segunda-feira, 15 de julho de 2013

65.  UM EXASPERANTE DIÁLOGO



Uma tarde em que estava dormitando à fresca
Embalado pelos cantos maviosos dos pássaros
Presenciei (sem querer) um exasperante diálogo
Entre duas rosas; duas criaturas nababescas.

A vermelha toda enrubescida num arroubo de fúria
Vociferava palavras ofensivas que não ouso pronunciar.
Já, a branca, pálida e trêmula, respondia no louco arfar
Frases conexas e desconexas numa enxurrada de lamúria.

Hipnotizado pela fereza das duas “damas” da natureza
Quedei-me aos pés da roseira e me fiz juiz do litígio.
Passaram-se as horas e o tempo, atenuou o martírio
Do tolo diálogo que travaram flores de tão rara beleza.

Emudecidas, cada qual em seu ramo, as altivas rainhas
Pendiam, ora pra um lado, ora pra outro, ao sabor da brisa
Num merecido descansar da “batalha” que as fez inimigas,
Embora, no balouçar dos ramos, rocem as corolas esbaforidas.

Curioso em saber o porquê de tão áspera e febril contenda
Argúi às belas flores que me contassem o impasse vivido;
Que me tivessem como um “ombro” amigo e um túmulo
Guardando o segredo que as fez digladiar com fereza.


Quem primeiro falou foi a rosa branca que num muxoxo de dor
Disse-me estar magoada com a vermelha que dela debochou
Quando apregoou aos quatro ventos, assim que desabrochou
Ser a rainha dos jardins e a preferida do galante beija-flor.



Instantaneamente, ouvi a rosa vermelha se defender com furor
 Soltando impropérios pelos ares carregados de suaves eflúvios:
_Quis, a natureza- disse, ser eu, a predileta e, sem nenhum dúbio
A rainha dos jardins; a sempre requestada pelo galante beija-flor.


Prevendo que a discussão poderia reiniciar a qualquer momento
Pedi a Deus que me desse sabedoria para me dirigir a elas...
Num átimo, disse: _ Queridas rosas, no universo, em que habitas
És sem dúvida alguma as mais belas estrelas do firmamento

És, das amantes, as preferidas pelos beija-flores multicoloridos
És, das mulheres, as sonhadas pelos reis, sultões e príncipes.
Portanto, apaziguai-vos e continueis amigas eternamente
Para a alegria de nós, pobres mortais e admiradores fortuitos.

E, assim, em instantes, se roçaram e a trégua se fez eterna. 





   

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