIRISMO, CRENÇA, ADMIRAÇÃO E MUITO MAIS, QUE TAIS ESPOSAS, DEVOTARAM AOS SEUS MARIDOS... "MONSTROS SAGRADOS DA LITERATURA UNIVERSAL".
RECOMENDO A LEITURA.
Publicado pela AMARILYS - contendo 315 páginas.
AS MULHERES NOS BASTIDORES DA VIDA E DA OBRA DE PRODÍGIOS DA LITERATURA.
São retratadas as seguintes esposas :
1. ANNA DOSTOIÉVESKI : ACALENTANDO UMA MEMÓRIA ... DOSTOIÉVESKI ----- CRIME E CASTIGO --OS IRMÃOS KARAMAZOV
2. SOFIA TOLSTÓI : BABÁ DE UM TALENTO... TOLSTÓI --- GUERRA E PAZ -- ANNA KARIENINA
3. NADEJDA MANDELSTAN : TESTEMUNHA DA POESIA... MANDELSTAN --- POESIAS
4. VERA NABOKOV : APENAS UMA SOMBRA... VLADMIR NABOKÓV ---- LOLITA
5. ELENA BULGÁKOV : A MARGARIDA MISTERIOSA... BULGAKÓV ---- O MESTRE E MARGARIDA
6. NATÁLIA SOLJENÍTSIN : "COMPANHEIRA INSEPARÁVEL DO MEU TRABALHO" ...SOLJENÍTSIN ---ARQUIPÉLAGO GULAG - PRÊMIO NOBEL.
CONTRACAPA ; ANNA DOSTOIVÉSKI, SOFIA TOLSTÓI, VERA NABOKOV, ELENA BULGAKÓV, NADEJDA MANDELSTAN, NATÁLIA SOLJENÍTSIN : SEIS MULHERES DE GRANDES LITERATOS RUSSOS QUE DESEMPENHARAM MÚLTIPLAS TAREFAS, ATUANDO COMO ESTENÓGRAFAS, REVISORAS, PESQUISADORAS, TRADUTORAS E EDITORAS DOS MARIDOS ILUSTRES.
ALGUNS MARCOS DOS CÂNONES LITERÁRIOS SÓ VIERAM A PÚBLICO GRAÇAS AO EMPENHO DESSAS MULHERES.
ESTOU LENDO E ESTOU ENCANTADO COM A DEDICAÇÃO, AMOR, COMPANHEIRISMO, CRENÇA, ADMIRAÇÃO E MUITO MAIS, QUE TAIS ESPOSAS, DEVOTARAM AOS SEUS MARIDOS... "MONSTROS SAGRADOS DA LITERATURA UNIVERSAL".
RECOMENDO A LEITURA.
quinta-feira, 12 de abril de 2018
PROSEANDO & PROVANDO DE POESIA
A CORTINA DE CHITA VERMELHA
Quando comprei a cortina de chita vermelha
Nunca pensei que um dia seu fim seria outro,
Pois a intenção foi, por um fio, suspensa,
Separar da cozinha o quarto pequeno e modesto.
Neste local ela permaneceu por anos a fio,
Sempre protegendo os meus encontros de amor.
Quantas vezes a deixei de lavar no rude estio
Dos dias sem chuva em que medrava o ardente calor.
Porém, por "Coisas da Vida", um dia, a tive de ceder
Para a morena faceira que por ela se apaixonou.
Fazendo beicinho após o sexo ardente e, muito gemer,
Ela me pediu a cortina, para fazer um vestido novo.
Com o coração partido, me desfiz da fiel companheira,
Atendendo o desejo da mulher que me fez feliz amante .
Em segundos ela estava de posse da chita vermelha
Sonhando com o vestido que vestiria seu corpo pujante.
Dias depois, quando a tive de novo em meus braços trêmulos,
A despi do vestido, antes uma cortina e, a tive nua e, bela.
Oh, como sou feliz por ter realizado um simples desejo,
Da mulher, que feliz, trajava um vestido, de chita vermelha.
DO LIVRO A SER PUBLICADO BREVE: UMA MULHER INTRIGANTE
ALDO DE AGUIAR
terça-feira, 10 de abril de 2018
PARANOIA
Sinto o cérebro em constante paranoia
Pelo terrível medo de te perder, mulher!
Bem sabe que sou náufrago sem boia
Quando te ausentas, oh, estrela Vésper.
Ribomba-se o coração e sinto-me em pânico
Se, de ti, não tenho notícias por um dia.
Sou ave que não encontra o sonhado ninho;
Sou folha que se desprende na tarde fria.
Não queria de ti ser paranóico na estupidez,
De não ter forças para reagir com sensatez,
E bem sei que me julgas um alçapão sem clarabóia
A viver no universo da escuridão onde medra o medo,
E, as estultas súplicas, deste vate ensandecido.
Hoje,te confesso, amada: Por você, vivo, em paranóia.
POEMA DO LIVRO...UMA MULHER INTRIGANTE - A SER PUBLICADO EM AGOSTO DE 2018
ALDO DE AGUIAR
domingo, 8 de abril de 2018
EU, A PONTE, A PARDOCA E, O GATO... UM CONTO EM 4 ATOS.
EU
Nada tenho de especial. Sou um mortal comum. Vivi até agora, aos 49 anos de idade, perambulando de um lugar para outro, sem destino, sem casa para morar, sem um amor, sem dinheiro e, claro, sem ambições. Cada pedaço de terra era o meu refúgio, e, por estar imerso em terra, trago o corpo e, as roupas rasgadas e amassadas, impregnados de um barro secular.
Com minha desdita, trago uma fome abissal que vive a corroer o meu estômago. De vez em quando me alimento de restos de comida que vasculho nos lixos, ou, em raras ocasiões, uma coxinha oferecida por este ou aquele viajante mais recompensado pela sorte. No mais, sigo pela vida como um pária e, se sou, feliz ou não, não o sei dizer.
A PONTE
Era uma ponte de um pau só, que nas roças por onde perambulei dão o nome interessante de “pinguela”. Sempre tive o cuidado de não trocar a vogal final de “a” por “o”. Nunca gostei de me mostrar inconveniente ou desagradável. Esta ponte, ou melhor, esta vara de pau ligava uma margem à outra por cima de um ribeirão de águas frescas e cristalinas. Tinha o comprimento de uns três ou quatro metros e era usada pelos sitiantes circunvizinhos que iam aos sábados trocar os seus produtos roceiros por alguns trocados.
A PARDOCA
Sem dúvida alguma era uma pardoca, pela plumagem parda e sem brilho e, pelo tamanho diminuto. Estava pousada no meio da pinguela, já jazia algum tempo, pois, quando me deitei na cabeceira da ponte sob um ingazeiro, passei a contemplá-la e, vi que estava presa por uma perna numa fenda do pau, que por já estar carcomido pelos cupins apresentava inúmeras rachaduras pelo lenho ressequido. Depois de muita lutar para retirar a perna, abaixou-se e ficou imóvel à espera de um milagre, ou, sei lá o quê.
O GATO
Era um gato rajado. Tinha os pelos do corpo ralos, e, de aparência sadia somente os bigodes que sobressaíam quais cipós de sua cabeça mirrada. Como eu, ele demonstrava estar morto de fome, o que pude deduzir pela baba que começou a escorrer de sua boca fétida, onde alguns dentes pontiagudos se projetavam. Com a esperteza de seus parentes felinos , subiu sobre a ponte e, com um andar malicioso e silencioso se dirigiu até a pardoca.
I ATO:
Vislumbrando o meu almoço bem à frente e sem resistência alguma, a pardoca já se me apresentava como um saboroso manjar, o que me faria satisfeito pelo resto da tarde. Com gestos trêmulos agarrei uma pedra e fui rastejando pelo insensível lenho até a avezita que, imóvel, não antevia qual seria o seu destino, já decretado por mim: sua morte e o ato de “matar o que estava me matando”. E, assim o fiz.
II ATO
Num repente, o gato rajado, saltou atrás da pardoca e arreganhou a boca e, afiou as garras para abocanhar e estraçalhar o seu tão almejado almoço (ambos estávamos morrendo de fome). De sua boca peluda, saltaram os dentes alvos, finos e pontiagudos. Para a pardoca, a morte se apresentou de duas maneiras: ou a pedrada certeira, ou, a mordida implacável.
III ATO
A pardoca, vivendo os últimos instantes de sua breve vida, resolveu lutar e, numa última e desesperada tentativa, reuniu todas as forças do seu diminuto corpinho e puxou a perna com a maior dificuldade. Num ímpeto destemido, ela se viu livre da armadilha e, com um gracioso bater de asas elevou-se às alturas indo pousar no galho mais alto do ingazeiro, onde emitiu alguns trinados, visto que, pardoca não canta... Milagre? Mostrando estar gozando de nossas derrotas.
IV ATO
Na pinguela, ficamos, eu e o gato, com as mãos abanando e os estômagos roncando. Creio que tudo se passou ao mesmo tempo. Tivemos os mesmos pensamentos. Num átimo, nos engalfinhamos numa luta doida, cujo intento era substituirmos a refeição que a pardoca nos daria. Coma a pedra eu tentava quebrar a cabeça do estúpido felino que enfrentava um animal maior e mais possante que ele. Com os dentes e garras afiadas ele, pulou sobre mim, tentando alcançar a minha jugular (herança genética dos felinos), pois, se obtivesse resultado beberia o sangue quente e fresco bombeado pelo meu trêmulo coração. O embate durou alguns segundo, quando, numa manobra infeliz, caí dentro do ribeirão arrastando a “fera” que estava com as garras enroscadas em meu pescoço. Notei que um líquido vermelho e pegajoso molhava minhas faces, antes de mergulharmos nas águas frias (era inverno). Da última coisa que tenho lembrança foi ver um enorme sáurio, mais precisamente um jacaré se aproximar de nós e, com a bocarra arreganhada, engolir o meu braço direito e o gato. Com muito custo saí do ribeirão e rastejei até a margem, deixando um rastro de sangue na areia alva. Agonizante, porém salvo, o que não aconteceu com o gato, olhei para o alto e ainda pude contemplar a pardoca saltitando dentre os galhos da árvore e me olhando com sarcasmo, como a dizer:
_ Bem feito, para vocês dois! E, alçou voo, para bem longe.
MORAL DO CONTO: “POR MAIS FOME QUE VOCÊ TENHA, NÃO TENHA PRESSA EM MATÁ-LA”.
ALDO DE AGUIAR
TAUBATÉ, 8 DE ABRIL DE 2018
EU
Nada tenho de especial. Sou um mortal comum. Vivi até agora, aos 49 anos de idade, perambulando de um lugar para outro, sem destino, sem casa para morar, sem um amor, sem dinheiro e, claro, sem ambições. Cada pedaço de terra era o meu refúgio, e, por estar imerso em terra, trago o corpo e, as roupas rasgadas e amassadas, impregnados de um barro secular.
Com minha desdita, trago uma fome abissal que vive a corroer o meu estômago. De vez em quando me alimento de restos de comida que vasculho nos lixos, ou, em raras ocasiões, uma coxinha oferecida por este ou aquele viajante mais recompensado pela sorte. No mais, sigo pela vida como um pária e, se sou, feliz ou não, não o sei dizer.
A PONTE
Era uma ponte de um pau só, que nas roças por onde perambulei dão o nome interessante de “pinguela”. Sempre tive o cuidado de não trocar a vogal final de “a” por “o”. Nunca gostei de me mostrar inconveniente ou desagradável. Esta ponte, ou melhor, esta vara de pau ligava uma margem à outra por cima de um ribeirão de águas frescas e cristalinas. Tinha o comprimento de uns três ou quatro metros e era usada pelos sitiantes circunvizinhos que iam aos sábados trocar os seus produtos roceiros por alguns trocados.
A PARDOCA
Sem dúvida alguma era uma pardoca, pela plumagem parda e sem brilho e, pelo tamanho diminuto. Estava pousada no meio da pinguela, já jazia algum tempo, pois, quando me deitei na cabeceira da ponte sob um ingazeiro, passei a contemplá-la e, vi que estava presa por uma perna numa fenda do pau, que por já estar carcomido pelos cupins apresentava inúmeras rachaduras pelo lenho ressequido. Depois de muita lutar para retirar a perna, abaixou-se e ficou imóvel à espera de um milagre, ou, sei lá o quê.
O GATO
Era um gato rajado. Tinha os pelos do corpo ralos, e, de aparência sadia somente os bigodes que sobressaíam quais cipós de sua cabeça mirrada. Como eu, ele demonstrava estar morto de fome, o que pude deduzir pela baba que começou a escorrer de sua boca fétida, onde alguns dentes pontiagudos se projetavam. Com a esperteza de seus parentes felinos , subiu sobre a ponte e, com um andar malicioso e silencioso se dirigiu até a pardoca.
I ATO:
Vislumbrando o meu almoço bem à frente e sem resistência alguma, a pardoca já se me apresentava como um saboroso manjar, o que me faria satisfeito pelo resto da tarde. Com gestos trêmulos agarrei uma pedra e fui rastejando pelo insensível lenho até a avezita que, imóvel, não antevia qual seria o seu destino, já decretado por mim: sua morte e o ato de “matar o que estava me matando”. E, assim o fiz.
II ATO
Num repente, o gato rajado, saltou atrás da pardoca e arreganhou a boca e, afiou as garras para abocanhar e estraçalhar o seu tão almejado almoço (ambos estávamos morrendo de fome). De sua boca peluda, saltaram os dentes alvos, finos e pontiagudos. Para a pardoca, a morte se apresentou de duas maneiras: ou a pedrada certeira, ou, a mordida implacável.
III ATO
A pardoca, vivendo os últimos instantes de sua breve vida, resolveu lutar e, numa última e desesperada tentativa, reuniu todas as forças do seu diminuto corpinho e puxou a perna com a maior dificuldade. Num ímpeto destemido, ela se viu livre da armadilha e, com um gracioso bater de asas elevou-se às alturas indo pousar no galho mais alto do ingazeiro, onde emitiu alguns trinados, visto que, pardoca não canta... Milagre? Mostrando estar gozando de nossas derrotas.
IV ATO
Na pinguela, ficamos, eu e o gato, com as mãos abanando e os estômagos roncando. Creio que tudo se passou ao mesmo tempo. Tivemos os mesmos pensamentos. Num átimo, nos engalfinhamos numa luta doida, cujo intento era substituirmos a refeição que a pardoca nos daria. Coma a pedra eu tentava quebrar a cabeça do estúpido felino que enfrentava um animal maior e mais possante que ele. Com os dentes e garras afiadas ele, pulou sobre mim, tentando alcançar a minha jugular (herança genética dos felinos), pois, se obtivesse resultado beberia o sangue quente e fresco bombeado pelo meu trêmulo coração. O embate durou alguns segundo, quando, numa manobra infeliz, caí dentro do ribeirão arrastando a “fera” que estava com as garras enroscadas em meu pescoço. Notei que um líquido vermelho e pegajoso molhava minhas faces, antes de mergulharmos nas águas frias (era inverno). Da última coisa que tenho lembrança foi ver um enorme sáurio, mais precisamente um jacaré se aproximar de nós e, com a bocarra arreganhada, engolir o meu braço direito e o gato. Com muito custo saí do ribeirão e rastejei até a margem, deixando um rastro de sangue na areia alva. Agonizante, porém salvo, o que não aconteceu com o gato, olhei para o alto e ainda pude contemplar a pardoca saltitando dentre os galhos da árvore e me olhando com sarcasmo, como a dizer:
_ Bem feito, para vocês dois! E, alçou voo, para bem longe.
MORAL DO CONTO: “POR MAIS FOME QUE VOCÊ TENHA, NÃO TENHA PRESSA EM MATÁ-LA”.
ALDO DE AGUIAR
TAUBATÉ, 8 DE ABRIL DE 2018
sexta-feira, 6 de abril de 2018
PROSEANDO & PROVANDO ... DE POESIA
AINDA TE AMO
Sabe? Ainda te amo!
Parece tão simples de dizer
Mas não imaginas o quanto
Tentei inutilmente te esquecer.
Te esquecer, tentei vezes infindas,
Sentindo o coração tristonho.
Deus, só Deus sabe o quanto lutei
Para afastá-la dos meus loucos sonhos.
Procurei esquecer-te em tantos amores
Como são tantas as estrelas do céu
- Efêmeras tentativas, bálsamo fugaz -
Hoje, vejo que tantos dissabores
Foram para minha alma tênue véu
Pois, tentando te esquecer, amei-te mais!
Poema retirado do livro AMOR, AMOR, AMOR ETERNA SOLIDÃO.
1A. EDIÇÃO - 1994 - EDIVALE
PÁGINA 62
ALDO DE AGUIAR
quarta-feira, 4 de abril de 2018
DOIS ROMANCES SABOREADOS DURANTE OS FERIADOS DE PÁSCOA
Nestes feriados de Páscoa tive o prazer de desfrutar da leitura de dois romances distintos, porém, excelentes, que me fizeram passar horas felizes à margem do rio Paraibuna, contemplando suas águas plácidas, ao som mavioso de canarinhos, bem-te-vis e tantos outros pássaros canoros. São eles:
1. O ANATOMISTA - do escritor argentino Federico Andahazi, publicado em 1996, que trata de um anatomista que descobre o que ele chama de "Amor veneris", mais propriamente, o clitóris, órgão que proporciona o máximo prazer sexual na mulher, isto, na Renascença. Tal livro foi publicado pela L & PM POCKET com 218 páginas.
2. CLARA DOS ANJOS - DO ESCRITOR BRASILEIRO LIMA BARRETO, que trata dos usos e costumes do Brasil na década de 30. É uma leitura agradável e com forte cunho de acusação dos tratamentos dispensados ao povo mais pobre do Rio de Janeiro.
170 páginas.
Recomendo a leitura aos meus queridos seguidores.
1. O ANATOMISTA - do escritor argentino Federico Andahazi, publicado em 1996, que trata de um anatomista que descobre o que ele chama de "Amor veneris", mais propriamente, o clitóris, órgão que proporciona o máximo prazer sexual na mulher, isto, na Renascença. Tal livro foi publicado pela L & PM POCKET com 218 páginas.
2. CLARA DOS ANJOS - DO ESCRITOR BRASILEIRO LIMA BARRETO, que trata dos usos e costumes do Brasil na década de 30. É uma leitura agradável e com forte cunho de acusação dos tratamentos dispensados ao povo mais pobre do Rio de Janeiro.
170 páginas.
Recomendo a leitura aos meus queridos seguidores.
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