O Pirilampo passeava pela floresta sem medo de nada. Tinha no escuro o seu mundo, já que, para ele, a luminosidade é inato. Seguindo-o, eu ia, sem medo de tropeçar ou de me deparar com um carrascal de cipós espinhentos. De quando em quando, um curiango mais atrevido, voava sobre minha cabeça e me assustava, mas, nada que me fizesse desistir de seguir em frente. Mesmo quando uma coruja sotuerna piou desconsoladamente no galho mais alto de um Jatobá, eu abrandei os passos. Qual nada, seguia indômito atrás do Pirilampo floresta adentro à procura do que sabia que não ia encontrar, mas, aos trancos e barrancos, seguia. O que me fazia não desistir era a constãncia da lanterna viva que me precedia. Nada era capaz de fazê-lo titubear; nada era capaz de fazê-lo um caminhante trôpego, e, se ele, apenas um inseto enfrentava com galhardia a tétrica escuridão da floresta, quem diria eu, um homem vencedor nas lides do dia a dia, embora, um pouco desgastado pela desilusão de ser defenestrado sem mais nem menos pela princesa do bosque florido dos meus sentimentos. Mas, isto não vem ao caso agora. Agora o que importa é seguir; é atravessar a mata.antes que o sol apareça com sua enorme preguiça nestes dias frios de outono. E, por que devo atravessar a mata na calada da noite? Talvez, quem sabe, é porque trago em minhas mãos um horrível sapo que poderá um dia se transformar em uma princesa?, ou, então, o medo de dar de cara com a "mula-sem-cabeça?", ou com o astuto Saci pererê? Sei lá. A única certeza que tenho é que devo seguir ferrenhamente o Pirilampo por mim escolhido para me guiar dentre os troncos enormes das árvores que dão abrigo aos Pirilampos. A madrugada chegou e, com ela a luz embaçada pela neblina que pairava no ar. Eu, estava cego desde que um dia eu deixer de ver. O Pirilampo ficou cego com a luz e procurou abrigo em um dos meus olhos (para ser mais preciso o direito). De imediato senti o inseto se amoldar na cavidade oca do que antes tinha vida. Num átimo de segundo vi! Vi as folhas verdejantes; vi o arco-íris, vi uma borboleta; vi pássaros e o mais importante; vi, o quanto eu estava ferido; lanhado pelos espinhos e, vi, a minha imagem refletida num espelho de água. Hoje, sou infinitamente feliz por ter um olho que me faz ver o quanto a vida é bela. Se tive problemas com o novo olho? Não sei dizer se é problema ter que sair toda noite para que o meu olho-Pirilampo passei pela noite e ame as suas preferidas Pirilampas.
É muito bom deixar de ser cego. Uma noite em que passeava com o meu inseto-olho num breu desmedido de uma noite tenebrosa compreendi que ele, o fez, por mim, quando saiu da noite e enfrentou a claridade da madrugada.
Estou tão feliz que até me esqueci da mulher que me fez cego.
domingo, 26 de julho de 2015
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