sexta-feira, 25 de março de 2016

A VITROLA

Esquecida num canto da sala escura e sombria
Ficava a vitrola; ignorada, muda e poeirenta.
Sobre ela um bibelô imitando uma bailarina
Vertia lágrimas sujas... águas barrentas.

Tanto a vitrola quanto o inerte bibelô jaziam
Por anos a fio, sem jamais serem lembrados.
Tiveram sim, sua época áurea em que viviam
A alegrar olhos jovens de dois enamorados.

Muitas vezes dançavam ao som de discos de boleros,
Beijando-se na magia das vozes cálidas e maviosas.
Ora ou outra olhavam com admiração o bibelô
E, admiravam o móvel de mogno, da bela vitrola.

O tempo passou e, ambos se tornaram obsoletos,
Dois trastes velhos, objetos sem nenhum valor.
Pouco a pouco, desdenhados, se viram carcomidos:
A vitrola por traças; o bibelô, pela poeira incolor.

Hoje, os enamorados também se sentem impotentes
Pela ação do tempo: implacável em seu desígnio.
Um casal que não dança mais os ritmos frementes
E, nem mesmo tateia o bibelô que jaz inerte e frio.

A sala vazia de emoções permanece guardiã férrea
Da vitrola e do bibelô: ambos sempre solitários.
O casal de velhos permanece na lembrança eterna,
E, sonham o passado e acariciam os objetos lendários.



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