Joaquim Libório dos Santos Reis viveu uma vida indigna de ser contada em prosa e verso. Nasceu, cresceu e vive em cima dos seus sessenta e três anos na pacata Catioca, cidadezinha de quatro mil moradores, todos eles enraizados nas vielas e becos ligados por ruas de terra batida...O progresso ainda não bateu às portas da tranquila Vila, incrustada na Serra dos Macucos. Eu, aprendiz de escritor, passei uma temporada lá, me recuperando de uma crise de nervos, quando me separei da mulher que jurou me amar, porém, sem maiores explicações deixou-me e, fugiu com o Serapião Mendes, um tremendo janota de bigode a la Hitler. Assim, atendendo a conselhos médicos aluguei um quarto na única pensão da Vila: a pensão "Recanto feliz" da dona Maricota Sizenando e lá dormitei por dois meses e, pasmem, amigos leitores, engordei dois quilos pelas excelentes iguarias que me eram servidas nas três refeições.
Nesses dois meses tive a oportunidade de conviver com o nosso personagem, homem de boas maneiras, liso nas palavras e extremamente galanteador, chegando muitas vezes para conquistar uma donzela, garatujar nos papéis usados pra embrulhar pão, versos e choramingos, impossíveis de não ferir os corações ardentes por um grande amor.
Uma tarde em que estava fazendo minha sesta num banco de jardim na pequena praça da Matriz, ele, chegou-se a mim, sentou-se ao meu lado e passou a travar conversas, quando ficou sabendo de que eu era escritor (Nada famoso), que muito o impressionou. Sem maiores delongas, contou-me de um grande defeito que possuía: medroso, frouxo e temerário de qualquer situação que envolvesse um perigo, que fosse. Pensei comigo: trata-se de um pusilânime e, fiquei, por um bom tempo ouvindo seus temores, a ponto, de sentir os lábios inferiores tremerem e, a boca ficar seca(voltando novamente meus tiques nervosos?). Fui salvo de suas aventuras patéticas, quando o relógio da Matriz marcou o final do dia, acompanhado pelo revoar das andorinhas, que voltavam, felizes para os seus ninhos.
Nessa noite, perdi o sono e, fiquei até madrugada adentro relembrando os fatos contados pelo nosso anti-herói, os quais passo a relatar para que passem, acredito eu, a nutrir uma antipatia pelo Libório (como eu), a saber:
- Quando presenciava uma desavença, qualquer que fosse ela, se recolhia em sua mudez, para não dar palpites, evitando levar uns tabefes;
- Se ocorria uma briga no bar, onde estava tomando uma cerveja, imediatamente,s se enfiava embaixo de uma mesa e, lá ficava, como um cão esquálido, até que o entrevero terminasse;
- Uma vez, contou-me, uma criança caiu no ribeirão que corta a cidade e, só estava ele no local, não tinha mais ninguém, mesmo assim, preferiu sair correndo do que se atirar nas águas, embora raso, deixando a criança à própria sorte. Mais tarde soube que um andante que estava dormindo à sombra de uma árvore e, quando escutou os gritos agoniados da infante, se atirou na correnteza e, a salvou;
- Á noite,na hora de dormir, tinha que manter as luzes acesas e, sempre dormia no canto, deixando sua esposa na beirada e, só dormia de cabeça coberta...
Esses e outros fatos narrados me enojaram, a ponto, de, ao subir nos degraus do ônibus que, me levaria embora, e, ao despedir-me, do frouxo, não aguentei e o chamei de PUSILÂNIME e, entrei no coletivo, sem ouvir sua resposta.
Após uns vinte minutos, o meu companheiro de poltrona, disse-me: O seu amigo (amigo o cacete, pensei comigo), agradeceu o elogio de ser um pusilânime...
Arretado, maldisse o infeliz covarde, que nem o significado do "elogio" sabia.
Chegando em casa, sentei na máquina de escrever e escrevi o que publico agora, para vocês, meus fiéis seguidores.
sexta-feira, 5 de abril de 2019
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