quarta-feira, 24 de agosto de 2016

O CAMAFEU DE PRATA

Era impossível não notar o reluzente camafeu de prata
Adornando o colo alvo riscado por veias finas, azuladas.
Ficava à mostra como um troféu exposto em rico museu:
Imponente, altivo e feroz, como o Minotauro de Teseu.

Ela sempre o trazia, indiferente se era vivo, ou, inerte,
No colo arfante; a sua morada, o estojo de puro cerne.
Ali o pequeno lagarto reinava a despeito do meu ódio.
Sim, ódio, pela maneira como se portava no mais alto pódio.

Tinha os olhos formados por dois rubis flamejantes e rublos;
As unhas, feitas do mais duro alabastro e afiadas com esmero;
A boca, trazia enfieirado, dentes finos, alvos e cortantes
E, por fim, tinha o aspecto sombrio de uma fera-amante.

Uma noite, embriagado de absinto e de um desejo insaciável,
Colei os lábios no pescoço macio num longo beijo afável.
Oh, maldito camafeu que me atacou com suas armas letais,
Mordendo-me; lanhando-me e causando-me feridas mortais.

Agonizante, ainda tive forças para num débil gesto brusco,
Arrancar, dela, o objeto assassino, ciumento e possesso.
Num átimo, a bela mulher, se apossou do camafeu que ria
E, o guardou dentre os seios túmidos; agora, joia fria.

O tempo passou e nunca mais vi a mulher do lagarto-rei,
Nem mesmo, pelas andanças que por "Coisas da Vida", andei.
Só me dei conta, hoje, ao ter os cabelos encanecidos
Do perigo que passei ao enfrentar o CAMAFEU assassino.


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