quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

O PILÃO DE CABREÚVA


O pilão foi entalhado num tronco de Cabreúva
Que se partiu ao receber uma descarga elétrica.
No chão, sem vida, foi esculpido entre sol e chuva,
Por mãos de artista, sensíveis, porém, férreas.

Durante um certo tempo foi ferido por ferramentas
Que faziam de seu cerne brotar a resina perfumada.
Às vezes o tronco gemia açoitado pelas tormentas;
Às vezes o lenho ferido, chorava nas machadadas.

Por fim, pronto o objeto, foi levado para a tapera,
Onde uma negra luzidia o esperava para socar o café.
O negro que o talhou, o derribou na suja e dura terra,
Como se ele fosse uma fera e, disse, à Negra: " Inté!".

Cabisbaixa a formosa mulher desviou o olhar malicioso,
Do corpo viril do homem que por ela muito se apaixonou,
E, entredentes, lábios fechados respondeu, num muxoxo:
- Inté!, e se recolheu para dormir e, muito, sonhou.

Pela tarde afora só se ouvia o socar da mão do pilão:
UM som forte, seco, que remedava o ronco de uma onça.
Para o negro era apenas o som débil do pulsar de um coração,
Saído do peito forte e sedutor da querida e sonhada moça.

Anos se passaram, e o pilão trazia um rachado, uma cicatriz
Pelo tanto socar em suas entranhas de lenho enrijecido.
Também o negro trazia o seu coração empedernido e infeliz,
Pelo tanto sonhar por uma negra que não viveu o seu destino.


Uma tarde de vento outonal onde as folhas caíam pela campina,
Fui, conferir a lenda de uma cruz de Cabreúva, no cemitério
Do povoado, onde moravam os negros do pilão e da tapera extinta.
Ao chegar li no lenho a inscrição:" Um pilão e, dois amores, eternos".

Assim, fiquei sabendo de que os negros concretizaram seus anseios
Casando-se em uma cerimônia simples num dia de sol e chuva.
A tapera que antes não tinha adorno, passou a expor o belo esteio,
Nada mais, nada menos, que o objeto do enlace: O PILÃO DE CABREÚVA!










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