domingo, 7 de agosto de 2011

UM OLHAR ATÔNITO

Quando chegou a hora de nos despedirmos eu pensei que não ia suportar tamanha dor. Tínhamos brigado e decididos que a continuidade no relacionamento era insuportável. Há muito nossas vidas tinham degringolado; caído no lugar comum. Não que eu tivesse toda a culpa. Ela também ajudou e muito a chegarmos onde chegamos. Tudo começou quando ela foi notificada pelo seu ginecologista de que não podia ter filhos. Foi uma catástrofe. Como uma lesma ela se enfurnou no silêncio carregando sobre sí uma concha que me impedia de adentrar em seu âmago. À bem da verdade eu não me importei muito com a notícia. Achei e ainda acho que o nosso relacionamento não poderia sofrer interrupção; que deveríamos nos continuar amando e tocar a vida; que a vida em comum poderia ser enriquecida com muito amor, carinho e compreensão. Mas, nada disto funcionou. A partir de então os dias e noites se tornaram um martírio. Por incontáveis vezes tentei fazê-la compreender de que o amor supera todos os incovenientes que a vida nos prepara; que o destino de nossas vidas já está traçado por "Mãos" superiores e, que devemos aceitá-lo; não com resignação, mas com bom senso. De nada adianta nos revoltarmos pois " O QUE TEM QUE SER, SERÁ!".
Era uma tarde outonal quando ela sentou-se ao meu lado no sofá e disse que precisava ter uma conversa séria comigo. A princípio pensei tratar-se de mais uma longa conversa que não nos conduziria a lugar nenhum. Me enganei. Ela estava mais determinada do que o costume e sem maiores preâmbulos me disse: " Quero ir embora para sempre! Chega! Não aguento mais viver com você sob o mesmo teto!"
Estupefato pelo vigor e rancor contido na voz e pelo estilo peremptório com que a mim se dirigiu a única reação que tive no momento foi gaguejar algumas palavras sem nexo e permanecer boquiaberto. ( Sinceramente não esperava que a decisão de romper o nosso relacionamento fosse tão rápido assim. Apenas dois meses depois da notícia de seu médico.)
Num gesto rápido ela se levantou do sofá, pegou seu bolsa e se dirigiu à porta, deixando-me prostrado; sem ação alguma.
Quando escutei o som da porta ao se fechar, levantei-me do sofá e caminhei alguns passos trôpegos pela sala. Sem destino algum fui parar frente ao aparador que ficava num canto do aposento. Lá fiquei por alguns segundos petrificado e só o que pude vizualizar de mim no reluzente espelho foi o olhar... UM OLHAR ATÔNITO.

Nenhum comentário:

Postar um comentário