segunda-feira, 1 de agosto de 2011

UM FINO GESTO

Não durou mais de que alguns segundos, mas, sem dúvida alguma foi um fino gesto. Eu estava sentado no banco do jardim da estação ferroviária de Maracatinga fazendo minha religiosa sesta após o almoço e sentado sobre as raízes tabulares de uma secular figueira remoendo dentre os molares um apetitoso pedaço de cocada quando ela passou por mim como sempre o fazia àquela hora do dia. Invariavelmente, todo dia, no mesmo horário, tanto eu quanto ela, desfrutávamos da mesma sombra da benfazeja árvore. Eu por mais tempo; ela, pelo tempo apenas de passar; de ensejar alguns passos macios e chamativos. Muitas vezes eu a comparei como uma gazela que desfila suavemente e graciosamente por dentre a vegetação verdejante da campina. Assim era ela. Porém, nesta tarde especial, aconteceu o inusitado. Estava eu absorto com os meus sonhos e pensamentos mais burlescos quando a vi caminhando em minha direção. Imediatamente refiz-me do salutar deleite e me pús de sobreaviso. (Acredito que neste momento me tornei um felino a sondar a presa.) Nada mais do que alguns segundos se passaram e ela estava à minha frente. Num relance pude notar que ela se vestia com simplicidade: um vestido de chita azul e branco cobria o corpo e um par de alparcatas calçava os pés diminutos e belos. Somente os cabelos negros e compridos dançavam impelidos pela suave aragem da tarde primaveril. Desperto da magia que a graciosa imagem após se incrustar em meus olhos tinha feito, balbuciei algumas palavras sem nexo ( acho que lhe ofereci um pedaço da cocada) e permaneci pelo tempo que durou (segundos) extasiado ou mesmo petrificado.Foi então que ela num arroubo de sensualidade, embora, carregado de timidez, levou as mãos á boca carnosa e emitiu um acanhado sorriso para em seguida assoprar-me dentre os dedos um beijo. Um beijo que chegou até mim embalado pelo sopro das asas de uma multicolorida borboleta. Fechei os olhos tendo o coração célere de emoção e, quando pude abrí-los, constatei que ela já estava distante de mim.
Sem dúvida alguma, dela, partiu um FINO GESTO.

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