sexta-feira, 18 de março de 2016

A FORMIGA

Não era uma tarde cinzenta. O sol teimava em aparecer dentre as nuvens que começavam a se tornar escuras, anunciando para logo mais uma tempestade. Sentado no topo da colina eu me embevecia com a paisagem deslumbrante quer se descortinava à frente dos meus olhos. Rios, cascatas, árvores frondosas, relva exuberante, pássaros de cantos maviosos, pequenos roedores e uma infinidade de insetos se apresentavam como atores de primeira grandeza e, tudo para me fazer feliz.
Entorpecido com o magistral espetáculo resolvi deitar-me na relva verdejante para melhor desfrutar do raro momento de esplendor incomensurável.
E, assim o fiz.
Por muito tempo permaneci em um estado de êxtase que me levou para o paraíso. Creio que naquele momento eu experimentava a mesma sensação que Adão experimentou ao adentrar no paraíso criado por Deus.
Tudo corria maravilhosamente bem, até que...
Até que, uma formiga não muito grande e nem muito pequena escalou meu peito e se posicionou frontalmente aos meus olhos. No momento, não lhe dei a mínima atenção e, continuei, impávido a me deliciar com a soberba paisagem, acompanhada de um silêncio absurdamente alto.
Porém, pouco a pouco ela foi galgando o meu pescoço até roçar as minhas pálpebras enlanguecidas. Tomado de preguiça descomunal, consegui, com muito esforço agitar a mão e jogá-la em meu peito. Pouco tempo se passou e ela se posicionou novamente no lugar que mais lhe interessava: Frente aos meus olhos.
Sentindo que a intrusa não iria me deixar em paz, resolvi encará-la como inimiga e, assim, o procedi: Com um piparote a atirei na grama e, logo em seguida fechei os olhos para o meu deleite.
Oh, ledo engano! Quando achava que a mesma não iria mais me importunar , eis que, de um salto gracioso, ela se prendeu em meu nariz e então ela me falou ( ou penso ouvir que ela me falou), a seguinte frase:
_ Levante-se idiota, pois, você está deitado sobre dezenas de minhas irmãs!
Atônito, levantei-me agoniado e olhando para as folhas das gramíneas amassadas vislumbrei várias formigas em estado agonizante. Num impulso impensado debrucei-me até elas e as segurei em minha palma de mão, quando então, elas sorriram para mim, num gesto eloquente de agradecimento.
Tudo durou alguns segundos, pois, logo em seguida um aguaceiro desabou sobre nós e, a enxurrada de água fria levou as formigas para outras plagas e, eu, me embarafustei sob um arbusto e, cocei os olhos, procurando entender o que se passou.
Foi tudo realidade ou, apenas, sonhei?
Ah, mais tarde, no aconchego da banheira ao me lavar vi algumas nódoas no meu peito que ardiam desmesuradamente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário