domingo, 7 de abril de 2013
ENCALHADO !
Estava já encalhado num ponto qualquer do rio o "Don Juan", Brasilindo.
Desde o carnaval estava desaparecido e, agora, na Semana Santa,
Um pescador o encontrou enroscado em galhos de árvores no Rio Sairi;
Estava só de cuecas e, já tinha as carnes se soltando dos ossos.
Não era uma figura boa de se ver, mesmo, porque,qualquer cadáver é
Um espetáculo horrendo, ainda mais, quando em putrefação.
Nunca em sua vida de galã, passou pela cabeça encalhar num rio:
Era, por demais altivo, garboso e egoísta para tal fato: tão comum.
Pela vida, viveu, amou e "aprontou" tudo o lhe foi permitido, ou,
Às vezes, (sempre) também, o não permitido; somente o seu bem estar é que importava.
Brasilindo era tido por todos como um "apêndice" de homem pelas suas
Incontáveis arremetidas em senhoras de fino trato e bem casadas.
Talvez, penso eu, não querendo parecer bombástico e nem escandaloso,
Ele amealhou em seu "harém" mais de 50, antes fiéis esposas, depois de
Com ele conviverem, ardentes messalinas; todas surrupiadas de seus maridos.
Incontáveis ameaças de ser picado fatalmente por um punhal ou, então, ser cravejado
De projéteis o acompanharam nas noites e dias de amante ferino; nunca, dócil.
Assim, de amor em amor; de traição em traição, ele, seguiu, uma trajetória, de riscos:
Riscos calculados, pois, sabia que, a qualquer instante, este ou aquele, o mataria...
Sim, o mataria sem dó nem piedade, embora o perigo aumentasse ainda mais os
Seus loucos desejos pela conquista do impossível; do proibido; da "maçã" do paraíso.
E, assim seguiu a sua trajetória de "destruidor" de inocentes esposas, até que...
Até que, se envolveu com a bela e tentadora Rosalinda: esposa do Delegado de Polícia,
Castorino Belaponte e, deu no que deu. Foram três meses de idílio.
Nem um dia a mais, nem um dia a menos.
Brasilindo, como se diz na gíria "abaixou a guarda" e deixou de ser cauteloso e foi mais
Afoito ao pote de água, ou melhor, ao pote de desejos, que jorravam, da bela mulher.
A noite estava escura como breu, quando, ele pulou, a janela do quarto, da amante.
O marido (sempre o último a saber) foi avisado pelo Cabo de polícia, Flauzino, de que
a sua bela esposa o estava corneando com o pervertido Brasilindo e, nada mais disse.
A bala do 38 atravessou seu peito e estraçalhou o coração repleto de desejos não realizados.
Em instantes o falecido se viu boiando nas águas frias e profundas do rio que circundava
O pequeno município e, ninguém, suspeitou, de nada. O silêncio do Cabo foi comprado com
A merecida promoção para Sargento.
Rosalinda ganhou um carro de presente para parar de prantear o finado amante.
Para ele, só restou de presente uma árvore desabada na margem do rio... O seu leito de descanso.
Encalhado, dentre a galharada ( de árvore, não do marido) açoitada pelas águas, ele, deixou, "encalhadas" senhoras e Matronas,, mulheres mal amadas pelos seus "idiotas" maridos.
Tudo me foi contado pelo Sargento, muito anos após o ocorrido. Curioso fui até o trecho do rio
Onde Brasilindo encalhou e, atônito,visualizei (miragem?) uns fiapos de pano chacoalhando na água.
Assustado, dei meia volta e regressei à cidade; ao bar do Dito Piranha, onde tomei umas e outras para
Então entrar no ônibus e deixar o local da tragédia.
Mulheres casadas? "Vade Retro".
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