segunda-feira, 19 de outubro de 2015

O BRINCO DE PÉROLA


Tudo aconteceu quando frequentei o meu primeiro baile
De gala. Feliz, vestia um terno preto e gravata borboleta.
Como um dançarino nato dancei ao som da orquestra
Que tocava lindas canções e tornava mágica a noite.

De par em par eu rodopiava pelo salão escorregadio e luzente
Tendo sempre nos braços uma bela e esfuziante morena
Que me fazia, no momento da dança, o mais feliz vivente.
E, assim, dancei até o lusco fusco da fria madrugada.

Porém, quando a orquestra iniciou a última seleção de boleros,
Tirei uma estupenda loira para dançar a música "Perfídia".
Entre passos cadenciados rodamos pelo salão de casais repletos
No aconchego dos corpos suados e marcados de carícias.

Foi quando abri os olhos por um instante e vi um brinco de pérola
Caído no chão, aos pés de uma cadeira que estava nua e só.
Num ímpeto abaixei-me e me apoderei da joia abandonada
Por uma mulher que o perdeu sem se dar conta do ocorrido.

Por muito tempo vaguei por bailes sem conta na férrea esperança
De encontrar a mulher que certamente usava um brinco de pérola
Em uma só orelha e, com o coração fremente devolvê-la no afã
De ser recompensado com uma carícia ou com juras eternas.

Foi em um baile simples onde reinava a nostalgia no recinto
Onde dançarinos se moviam como autômatos vagando a esmo
Que deparei com uma bela morena que tinha a ausência de um brinco
Na orelha esquerda. E, tudo aconteceu num momento efêmero.

Deslizando como um tigre atrás de sua presa me aproximei resoluto
E, gaguejando lhe disse: _ Moça, cá está o brinco de pérola que perdeste.
Sorrindo ela o pegou e o pendurou na orelha e me disse entredentes:
_ Moço, há muito que ansiei por este instante... você é o meu bendito.

E, continuou dizendo: _ Eu fiz  um juramento ao meu santo protetor
De que, se um dia, eu reaver o que perdi em uma noite esplendorosa
Daria o meu coração ao homem que devolvesse a joia de real valor.
E, assim, graças ao baile simples, casei com a mulher do brinco de pérola.



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