quinta-feira, 19 de maio de 2016

O PIANO

Soberbo e imponente como um Príncipe da Pérsia
O piano se fazia visualizar em seu mistério.
Num canto do salão, ele, belo, imperava,
Indiferente aos súditos: o seu séquito.

As teclas de marfim reluziam como estrelas
Incrustadas e refulgentes no manto cerúleo.
Por elas desfilaram mãos ágeis e possessas
No vaivém frenético dos acordes régios.

Por um tempo eu o tive em meu domínio,
Mesmo, escravo, dos meus anseios sem fim.
Para mim, ele se desdobrava, sem martírio,
No majestoso instrumento,como nada, afim.

Porém, um dia, em que deslizava pelas teclas
Meus dedos, já ressequidos, doídos e enregelados,
Notei que ele, chorava, a minha triste derrocada;
A minha senilidade que lhe tirava sons agoniados.

Incapaz de me ter ao seu lado nesta triste condição
Ele, num ato glorioso, se desfez em um monte de pó.
Chorando copiosamente, ali, depositei, o coração,
E, tamborilei no assoalho AVE MARIA e,jazi, SÓ!



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