quarta-feira, 30 de março de 2016

VELÓRIO & VELÓRIO

Está aí um assunto que merece um pouco de reflexão. Por mais comum que seja participar de um velório como observador e, não como, ator principal, fica muitas considerações para serem discutidas, como por exemplo:
1. Os velórios são sempre iguais?
2. Os defuntos se parecem quando estão repousando na urna mortuária?
3. Os frequentadores assíduos de velórios denotam preferência por este ou aquele ritual funéreo?
4 A recepção, ou melhor, o cerimonial difere de um para outro?
5. As emoções tanto dos familiares quanto dos "amigos" são de igual intensidade, não importando a classe social do moribundo?
6. A doença que vitimou o defunto(a)influencia a permanência dos planteadores por mais tempo?

Enfim, pelo que se pode ver, um velório nunca vai ser igual ao outro. Eu tenho um compadre, o Zeca vela, que é frequentador contumaz de velórios e, após a urna ser fechada e o féretro sair da sala, ele anota tudo em um diário que carrega consigo, denominado: Diário velórico (sempre tive dúvidas se existe esta palavra). Uma tarde em que estávamos bebericando umas pingas com mortadela, ele todo eufórico disse que tinha acabado de sair de um velório de primeira grandeza. Espantado, mordi um naco daão guloseima e lhe perguntei à queima-roupa:
_ Zeca, existe diferenças entre velórios?
Sem deixar o copo na mesa foi aos trancos e barrancos me elencando uma meia dúzia de velórios, que me fez, se não doutor em coisas do além, pelo menos um professor de diploma na mão.
Após uma chupada no molar esquerdo ele começou:
_ Velório pra ser bom é necessa´rio que o defunto tenha morrido de muitos males...
_ Como assim, perguntei?
_ Ora, continuou o entendido em ritual funéreo, - Se o defunto morreu de infarto fulminante, o velório perde a graça...
_ Ainda não entendi.
_ Veja só, você chega lá pelas 10 horas da noite e após dar uma olhada no furibundo, vai dar os pêsames para o familiar mais íntimo e, então pergunta: Do que ele morreu? E, a resposta é rápida: MORREU DE INFARTO FULMINANTE. Neste exato instante acabou a conversa e o resto da noite é uma monotonia dos infernos. Já, se responde que ele levou uma martelada no dedão do pé; que virou uma ferida que necrosou; que cortou o pé e, vai subindo pelo corpo descrevendo dezenas de males, até chegar no desenlace final, já se passou a noite toda. Aí, sim, dá gosto de ficar sentado na cadeira ouvindo e saboreando os pesares do infeliz, acompanhado de dezenas de copinhos de café com bolacha.
_ Credo, quem aguenta tanta desgraça?
_ Quem gosta, como eu, ora bolas.
Então me diga, existe diferença entre velórios?
_ Claro, respondeu, entusiasmado para dissertar sobre os ritos funéreos. E, continuou _ Velório de pobre é uma chatice. Geralmente as mulheres choram com estardalhaço; usam lenço de papel higiênico e assoam o nariz com estrondo. Alta madrugada e você fica sozinho,; uns dormem, outros vão para o bar tomar pinga. O café servido é frio e acompanhado de bolachas maizena...É uma tragédia. Já velório de rico é chic... Tem sanduíches, salgadinhos, refrescos etc. Quando alguém chora é com classe e, as madames usam lenços perfumados...É outra coisa.
Confesso que após algumas digressões pelo compadre fiquei um pouco assustado e à noite, demorei para pegar no sono, fazendo planos para o meu velório. Depois de horas de insônia me fiz a seguinte pergunta: Será que o compadre Zeca vela vai falar mal do meu velório?
Quem viver, verá! e, poderá me contar quando nos cruzarmos em outra vida melhor.
Que assim, seja. Amém!

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