domingo, 10 de janeiro de 2016

A GOIABA BRANCA

Sempre fui pedinte dos beijos marcados de carmim,
Porém, ela, altiva e indolente, jamais os doou.
Fiz muitas peripécias e artimanhas escusas;sem fim,
Para roubar um que seja, nada mais, que um doce beijo.

Foi tudo em vão e, ela, ria do meu tormento desvairado
Em ter os lábios borrados pelo batom perfumado e grudento.
Tentei de tudo! Até mesmo lhe propus ser seu escravo,
À sua externa disposição e ela negava num arfar sonolento.

Foi então que tive a ideia de lhe dar uma goiaba branca
Uma bem suculenta, sem casca, somente com a polpa: uma isca.
Sem titubear ela abocanhou a fruta com sua boca entreaberta
E com seus lábios sinuosos a marcou deixando a forma distinta,

De dois lábios com pequenas rachaduras que ficaram indeléveis
Na fruta, que, temerosa de ter "bichos", a atirou na sarjeta.
Assim que ela se foi, peguei com amor o fruto inefável
E, o guardei, em uma redoma, para beijá-lo, com frequência.

Durante anos, beijei e beijei a polpa com os lábios desenhados
Na ânsia de que um dia ela, compadecida, me oferecesse o seu beijo.
Diz-se que, quem não tem cachorro, caça com gato. Oh, destino ingrato.
Hoje, eu beijo uma goiaba com bichos e sou feliz: realizo meu desejo

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