domingo, 18 de outubro de 2015

OS TRÊS DESTINOS DE UM CRAVO NA LAPELA


Devo contar os três destinos de um cravo na lapela
E, se o faço, é porque, deles, fui fiel protagonista.
Tudo teve início quando a flor perfumada e rubra
Na lapela do meu paletó fez de mim um "falso" artista.

O primeiro destino foi quando me apresentei num baile de gala,
E, trazia, na lapela do paletó o cravo vermelho e perfumado.
Rodopiei dezenas de vezes em braços de mulheres sedutoras,
E, todas, sem exceção, beijaram o objeto místico e desejado.

Sim, desejado pelos lábios carnosos e rubros das damas enciumadas
Que, tentavam à toda sorte roubá-lo de mim  como "lembrança".
Porém, mantive-o pela noite adentro até o final das ternas músicas.
Assim, o cravo marcou a minha presença na inolvidável festança.

O segundo destino foi quando contraí núpcias com a minha eleita:
Uma moça bela em sua formosura e desejada em sua inocência.
Juntos, de mãos dadas, juramos no altar uma vida feliz e bela.
Ao trocarmos as alianças ela, sem rodeios, beijou o cravo na lapela.

Pela vida que nos foi reservada pelo excelso "Criador" vivemos felizes,
Nos amando, ora com fúria, ora com extremo carinho e, dela
Tive os melhores momentos de minha vida sem nunca cometer deslizes.
E, quando nuvens negras teimavam em aparecer, ela beijava o cravo na lapela.

Por décadas, vivemos o amor em sua intensidade até que a morte a levou.
Vivi, por viver, um bom tempo em que a vida deixou de me ser bela.
À noite, eu soluçava e chorava a recordação de um amor que se findou
E, pegava o paletó, e com ele me agasalhava e beijava o cravo na lapela.


O terceiro destino foi quando a "foice" impiedosa e traiçoeira da morte
Veio cobrar a minha presença no reino das almas não paralelas.
Senil, cabelos alvos como as eternas neves do monte "Kilimanjaro",
Me vi, pouco a pouco definhar, e junto, murchar, o cravo na lapela.

No último estertor da agonia da morte que se fez anunciar sobranceira
Balbuciei aos meus filhos o último desejo: para eles, uma balela.
Mas, para mim, era a consagração de uma flor: eterna companheira,
E, disse: Filhos, me enterrem, com o paletó com o cravo na lapela.




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