domingo, 28 de abril de 2013

MALDITO DESPERTADOR!





Maldito despertador que desperta quando não quero despertar;
Que tilinta e tilinta infinitas vezes sem se importar se durmo, ou, não.
Sei sim, que me surrupia dos sonhos que sonho no leve dormitar
Que me proporciono depois da posse no afã da sofreguidão.


Tê-lo, ou não tê-lo, à cabeceira da cama, eis a questão que me oprime
Que me tira a paz e o sono após tanto amor vivido em poucos segundos..
Sei que é apenas um objeto inerme, frio e movido apelas pelo timbre
Ininterrupto que se esvai de seu íntimo; nunca de um coração fecundo.


Ao meu lado ela ressona como se uma tigresa fora em seu descanso
Após a lide sensual em que se viu envolta no macio e perfumado dossel
Formado pelas folhas, cipós e orquídeas: todos  no emaranhado manto...
Lençol de cetim, fronhas de seda... palavras  febris ecoam da boca do vergel.

Mas, o maldito despertador teima em afrontar o silêncio que impera
Na alcova onde há décimos de segundo dois amantes se amaram.
Ah, quisera eu poder destruí-lo num ímpeto de furor que exaspera
E, que, faz do gladiador a fera possessa na arena de agressões insanas.


Reajo! Tomo-o em minhas mãos e o arremesso de encontro ao lúdico espelho
Na vã tentativa de calar o som que me traz à realidade do que não existe:
A paz, tão almejada por guerreiros vencidos e, tão distante do cervo
Que tenta desesperadamente safar-se dos dentes e garras em riste.

Por fim, ela, num gesto de preguiça deliciosa e repleta de sensualidade
Pergunta-me o que está a me tirar a paz e a me fazer revolver no doce leito.
Trêmulo e com a voz rouca lhe respondo: _ O despertador que, odioso, finge
Dar-me ouvidos e se calar... Mas, horrendo, continua a tinir satisfeito.

Ah, pudera, meu querido e afoito amante - e, continuou, em ternas palavras _
_ O despertador é a ampulheta que marca  para mim o tempo em que me tens
Entregue aos teus caprichos de homem sedento de libidinosas carícias...
Oh! amado, não fora ele, como poderia receber em meu leito incontáveis homens?


No chão entre milhares de cacos de vidro ele, o despertador, tilintou rispidamente
Anunciando que o meu tempo de amor tinha cessado; que era hora de deixar a alcova.
Assim, cabisbaixo e descrente da sinceridade das cortesãs; das mentiras fluentes
Juntei minhas roupas, paguei o combinado e vociferei: Maldito Despertador, e saí, na hora.

 



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