62. A CADEIRA DE BALANÇO (MEU CHAMEGO)
Quando chegou da loja foi cantada em verso e prosa,
Tornando-se, em segundos, o destaque da sala azul,
Atraindo para si olhares e suspiros de uma posse airosa
Pelas crianças e anciãos, e pela gata siamesa, “fru-fru”.
De imediato, viu-se instalada ao lado do sofá de couro marrom
Tendo sob os pés de madeira de lei um tapete azul da Pérsia,
E, num estado de langor, deixou-se embalar pelo “ron-ron”
Que saía da garganta do felino, sempre em suave inércia.
Na morosidade do destino o tempo passou e ela sempre altiva
Permanecia à disposição de quem dela quisesse se balouçar
E, Indiferente ao corpo que se depositava sobre ela, vivia
A ir e vir; a vir e ir, numa cadência, que inspirava o dormitar.
Mas, o constante uso de sua aptidão começou a deixar marcas,
Cicatrizes, no lenho opaco, outrora brilhante e de rijo cerne.
Desgastada, em pouco tempo viu-se relegada a um canto da sala:
Nenhum tapete... Um estorvo desdenhado, ou, um objeto reles.
Entristecida iniciou um lento definhar pelas tranças de vime
Adquirindo rasgos no outrora delicioso e cômodo assento.
Agora, já combalida, agonizava, prevendo o fim infame
Que lhe estava reservado: um brechó soturno e nojento.
Mas, quis o destino que dela se apaixonasse um ancião, um leitor
Aficionado por Tolstói, Chekov, Dostoiveski...um intelectual
Repleto de sonhos vividos nos romances que lia com furor.
A cabeça inundada de cabelos brancos se apoiou no espaldar...
E, ele, permaneceu, por uma noite e um dia, a alma embalada
Nos braços de sua nova companheira, balouçou e balouçou.
No canto mais escuro da sala “fru-fru” ronronava despeitada
De ter sido preterida pelo “velho” da morada: o senil “vovô”.
Hoje, ela respira aliviada por não ter sido descartada de vez
Pelos insensíveis donos, que dela, não cultuaram apego.
Vive sua vida agitada em balanços que proporcionam languidez
Ao velho leitor, que briga por ela e, diz ser, seu maior chamego.
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segunda-feira, 1 de julho de 2013
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